Pragmático, Temer discute nova equipe
16 abril 2016 às 11h20
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A vida continua, com impeachment ou sem. O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, posição que vem se deteriorando nos últimos anos. A paralisia da política não pode travar uma economia de tal magnitude, como vem ocorrendo. Ciente disso, o vice-presidente Michel Temer está conversando sobre esse futuro próximo, mesmo que seja tachado de golpista ou açodado.
Na sexta-feira, 15, o “Correio” trouxe que em conversas realizadas com líderes partidários que têm aderido ao impeachment de Dilma Rousseff, Temer tem garantido que as legendas terão “espaço” num futuro governo.
Segundo relatos, o vice tem feito isso com cautela para não antecipar quais ministérios deverão ser distribuídos entre os partidos que deverão formar um novo governo de “coalizão”.
“Ele já tem um desenho formado na cabeça, mas não está tratando disso. Seria muito precipitado”, afirmou Geddel Vieira Lima, primeiro secretário do PMDB e integrante do grupo mais próximo de Michel Temer.
Peemedebista que frequentam a residência oficial da vice-presidência (Palácio do Jaburu), dizem que têm também orientado Temer a não dar início às negociações antes do desfecho do processo de impeachment no Senado. “Não é momento para tratar do assunto. Começaria a criar vários ruídos entre os partidos que irão compor o governo do Michel”, avaliou um integrante da cúpula do PMDB do Senado.
Com isso, o Palácio do Jaburu virou ponto de romaria dos deputados que buscam se “apresentar” e levar uma palavra de apoio ao vice-presidente. Esse movimento aumentou muito diante dos avanços do desembarque do governo das principais legendas da base aliada.
Mas a vida de Michel Temer não deve estar sendo tranquila nesse cenário em que os partidos procuram antecipadamente garantir espaço no futuro governo. O PP foi um dos que correu para Temer. Um dia após anunciar que o partido votaria a favor do impedimento, o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), se reuniu com o vice.
A movimentação do senador pepista tem causado, no entanto, ciúmes no PMDB. “Ele tem tomado café da manhã com a Dilma, almoçado com Temer e jantado com o Renan Calheiros. Três conversas diferentes. Não dá para confiar numa pessoa dessas”, considerou um integrante da cúpula peemedebista.
Representantes de outras legendas da base como o PSD e o PR também têm intensificado o corpo a corpo com Temer. Na quinta-feira, foi a vez do PSC. Segundo o “Correio”, os deputados da legenda, formada em sua maioria por integrantes da bancada evangélica, foram de van à residência oficial do vice para “dar uma palavra de apoio” e fazer uma “oração” pelo peemedebista.
“O PSC já fechou 100% a favor do impeachment. Por isso, fomos cumprimentar o Michel e desejar boa sorte”, afirmou André Moura (SE), líder do PSC. Ele ressaltou que tem frequentado o Palácio ao menos quatro vezes por dia e em todas as ocasiões tem levado novos integrantes da bancada evangélica para apresentá-los a Temer.
Quatro vezes por dia? Pelo jeito, Temer vai precisar mesmo de muito oração com essa turma.
“É um gesto de apoio, de solidariedade. Fizemos uma oração por ele, pelo Brasil”, afirmou o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP). Tanto Moura quanto Nascimento negam que tenha havido qualquer negociação a respeito de espaços para a legenda num futuro governo Temer.
Oposição desde já
Mas nem tudo são flores para o vice-presidente que está em vias de se tornar titular do cargo. O “Correio” reportou que o senador Álvaro Dias (PV-PR), mesmo afirmando que o impeachment é fato consumado, mantém posição de ser contra um eventual governo Temer. O ex-tucano disse que é oposição e não pretende mudar de lado. “Se houver um governo depois da Dilma com o Michel Temer, não muda o governo, muda apenas presidente. E o PMDB é grande parte de tudo o que está acontecendo. Será somente um governo de transição para abrir espaço para a verdadeira mudança que só se dará por meio do voto.”
Se a questão chegar ao Senado, Álvaro Dias afirma que trabalhará para que o processo caminhe o mais rapidamente possível na Casa. Segundo ele, a população já esperou tempo demais e esse desgaste é muito ruim para o país. “Temos que encerrar esse capítulo do calvário o quanto antes.”
Segundo o senador paranaense, apesar de o governo ter uma “tropa de choque” muito atuante no Senado, não há possibilidade de o impedimento ser rejeitado. “As opiniões estão consolidadas. Caminhamos para o impeachment. Um momento histórico. Não é um momento para festejarmos, mas acontece em consequência dos desmandos que lamentavelmente prejudicaram o país e causaram grande indignação.” l