PT mantém candidatura do corrupto Lula da Silva
27 janeiro 2018 às 10h30

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Só a popularidade do ex-presidente bicondenado pode manter o partido vivo eleitoralmente

O “nós contra eles”, categoria de pensamento instituída pelo Partido dos Trabalhadores na sociedade brasileira, entrou agora em nível paroxístico. O “nós”, no caso, são os petistas, e o “eles” são todos os outros cidadãos que não comungam com as ideias e as práticas do petismo.
O PT entrou, definitivamente, num beco sem saída, após confirmada a condenação do ex-presidente Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com o acréscimo de mais três anos na pena. Seus dirigentes já não sabem — e muitos deles nem querem — admitir que a totalidade da sociedade brasileira não embarcou no conto do nirvana que o partido teria estabelecido no País.
Pelo contrário, a maioria dos brasileiros não acredita no conto e mais que isso, repudia o que o PT fez nos 13 anos de poder, seja pela flagrante incompetência administrativa, principalmente com Dilma Rousseff, seja pela imoralidade e falta de ética estabelecidas no plano institucional.
O partido se desidratou acentuadamente na esteira dos inúmeros casos de corrupção ao quais se viu envolvido como cabeça e/ou coadjuvante desde que assumiu o poder, em 2003. E não se está dizendo que não havia corrupção antes do PT, claro que havia, sempre houve.
Mas a partir do momento em que Lula da Silva subiu a rampa do Palácio do Planalto e recebeu a faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso, a corrupção na política brasileira alçou níveis nunca antes imaginado. Estão aí a confirmar o mensalão e o assalto à Petrobrás que resultaram e estão resultando num punhado de petistas e seus aliados condenados e presos.
O carimbo da corrupção tirou votos do PT nas eleições municipais de 2014, quando a sigla perdeu dezenas de prefeituras. Na Câmara Federal vários deputados bandearam para outros partidos. Em que pese isso, o PT segue sendo uma sigla de peso, basta lembrar que tem a segunda maior bancada na Câmara, com 57 deputados federais.
O medo real dos dirigentes petistas é que esse número caia drasticamente na eleição deste ano. Menos cadeiras na Câmara significa menos empregos para a militância mais graúda, por exemplo. E quanto menos deputados, menos dinheiro público do Fundo Partidário, fonte de sustentação da máquina partidária para toda e qualquer sigla. E tudo isso vale também nos Estados, com as bancadas nas Assembleias Legislativas.
O PT precisa de Lula vivo e pelo menos aparentemente forte, para trazer de volta aquele eleitorado que admira o ex-metalúrgico, tanto pelo que ele representa no imaginário popular — o pobre que chegou lá —, quanto pelo que efetivamente tenha realizado enquanto presidente. Mas boa parte desse eleitorado, diante da cornucópia de escândalos patrocinados pelos governos petistas, migrou para outros partidos e nomes, deixou de acreditar que o PT possa dar algo de positivo ao País.
Petista está inelegível
Confirmada a condenação de Lula, o PT insiste em manter a pré-candidatura dele. Ignorando o que isso significa de conturbação do cenário político em geral. A condenação deixa o petista inelegível, mas recursos podem garantir o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para concorrer este ano.
E logo após o julgamento na quarta-feira, 24, o próprio Lula anunciou, em discurso para sua militância, em São Paulo, que lançaria sua pré-candidatura no dia seguinte. E o fez num tom de claro acirramento dos ânimos. “Eu já nem queria mais fazer política. Eu já tinha sido presidente. Mas parece que tudo que eles [olha o “eles” aí] estão fazendo é para evitar que eu seja candidato. Mas essa provocação é de tal envergadura que me deu uma coceirinha e agora eu quero ser candidato”, disse Lula.
O que é apenas uma ratificação, porque de fato Lula está em pré-campanha desde que sua pupila Dilma Rousseff foi deposta da Presidência da República, há mais de um ano.
