Propina de Belo Monte: Delfim ficou com R$ 15 milhões; PT e PMDB dividiram R$ 160 milhões
10 março 2018 às 11h18
COMPARTILHAR
Esquema em leilão da usina se deu no segundo governo de Lula da Silva; economista era conselheiro do petismo e sempre defendeu os governos de Lula e Dilma
As redes sociais são o novo altar de sacrifício ou de exaltação de reputações, de acordo com os interesses/ideologias. Na sexta-feira, 9, a imprensa foi inundada com a notícia de que o ex-deputado Delfim Netto recebeu uma propina de R$ 15 milhões o processo de leilão para a construção da usina de Belo Monte, em mais um ramo de investigação da operação Lava Jato.
Como Delfim é ex-ministro da ditadura militar, foi o que bastou para uma legião de petistas inundarem as redes sociais dizendo que o flagra ao homem é a prova de que os governos militares também foram corruptos. Claro que nos governos militares também rolou corrupção.
Mas esse pessoal nem se deu ao trabalho de “raciocinar” que a obra em questão é dos governos petistas, notadamente do “dono” do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que mandou e desmandou no País de 2003 a 2011 — e continuou mandando muito nos cinco anos de sua pupila Dilma Rousseff, até que esta fosse defenestrada do poder por crimes fiscais e incompetência.
Conforme reportagem do portal UOL, o ex-ministro Antonio Palocci (ex-PT) era o “porta-voz do governo” para direcionar pedidos de propina às empreiteiras do consórcio Norte Energia durante a construção da hidrelétrica de Belo Monte (considerada a terceira maior do mundo), no Pará, segundo a força-tarefa da Lava Jato.
A investigação está baseada em indícios de que o consórcio de empreiteiras que venceu a leilão para construir a usina foi favorecido por agentes do governo federal. Como se sabe, o leilão ocorreu em 2010, durante o governo de Lula. “O governo federal, ao convidar empresas para participar do empreendimento, solicitou, por intermédio de Antonio Palocci, propina para o PT e para o MDB”, disse o procurador Athayde Ribeiro Costa em entrevista coletiva na sexta-feira.
A investigação identificou o pagamento de R$ 135 milhões em propinas, sendo R$ 60 milhões para cada um dos partidos e outros R$ 15 milhões para Antônio Delfim Netto. “…O valor da propina seria de 1% do contrato, sendo que 45% disso ia para o PT, 45% para o PMDB, atualmente MDB, e 10% para o ex-ministro Delfim Netto”, afirmou Athayde.
Aos 89 anos, o ex-ministro e ex-deputado federal foi o principal alvo da 49ª fase da Lava Jato, batizada de “Buona Fortuna”, deflagrada na sexta. A residência dele, em São Paulo, foi um dos endereços envolvidos nos dez mandados de busca e apreensão, expedidos pelo juiz federal Sergio Moro. Um sobrinho do ex-ministro também foi alvo da ação.
Bem, há surpresa aí?
Delfim Netto era aliado do petismo. Em 2007, Lula o nomeou para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), mas o economista já atuava como conselheiro informal do petista e continuou nessa condição com Dilma.
Numa entrevista ao Estadão, em 2008, analisando a economia brasileira no período, a sabujice de Delfim foi ao ponto de ele dizer que Lula era o economista mais inteligente do Brasil (O Lula, com todas as críticas… As pessoas ficam furiosas com o Lula. Porque há, na verdade, um preconceito enorme. A vantagem do Lula é não ter um curso superior. Senão ele estava igualzinho aos de curso superior aí dizendo “tá tudo perdido”!, “estamos perdidos!”, “‘sifu’ para todos nós!”).
Lula, por seu lado, também sempre elogiava o economista.
Muita gente, até petistas mais ortodoxos, estranhava essa estranha simbiose entre o ministro da Fazenda nos tempos de chumbo com os “defensores dos pobres” Lula e Dilma Rousseff. Fica claro agora que a diferença não era tão grande que não pudesse ser encurtada com uma boa conversa afinando intere$$es comuns.
É mais uma denúncia de corrupção para quem já tem um currículo alentado. Em 1983, houve, por exemplo, a acusação de que um de seus auxiliares se beneficiou com a gestão da dívida da Polônia (que quebrou e ficou inadimplente com o Brasil), além de acusações de ele mesmo ter ganhado com a quebra do Montepio Capemi e do conglomerado Coroa-Brastel. Em outro caso, foi acusado de cobrar 10% em todas as negociações feitas com a França no período em que foi embaixador naquele país.
Lembrando que o PT sempre execrou Delfim Netto por conta dessas histórias.
A “honesta” Dilma
Muita gente, inclusive petistas, concede que Dilma Rousseff é de uma incompetência monstruosa. Mas afirma: ela é honesta. Na sexta-feira, o jornalista Mario Cesar Carvalho, da “Folha”, publicou artigo intitulado “Delatores dizem que Dilma atuou na fraude de Belo Monte”, do qual reproduzo os três primeiros parágrafos (vale a leitura da íntegra):
O ex-ministro Delfim Netto é um bagrinho no esquema da usina de Belo Monte, segundo delatores da Operação Lava Jato do porte de Emílio Odebrecht, presidente do conselho da Odebrecht, a maior empreiteira brasileira, e Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, a segunda no ranking.
Os peixes grandes eram Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil à época dos preparativos do leilão de Belo Monte, Erenice Guerra, secretária-executiva dessa pasta, o ex-ministro Antonio Palocci e o senador Edison Lobão (MDB-MA), de acordo com os delatores. O leilão ocorreu em 2010, mas houve uma série de arranjos no ano anterior.
Foi Emílio quem apontou o dedo para Dilma em seu acordo de delação, no qual diz que o governo fraudou a concorrência. Ele afirma que o governo obteve informações confidenciais de preços a partir de estatais como a Eletrobras e Eletronorte e entregou os dados sigilosos para um grupo concorrente, “o que caracterizou claro direcionamento do resultado do leilão por parte do governo, liderado pela então ministra Dilma Rousseff”.