Em 1998, o ex-prefeito Nion Albernaz – já em seu terceiro mandato na Prefeitura – iniciou um projeto de revitalização do Centro da capital, o chamado Plano Goiânia 21. A ideia buscava incentivar atividades culturais na região. Era uma oportunidade para que a marca do tucano fosse além da “cidade das flores”. Mesmo assim, foi dado o primeiro passo ao propor ideias de urbanização que visavam facilitar o tráfego e melhorar o convívio dos moradores locais.

Foi nessa época em que começou a ser discutida a criação de um centro cultural no Teatro Goiânia, que hoje já é realidade com a Vila Cultural Cora Coralina; a reforma do Estádio Olímpico, já concluída. Também se discutiu a reforma da Praça Cívica, com a proibição de uso como estacionamento e o veto à realização de eventos — ideias que nunca “pegaram”. Se propôs também a restauração de vias com monumentos históricos, como a Avenida Goiás, que ainda possui trechos em obras.

Nion, em seu terceiro mandato como prefeito, administrou Goiânia de 1997 a 2001. Em 2000, o Jornal Opção noticiou a vinda de dois arquitetos e de um geógrafo da Universidade Politécnica da Catalunha: Antonio Moro Domingo, Jordi Franquesa i Sanchez e Antonio Lista Martin. O objetivo era que eles ajudassem no projeto de revitalização.

Na reportagem de José Maria e Silva, do final de março de 2000, os especialistas “importados” da Europa já avisaram que o Centro não precisava de revitalização, mas de ordenamento. O trânsito de Goiânia chamou a atenção dos espanhóis. E na época, eles apontaram que o que faltava à nossa capital era mais atenção com o pedestre. “Em Barcelona, apesar do maior número de veículos, o pedestre anda tranquilamente nas ruas”, comparou o arquiteto Jordi.

Na ocasião, Antonio Martin se mostrou espantado com a Avenida Anhanguera: “É um absurdo”, disse à época. Para ele, as defensas que até hoje existem para dividir a linha do ônibus do restante da via não faziam sentido algum. “Defender o pedestre de quem? Da cidade? Elas atacam o pedestre”, comentou.

Centraliza

O Centraliza é o mais novo projeto com o objetivo de requalificar o Centro de Goiânia. Em agosto de 2023, quando o Centraliza era um projeto incipiente, o repórter do Jornal Opção Edson Leite foi às ruas do Centro colher as opiniões daqueles que frequentam o bairro. Mais de 20 anos após o espanto dos espanhóis, o trânsito continua sendo um dos maiores incômodos dos frequentadores do bairro. Os vendedores reclamam que os clientes não têm espaço para estacionar. Os especialistas do Cau, por sua vez, dizem que todas as metrópoles com centros históricos do mundo resolveram o problema restringindo a circulação dos veículos, melhorando o transporte público e privilegiando o pedestre. 

O que o Centraliza propõe para solucionar o problema? Isentar por 15 anos o IPTU para estacionamentos no Centro. Ao privilegiar ainda mais o carro, a ideia vai na direção contrária daquela sugerida pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo e pelos arquitetos e geógrafos espanhóis 23 anos atrás. 

Outra reclamação histórica é a insegurança. Na Entrevista da Semana, o Jornal Opção ouviu o diagnóstico da pré-candidata, delegada e especialista em segurança pública Adriana Accorsi (PT). Ela afirma que a solução passa por por medidas de cuidado da cidade, como iluminação pública e reconstrução das obras abandonadas, que servem de moradia inadequada para sem-teto e furtadores. 

Com um plano para reformar construções e criar estrutura como iluminação histórica, bancos e lixeiras adequadas, o Centraliza pode contribuir nessa área. Até melhorar, entretanto, é esperado que a situação piore enquanto durarem as obras. A infinita construção do BRT, afinal, é considerado pelos moradores como o principal problema do centro. 

O presidente da Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (Acic), Antônio Alves Ferreira Filho, afirmou em 2023: “Tínhamos aqui grandes lojas que hoje não temos mais”, disse. Ele reconhece que a pandemia contribuiu para a crise do comércio, mas destaca que as obras do BRT tiveram maior papel no fechamento de lojas da região. “As obras infindáveis e os fechamentos de ruas sem comunicação prévia prejudicaram absurdamente o Centro. A construção do BRT foi muito mais prejudicial do que a pandemia para nós.”

Entretanto, os transtornos passam e os benefícios ficam. Podemos contar que, uma vez concluídas as obras, o Centraliza vai de fato ter valorizado a paisagem histórica do Centro? Pelo que tudo indica, sim. A relatora do projeto na Câmara, vereadora Sabrina Garcez (Republicanos), afirmou em entrevista ao Jornal Opção que o projeto é diferente de seus antecessores, por não concentrar nas mãos da administração a responsabilidade por reformar os edifícios, oferecendo aos proprietários incentivos financeiros para concluir as obras. 

Sabrina Garcez afirmou: “Em relação aos projetos de requalificação do Centro que já tivemos no passado, considero o Centraliza o mais promissor, porque conta muito mais com a participação dos empreendedores e moradores do bairro do que propriamente do poder público. O Centraliza traz uma proposta arrojada de isenção fiscal e permite uma participação maior da sociedade civil. O grande diferencial é que o Centraliza não é um projeto que depende da vontade do governo municipal de turno.”

Em conclusão, o Centraliza é um projeto mais moderno do que seus antecessores, que pode de fato solucionar demandas antigas do bairro. É um primeiro passo importante para tornar a região que fica abandonada durante as noites em um local cultural, atrativo para turistas e empreendedores. 

Ele possui problemas, como a falta de ousadia para afirmar o óbvio: mais estacionamentos, estreitamento de calçadas e alargamento de vias não são a solução. Entretanto, se encontra em uma etapa crucial de debates. Caso a sociedade exija a valorização daqueles que estão à pé, pode se aproximar do projeto ideal para o Centro de Goiânia. A disposição de andar a pé, entretanto, depende da melhora no transporte público. A qualidade e a pontualidade dos ônibus estão fora do escopo do Centraliza, mas são atualmente a maior âncora que impede a urbanização racional de Goiânia de decolar.