O PT precisa manter a pré-candidatura de Lula como forma de seguir vivo como ente político importante no cenário atual. Os 36% que o ex-presidente tem nas pesquisas de intenção de voto são significativos, principalmente se lembrarmos que o segundo lugar, Jair Bolsonaro, tem menos da metade disso.
Não foi por acaso que instantes após o julgamento, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), divulgou uma nota em que chama o julgamento do ex-presidente de farsa. Na nota, ela reafirma a candidatura de Lula e diz que (os petistas) não vão aceitar passivamente que “a democracia e a vontade da maioria sejam mais uma vez desrespeitadas”.
— Se pensam que a história termina com a decisão de hoje, estão muito enganados, porque não nos rendemos diante da injustiça.
Ou seja, petistas consideram injustiça qualquer decisão da Justiça que não seja favorável a eles.
A estratégia neste cenário está clara. Lula e o PT vão explorar ao máximo o discurso (ou a narrativa, como virou moda falar) do que chamam de perseguição política ao seu babalorixá, que estaria configurada numa manobra jurídica com o objetivo de tirá-lo da disputa de outubro. O delírio dessa versão é que o Judiciário brasileiro mancomunou-se para prejudicar o PT, para não deixar Lula ser candidato.
Ignoram os petistas as carradas de provas e evidências de corrupção, de tráfico de influência, de enriquecimento repentino (patrimônio multiplicado 27 vezes desde que assumiu a Presidência e os filhos também enriqueceram) de Lula da Silva no exercício do poder. Mas o discurso de “somos perseguidos” servirá para deixar a militância mobilizada, ativa.
A estratégia é manter a candidatura de Lula até o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impedi-lo de disputar a eleição. Afinal, há regras e leis, incluindo a da Ficha Limpa, que é claríssima na vedação de candidatura de condenado por colegiado, como é o caso de Lula da Silva. Mas, enquanto isso, o partido vai radicalizar o discurso, colocando o ex-presidente como vítima.
Lula é a grande figura do PT. Mais que isso, é o único líder petista de apelo popular nacional. Obviamente, a condenação por corrupção empanou muito desse brilho, por ter mostrado a verdadeira dimensão de ídolo de pés de barro que ele é, no tocante a moralidade. Mas o partido precisa de manter a chama acesa.
Há um substrato da sociedade que manifesta repúdio à corrupção, até por ver que a Lava Jato está revelando irregularidades e punindo os malfeitores, muitos deles já condenados e cumprindo pena. Esse repúdio, como já foi dito, prejudicou o PT na eleição de 2014. A questão, agora, é saber o tamanho do impacto que esse sentimento do eleitor vai impor ao PT na eleição de 2018.
Plano B

Os dirigentes petistas sabem que as chances de candidatura de Lula da Silva são mínimas. A pré-candidatura do ex-presidente persiste, mas faz parte de uma estratégia, e o partido já definiu um nome alternativo: Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo — cogitou-se também em Jaques Wagner, mas este prefere disputar cargo legislativo na Bahia, porque teme ficar sem mandato, já que também está enrolado na operação Lava Jato.
E a estratégia para levar Haddad ao segundo turno foi traçada na quinta-feira, 25, no encontro do partido em São Paulo. “O que vai acontecer com Haddad é a sutileza da aparição. Ele sempre estará ao lado de Lula no palanque. O ex-presidente já o colocou como coordenador do programa de governo dele e vem focando os seus discursos na educação justamente para começar a apresentar Haddad ao eleitor”, revelou um petista, conforme reportagem do blogueiro Gerson Camarotti, publicada na quinta-feira.
Aí, quando Lula não puder mais fazer campanha por ser ficha suja, ele apontará o dedo para o poste, digo, Fernando Haddad, dizendo aos petistas: “Esse é o meu candidato”.
Foi mais ou menos isso que Lula fez com Dilma Rousseff e o final da história todos sabem.