De olho na campanha do ano que vem, tucanos exercitam engenharia política para desembarque do governo Temer

Ministro Aloysio Nunes Ferreira: estratégia para desembarque suave do governo Temer| Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O PSDB se vê enredado na sucessão de seu comando, com o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o senador cearense Tasso Jereissati na disputa. Marconi pretende acelerar sua campanha nesta semana, conforme divulgado pela imprensa. Vai visitar bancadas e lideranças nos Estados.

Com uma divisão no partido sobre sair ou não do governo Temer, a disputa pela presidência dos tucanos pode aprofundar a ruptura. Por isso mesmo, Marconi admite a formação de uma chapa única para o diretório nacional, que depois escolheria o presidente do partido. Seria uma forma de serenar os ânimos enquanto se ganha tempo. Uma maneira bem tucana de agir, por sinal.

Mas o fato é que os tucanos vivem o drama de pesar os prós e os contras de continuar no governo de Michel Temer. Os movimentos que se fazem agora já balizam a campanha à Presidência da República no ano que vem. O PSDB quer garantir a aliança com o PMDB, um partido grande, mas sem candidato para a disputa e que a cada eleição renova o carimbo de aliado de quem estiver com mais chance de vitória. Depois, se outro partido vencer, não tem problema, o PMDB adere.

De fato, há hoje dois PSDBs, o governista e os que querem sair do governo. Aliás, a saída já é certa, o timing é que está em dúvida: sair agora, já, ou esticar um pouco mais ou mesmo até o limite da decência e da conveniência política?

Reportagem do “Estadão” de sexta-feira, 17, narra o drama tucano. Os tucanos da “ala Jaburu” –composta por frequentadores da residência oficial do presidente Michel Temer– combinaram com o Palácio do Planalto o script do desembarque. A jogada foi articulada para diluir a saída do PSDB da aliança e não parecer que o governo está a reboque dos tucanos.

Auxiliares próximos de Temer afirmam que, dependendo da forma como o PSDB sair, fica aberta a porta para uma dobradinha em 2018. Mas há um problema: eles não sabem qual PSDB sobreviverá da convenção de 9 de dezembro.

“Temer não será o divisor de águas na eleição de 2018. Não haverá uma disputa nem um plebiscito entre os que são a favor ou contra Temer”, disse ao jornal o ministro tucano das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.

Conforme Aloysio, há tucanos com medo de embarcar em teses impopulares patrocinadas pelo governo e sofrer eleitoralmente. “No pretexto de defender uma candidatura presidencial do PSDB, a tese do desembarque passou a ser um escudo para ocultar a posição de ruptura daqueles que não querem votar a reforma da Previdência.”

Aloysio apresentou a Temer a ideia de renovar o ministério no mês que vem, substituindo os nomes que, a exemplo dele, estão dispostos a disputar mandato — ele será candidato à reeleição ao Senado.

A estratégia apresentada por Aloysio Nunes Ferreira condiciona a manutenção dos aliados no governo à aprovação da reforma da Previdência na Câmara, além de não forçar o Planalto a uma posição de confronto com os tucanos. Feita a combinação, o então ministro das Cidades, Bruno Araújo (PE), saiu na frente e na segunda-feira entregou uma das mais cobiçadas cadeiras da Esplanada.

Conforme o jornal, o nome mais cotado para o lugar de Bruno Araújo, até agora, é o do presidente da Caixa, Gilberto Occhi, indicado pelo PP. Na sexta-feira, outro nome surgiu nos bastidores: o do deputado federal goiano Alexandre Baldy, que está em contencioso com o Podemos e poderia ingressar no Progressistas (antigo PP) para, de cara, assumir o ministério.

O próprio Aloysio Nunes já disse que também deixaria o cargo após a convenção do PSDB. Os outros dois ministros tucanos que sairão são os baianos Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

Temer percebeu que a reforma ministerial pode criar mais problemas que soluções. Ele recuou na decisão de pedir para que todos os candidatos abrissem mão de suas pastas em dezembro. Agora, a reforma ministerial será feita em duas etapas, uma até 20 de dezembro e outra no fim de março ou começo de abril de 2018, quando quem vai disputar as eleições precisa se desincompatibilizar. Dos 28 ministros, pelo menos 17 vão concorrer no ano que vem.

Marconi
Pesou no recuou do Planalto a decisão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de destituir seu colega Tasso Jereissati (CE) do comando do partido, substituindo-o pelo ex-governador Alberto Goldman. No diagnóstico dos tucanos da “ala Jaburu”, Tasso agia para ser candidato à sucessão de Temer e era preciso “cortar as suas asas”.

Anota o jornal: “Nesse jogo, o Planalto apoia o governador Marconi Perillo (GO), que vai disputar com Tasso a presidência do PSDB. Em conversas reservadas, auxiliares de Temer dizem que, se Tasso vencer esse embate, não haverá espaço para uma parceria do PMDB com os tucanos, em 2018. Apesar do racha escancarado pelo PSDB, o governo espera uma ‘separação amigável’, e não um divórcio litigioso.”