Aprovação popular da presidente está em declínio e, se continuar esse cenário, o PT vai precisar de palanques fortes nos Estados para reelegê-la, situação que não favorece Antônio Gomide em chapa sol

Dilma Rousseff: assinou resumo sem informações completas, o que levou a Petrobrás a ter prejuízo bilionário | Foto: Ricardo Stuckart Filho/PR
Presidente Dilma Rousseff: reeleição em risco pode fortalecer o nome da oposição que se mostra melhor nas pesquisas | Foto: Euza Fiúza/ABr

A presidente Dilma Rous­seff ainda lidera as pesquisas de opinião sobre a candidatura à Presi­dência. Mas está em viés de queda, como se costuma dizer, graças ao caldo de escândalos mostrados pela imprensa todos os dias. A economia em passos de cágado e a inflação definitivamente instalada pioram o quadro.

O próprio comando petista admite nos bastidores que o segundo turno se desenha cada vez mais real. O sinal amarelo pelos lados do Palácio do Planalto foi ligado. Não foi por outra razão que o criador de Dilma, Lula da Silva, entrou em campo para tentar dar um pouco de luz ao seu poste. Lula foi peremptório ao dizer que Dilma tem de evitar com todas as forças a instalação da CPI da Petrobrás, naquele imbróglio da compra da refinaria de Pasadena a preço hipersupermegafaturado e pagamento de propinas. O temor de Lula tem razão de ser, já que há risco de um novo mensalão ser desencadeado. Se isso acontecer, a reeleição pode ir pro espaço.

Mas, em termos locais, o que isso pode significar? Vai mexer na sucessão estadual? Haveria conexão entre esse momento ruim que Dilma enfrenta e a sucessão em Goiás, onde a oposição está fragmentada neste momento entre três possibilidades: PMDB com Iris Rezende ou Júnior Friboi; PT com Antônio Gomide; e PSB com Vanderlan Cardoso? Os oposicionistas concordam que o ideal seria a união de todos, o que parece impossível.

O PMDB não vai abrir mão da cabeça de chapa, e nem teria sentido fazê-lo, por ser o partido mais estruturado, com os nomes mais fortes: um, Iris, pela história e reconhecimento; outro, Friboi, pela e$trutura. A questão aí é definir qual dos dois. O PT parece ter sido picado pela mosca azul e também não quer arredar pé de ter candidato, apostando em Antônio Gomide, abrindo mão da aliança com o PMDB no primeiro turno.

De saída pode-se dizer que a divisão entre PMDB e PT é muito ruim para Dilma. Ela viria em Goiás para subir em dois palanques? Muito difícil que isso ocorra. Para ela, o ideal é que PT e PMDB se unam logo no primeiro turno, lancem o candidato que tem melhores perspectivas, e assegurem um palanque forte para a reeleição.

Pelas pesquisas, até agora, esse nome é Iris Rezende, o único que chega perto do tucano Marconi Perillo. Ou seja, o viés de queda de Dilma Rousseff favoreceria o grande líder peemedebista como candidato aliado em Goiás. Mas haveria um problema aí. O que se diz à boca miúda é que Lula da Silva em pessoa não quer Iris como candidato da oposição em Goiás. Segundo consta, Lula teria dito que Marconi já decifrou o DNA de Iris, já sabe como derrotar o ex-prefeito. Para os iristas, ainda bem que o ex-metalúrgico é (ainda) dono só do PT.

Essa realidade não é boa para o correligionário da presidente, o ex-prefeito Antônio Gomide, que amarga índices anêmicos nas pesquisas. Pelo que está indicado até o momento, o voo solo de Gomide está comprometido pelo pouco tempo de televisão, já que não terá uma coligação mais robusta. E o anapolino terá dificuldade para montar uma chapa competitiva, entre outros problemas. O que leva à pergunta: qual a capacidade de Gomide transferir votos a Dilma?

Ok, se diz que Goiás representa muito pouco no contexto nacional em termos eleitorais. Afinal, são poucos mais de 4 milhões de eleitores (população de 6,4 milhões), menos de 3% do total de 140 milhões de eleitores brasileiros. Desse ponto de vista, nosso Estado não merece mesmo maior preocupação em eleições para presidente.

Essas considerações fariam muito mais sentido para um candidato presidencial que estivesse muito bem nas pesquisas, com boa margem de diferença para seus adversários. Como foi dito no início deste texto, a realidade mudou — ou está mudando. A última pesquisa CNI/Ibope mostrou que a avaliação positiva do governo Dilma caiu de 43% para 36%. E que o porcentual de entrevistados que consideram o governo regular oscilou de 35% para 36%, enquanto os que o avaliam como ruim ou péssimo subiu de 20% para 27%.

Pesquisa mais recente (dos dias 2 e 3 deste mês), do Datafolha, também não é animadora. Nada menos que 65% dos eleitores esperam alta da inflação. E 63%, acreditam que a presidente fez pelo país menos do que esperavam. No tocante à intenção de voto, o índice de 44% caiu para 38%. A aprovação ao governo (ótimo/bom) caiu de 41% para 36%. A rejeição (ruim/péssimo) subiu de 21% para 25%.

O efeito Petrobrás foi detectado na pesquisa, com 78% respondendo que acreditam que há corrupção na petroleira. O escândalo da aquisição da refinaria de Pasadena era conhecido pela maioria, 57%.

Por tudo isso, com adversários que vão rachar votos com Dilma em São Paulo e Minas Gerais, no caso de Aécio Neves (PSDB), e no Nordeste, no caso de Eduardo Campos (PSB), qualquer tantinho de votos é importante. A maioria — ou uma boa parte — dos 4 milhões de sufrágios goianos pode ser decisiva no cômputo final. A diferença entre vitória e derrota.

O doleiro e o bicheiro
doleiro e bicheiro
Carlinhos Cachoeira e o doleiro Alberto Youssef: suspeitos parceiros

Demorou um tantinho, mas afinal se revelou a conexão entre o doleiro Alberto Youssef e o contraventor Carlinhos Ca­choeira. O “Correio Braziliense” de sexta-feira, 11, revela: no cruzamento de dados com base no relatório da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, há imbricamento entre as duas figuras.

Duas empresas que receberam R$ 49,1 milhões do esquema de corrupção comandado por Cachoeira repassaram recursos a uma consultoria suspeita de ser utilizada por Youssef para pagamento de propinas. Só para lembrar, o Deltaduto de Cachoeira servia para um esquema de financiamento de campanhas políticas.

Para quem estranha essa relação, tem uma explicação simples: são as mesmas pessoas de dentro do governo federal que comandam — ou comandaram — os esquemas de corrupção. Como são as mesmas pessoas, a tendência é buscar os parceiros fora do governo que já estão operando no esquema. Afinal, é gente de confiança. Então, bingo! Cachoeira e Youssef. Têm outros mais, claro.