O fator Demóstenes na sucessão em 2016
25 abril 2015 às 12h27
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Ataques mútuos entre o ex e o atual senador podem ter implicação direta tanto na disputa pela Prefeitura de Goiânia quanto em 2018
Há uma pergunta no ar: terá continuidade a briga entre o ex-senador Demóstenes Torres e o senador Ronaldo Caiado (DEM)?
O artigo que Demóstenes fez publicar no jornal “Diário da Manhã” há algumas semanas, atacando Caiado, provocou um terremoto local, com repercussão na imprensa nacional. O artigo adjetivoso, raivoso e longo que teria motivado o parlamentar cassado foi uma entrevista do senador democrata ao painel da Veja, na qual afirma que há uma grande decepção na sua vida e um traidor (Demóstenes Torres).
Demóstenes bateu e Caiado, claro, não deixou barato e respondeu no mesmo tom. E novas acusações e contra-acusações foram produzidas a partir dali. E tome epítetos como bandido, mentiroso, traidor pra um lado, bandido, psicopata, corrupto pra outro. Mas não é das acusações em si que se vai falar, mesmo porque já foram reproduzidas ad nauseam pela imprensa. Além disso, alguém dirá, podem ser falsas — ou verdadeiras, ou mais ou menos, sabe-se lá.
Mas, pergunto de novo: haverá desdobramento dessa briga ou os dois contendores vão deixar pra lá, não se fala mais nisso, não foi bem assim?
O fato é que artigo, resposta e contrarrespostas produziram um efeito imediato: o congelamento — ou pelo menos resfriamento — da aliança tácita entre o PMDB e o DEM, quando Iris Rezende e Ronaldo Caiado pareciam estar em uma autêntica “lua de mel” política. Aqui mesmo nesse espaço o leitor já teve oportunidade de ler sobre o tema. Recordando que Ronaldo Caiado, assim que acabou a eleição do ano passado, em que saiu glorioso como novo senador da República por Goiás, lançou a candidatura de Iris à Prefeitura.
Especula-se que Caiado, que é líder do DEM no Senado, tem vontade de disputar a Presidência da República em 2018, como uma alternativa ao petismo que vigora no País há 13 anos. Se os ventos forem favoráveis até lá, ótimo. Se não, a jogada local com Iris fica como um plano B: demarcar o território como aliado preferencial do PMDB, em continuidade à aliança formada para a eleição estadual no ano passado, quando ele, Caiado, ficou com Iris, diferentemente dos petistas.
Caiado fez uma manobra com muita antecipação, trouxe Iris para perto de si, o que significa a maioria dos peemedebistas goianos, e de certa forma alijou o PT da coligação com o PMDB. Não foi por outra razão que se especulou que o PT goiano tinha envolvimento no episódio das acusações mútuas Demóstenes-Caiado.
Quem pensa isso imagina que o PT tenha poder para influenciar o ex-senador a provocar uma marola gigantesca no sentido de enfraquecer Ronaldo Caiado como aliado do PMDB. O presidente do PT em Goiás, o advogado Ceser Donisete, refutou essas especulações. E nem poderia ser diferente.
Iris vinha demonstrando muito conforto com o fato de ter o senador democrata como aliado forte, o que vai ao encontro de sua pretensão legítima de não perder espaço no PMDB para um grupo que pode engoli-lo se ele descuidar. Esse grupo é o maguitismo, que como o nome indica está sob influência velada e nunca declarada do prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela.
Iris sabe que terá sim de dar o recíproca apoio a Ronaldo Caiado em 2018, quando o líder ruralista, se tudo der certo e não acontecer uma hecatombe até lá, será o candidato de oposição mais viável ao Palácio das Esmeraldas. Caiado apoia Iris em 2016, e Iris apoia Caiado em 2018. Lembrando que nessa altura, o senador poderá até estar filiado ao PMDB. É assim que as coisas estão postas até o momento e o que acontecer de diferente na oposição terá de se sujeitar a isso. Em outras palavras, está inscrita uma equação com poucas variáveis.
Mas eis que surge Demóstenes Torres e seu artigo avassalador arrasa-quarteirão.
O efeito foi imediato. Líderes peemedebistas ficaram na “moita”. Não saíram em defesa aberta a Ronaldo Caiado, embora alguns tenham dito que cabe ao acusado o ônus da prova, uma forma de aliviar um pouco para o lado do senador. Ou seja, Demóstenes tem de provar as acusações feitas ao ex-amigo. Mas admitem que a troca de acusações deixa sim em suspense a integralidade do apoio ao líder ruralista, a depender dos desdobramentos.
Demóstenes chegou a falar que Caiado VAI perder o mandato, assim mesmo, com toda a certeza que a palavra impressa em maiúsculas pode denotar. Disse como quem tem uma — uma não, várias — carta na manga. Está claro que a peemedebezada prefere confiar desconfiando. O seguro morreu de velho e essa turma é toda ela de gente vivida nas lides políticas.
O PMDB tem em Iris Rezende um nome que já foi testado e que desfruta da aprovação da maioria do eleitorado goianiense, o que está expresso nas primeiras pesquisas de intenção de voto. Para um partido que está fora do poder regional há mais de uma década e meia, conquistar a prefeitura mais importante é sempre positivo.
Afinal, quem tem a capital tem um naco e tanto do poder no Estado — orçamento, caneta pra nomear milhares de cabos eleitorais, máquina administrativa na mão, etc. Com isso, continua a ser um player (como virou moda falar) no jogo político, comandando ou pelo menos participando diretamente das coligações e, em caso de sucesso eleitoral, fracionando um pouco o poder de quem está no Executivo estadual.
Para o PMDB, não é hora de colocar essa perspectiva de poder em risco em nome de um apoio que pode vir a ser fonte de desgaste mais na frente. E aqui é bom ressaltar um fato: se a maioria dos peemedebistas, pelo menos aqueles mais ligados a Iris Rezende, nutre aberta simpatia pelo apoio que Ronaldo Caiado já definiu pelo experiente líder do partido, também há aqueles que preferem um nome novo na disputa em 2016.
Seria uma guinada de renovação na sigla, abrindo caminho para que o próprio partido retome o poder em 2018. Para os adeptos da renovação peemedebista, pode ter vindo em boa hora a “queimada” de Caiado causada pelo texto de Demóstenes Torres.
No geral, por enquanto, os peemedebistas aguardam os próximos lances do imbróglio entre os os ex-amigos Demóstenes e Caiado. Ah, sim, também vai influenciar nisso as futuras movimentações de refiliações, fusões e criação de partidos.