Nem Lula, nem Bolsonaro: o que será que as próximas eleições nos reservam?
15 novembro 2025 às 21h00

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Durante anos, a direita e a esquerda sempre tiveram embates políticos acalorados em todos os pleitos já disputados. Sejam eleições gerais ou municipais, partidos de ambos os lados lançavam seus candidatos para defender suas ideias sobre o que seria melhor para o Brasil ou para a sua cidade. Por um determinado tempo, essa polarização, em nível nacional, era traçada entre PSDB e PT, a rivalidade que, por muitos, era desenhada em rico versus pobre.
Entretanto, sorrateiramente, um outro ator político entrou no jogo e ganhou o seu espaço. Consagrado em 2018, Bolsonaro foi eleito com o seu forte slogan: “Deus, pátria e família” — três pilares que mexem muito com uma pessoa: a religião, o seio familiar e o amor pelo seu país. Com ideias tidas por alguns como “mais radicais”, Bolsonaro foi a “salvação” para aqueles que já desacreditaram no PT devido aos desgastes sofridos pelo partido com tantos escândalos de corrupção. Quem não se lembra do Mensalão, Petrolão, entre outros, após 13 anos no poder, entre Lula 1 e 2 e Dilma Rousseff?
Entretanto, Bolsonaro não soube usar a máquina pública a seu favor e não conseguiu ser reeleito em 2022. Mas ele alcançou o que poucos políticos conseguem: ter um público fiel. Mesmo considerado inelegível por abusos de poder político e condenado por planejar um golpe de Estado, há pessoas que acreditam que ele é o único representante viável da direita brasileira.
Segundo a mais recente pesquisa Quaest, para 15% dos ouvidos, a candidatura e vitória de Bolsonaro é a melhor coisa que pode acontecer no país. Outros 23% acreditam que é melhor Lula continuar no poder. Mas a pesquisa trouxe um dado que chama atenção: 24% acreditam que um nome que não tem ligação nem com um, nem com outro é o melhor para o país. Apesar de o percentual ser pequeno, já que a pesquisa ouviu 2.004 pessoas em um país que teve mais de 155 milhões de eleitores aptos a votar em 2024, é um resultado que pode indicar uma nova rota sendo traçada para pleitos futuros.
Para o cientista político Marcos Marinho, as pessoas da pesquisa têm um perfil de não nutrir paixão exacerbada nem por Lula, nem por Bolsonaro, nem por qualquer outro político, por vários fatores. Esses eleitores, inclusive, são os que têm determinado os resultados nos segundos turnos dos pleitos. “É um pessoal que está vivendo a própria vida, não quer se envolver muito com política porque acha chato. A grande maioria da população não é nem Lula nem Bolsonaro porque, naturalmente, não acompanha a política e não idolatram político algum.”
Ele afirma que a pesquisa mostra ainda que Lula e Bolsonaro estão se tornando nomes saturados perante uma parte da população. “Lula e Bolsonaro são os principais nomes desses dois espectros antagônicos: da direita e extrema-direita, sendo Bolsonaro, e de uma centro-esquerda e esquerda, que é o Lula. Mas a realidade é que ambos são nomes desgastados, com alto índice de rejeição, e isso deixa claro que há espaço para novas pessoas. O problema é que a gente não tem ainda essas figuras com proeminência. Eu entendo que Lula e Bolsonaro já entraram naquele patamar de que são nomes com alto recall, mas não necessariamente são os nomes que as pessoas gostariam de votar.”
Marcos reforça ainda que isso abre espaço para que novos partidos cresçam ou que novos nomes surjam para as próximas eleições como uma terceira via, mas eles precisam trabalhar estratégias para angariar esses eleitores. “Eu entendo que essa pesquisa mostra que os partidos precisam se movimentar, criar novas estratégias. No caso da direita, ficar se garantindo só em cima de Bolsonaro não dá certo. Os partidos têm que começar a perceber que há espaço, mas esse espaço tem que ser conquistado. Ele tem que ser, de fato, ocupado e exercido ali, porque, senão, volta para o senso comum. A população não vai acordar e bater na porta do candidato. São os candidatos e os partidos que devem fazer essa movimentação para se apresentarem à população como algo viável. Esse é o cerne da questão: não adianta só levantar a mão, tem que mostrar que há viabilidade e estrutura para convencer”, pontua.
Há caminho alternativo?
Na visão do cientista político Guilherme Carvalho, não há um caminho alternativo ao bolsonarismo por dentro de uma corrente antissistêmica, como o Partido Missão ou qualquer outro. “Acho que esse não é o ciclo eleitoral para isso. Para a direita, o importante agora é derrotar Lula, e essa não é uma agenda que vai ganhar tanta robustez de partidos alternativos porque o candidato é justamente o Lula. Ele é o único candidato com capacidade viável de manter o projeto de poder da esquerda. Na próxima eleição, não tendo o Lula, já é uma possibilidade para um partido alternativo romper com o bolsonarismo e tentar um caminho por fora”, destaca.
Guilherme aponta que a pesquisa eleitoral mostra como a disputa é aberta e fatores externos e temporais podem refletir na imagem e preferência do público por determinado nome. “É uma disputa muito aberta, o que incentiva ainda mais o processo de tentativa de consolidação de uma única candidatura à direita. Outras candidaturas menores vão se colocar, mas sem aglutinar tantos apoios do mesmo campo ou de campos próximos. A pesquisa mostra que o Lula entrou em empate técnico, por exemplo, com o Tarcísio, e mostra que, em outros cenários, ele ganha de outros adversários. Porém, pesquisa não é preditora de resultado. Pesquisa é retrato de momento. No mês passado, o Lula tinha disparado, tinha caído a rejeição e tinha aumentado a intenção de voto. No entanto, vêm os fatores no Rio, vem a falta de discurso político para a segurança pública e ele volta a decair mais uma vez”, aponta.
Para ele, uma pessoa que fuja do espectro direita ou esquerda não tem ganhado força no processo eleitoral porque depende de se aliar dentro de um deles para criar identificação. “No segundo turno, ele vai ter que escolher um dos dois campos, porque ele não modula disputa. O centro não consegue fabricar um candidato competitivo desde Fernando Henrique Cardoso e, para ser competitivo, ele teve que caminhar para a direita. Esse é o ponto. Sem um grande ator de centro, não há espaço para uma competição que polarize. E, para o centro polarizar, ele precisa ou correr para a esquerda ou à direita. Aí, ele deixa de ser centro”, afirma.
Ambos os cientistas explicam que a polarização é normal em um processo democrático. Entretanto, o que temos presenciado nos últimos tempos é uma radicalização violenta nos dois campos ideológicos, seja de esquerda ou de direita. As pessoas não conseguem aceitar a diferença do outro pelo simples fato de existir. Isso impactou relações familiares, pessoais e até mesmo já culminou em mortes por causa de ideologia política. Talvez seja disso que o eleitor esteja cansado…
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