Brasileiros devem prestar atenção no que dizem os candidatos, comparar as propostas com as realidades e fazer suas escolhas. Os debates são ótimas oportunidades

O brasileiro já está em clima para as eleições em outubro deste ano. Faltando menos de cinco meses já uma espécie de contagem regressiva para a data que vai definir os rumos da gestão dos estados e do país – além do legislativo estadual e federal. Percebe-se que há uma “ansiedade” pela eleição deste ano. As manifestações de apoio estão mais acaloradas entre eleitores. Há agitação entre os políticos antes mesmo da campanha verdadeiramente dita se iniciar.

Alguns marcos no calendário eleitoral vão marcando o ritmo das campanhas. Houve o momento das filiações, em seguida se iniciou as campanhas partidárias na TV e no rádio. O momento é de articulações para as composições de chapas e alianças partidárias. Logo chegam as convenções. Na sequência há os encontros, os carros de som com jingles, veículos plotados e bandeirolas com rosto de candidatos estampados. Em meio a tudo isso há a divulgação de pesquisas eleitorais, que aquecem e dão artilharia para os embates eleitorais.

Um dos marcos de uma eleição é o debate entre candidatos. Na tradição brasileira, talvez seja esse o momento mais esperado pelos eleitores. O motivo é simples: é através dele que os candidatos conseguem defender suas causas, argumentar sobre suas ideias, apresentar propostas e mostrar soluções para os problemas.

Para além de ver seus candidatos encarando adversários olho no olho, e se posicionando sobre questionamentos quase sempre incômodos, há uma perceptiva que embora nem sempre seja notada, ela está presente. Refiro-me ao fato do debate ser uma das inteligentes de se chegar a uma conclusão.

Ao se discutir ideias, contestar posições e apontar soluções, políticos estão mostrando que há uma forma civilizada de tratar de assuntos relevantes para sociedade. 

Em uma eleição tão polarizada como a deste ano, muitos estavam ansiosos pelo debate, mas acabaram por levar um banho de água fria na última semana. O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta terça-feira, 31,  que os debates entre candidatos à Presidência da República deveriam ter “perguntas pré-acertadas” para “não baixar o nível”. Bolsonaro disse que comparecerá aos debates se chegar ao segundo turno – mas não confirmou participação nos debates a serem realizados no primeiro turno das eleições deste ano. Em 2018, quando foi eleito presidente, ele participou de apenas dois debates.

País atravessa uma das mais severas e longas crises econômicas de sua história, fruto de políticas econômicas equivocadas. Até o momento os pré-candidatos e nem mesmo Jair Bolsonaro apresentou propostas sólidas para recuperação da economia e, principalmente, para o resgate social de pessoas que nos últimos anos ultrapassaram a linha da miséria. 

Já foi dito nesta coluna, apresentado em pesquisas nacionais e pontuado por estudiosos e analistas, que economia e social são os temas que o eleitor quer ver ser tratado nesta campanha. É nesse contexto que cabe ao eleitor buscar informações corretas sobre os candidatos, analisar se as propostas são viáveis. Uma boa oportunidade para analisar as propostas de governo é assistir aos debates promovidos por veículos de comunicação.

Embora na corrida eleitoral se destaquem dois candidatos, como mostram as pesquisas, os debates programados serão decisivos para esclarecer o eleitor para que ele faça uma opção consciente. O número de indecisos ainda é grande, assim como aqueles que ainda declaram intenção de votar em branco ou anular o voto.

Durante esses encontros é possível ao eleitor tirar dúvidas sobre os programas partidários de seus candidatos e até conferir eventuais contradições entre seus próprios projetos. Os debates eleitorais são espaços-chaves das campanhas eleitorais brasileiras. A Lei nº 9.504/97 estabelece condições para a realização de debates na programação normal das emissoras de rádio ou de televisão durante o período eleitoral, visando preservar o princípio da igualdade entre os candidatos. 

Neste cenário, a imprensa livre cumpre seu papel, ao realizar uma espécie de teste de conformidade eleitoral. É dela que se espera saber o que o candidato pretende, quais as suas credenciais técnicas, os seus atributos éticos e, no caso do município, muito menos os seus pendores ideológicos.

O presidente Bolsonaro pode enxergar alguma estratégia em combinar perguntas ou não comparecer aos debates. Mas os eleitores tendem a assimilar de forma diferente. A ausência/presença de um candidato em um debate diz muito sobre ele, mais até do que suas respostas as indagações de adversários /jornalistas. Isso porque o debate tem entre suas finalidades demonstrar quem é o candidato. O voto para o executivo é muito mais para a pessoa do que para a ideologia. Assim, o debate permite enxercar uma nova visão do candidato, principalmente como elas interagem com o pensamento diferente e sua capacidade de raciocínio ao estar sob pressão.