O goiano Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, é um dos alvos da nova fase da Operação Lava Jato

Delúbio Soares e Silvio Pereira: ex-dirigentes petistas são alvos de investigação de nova fase da Operação Lava Jato | Fotos: Divulgação
Delúbio Soares e Silvio Pereira: ex-dirigentes petistas são alvos de investigação de nova fase da Operação Lava Jato | Fotos: Divulgação

À medida que se aprofunda o trabalho da Polícia Federal e Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, vão se misturando os tentáculos dos escândalos que se tornaram rotina nos últimos 13 anos. Está ficando claro que mensalão e petrolão se enredam no triste roteiro de assalto aos cofres públicos no projeto de poder do PT.

Na sexta-feira, 1º, a Polícia Federal deflagrou a 27ª fase da Operação Lava Jato. O foco principal dessa investigação é um empréstimo fraudulento concedido pelo Banco Schahin, que delatores revelaram que os recursos foram usados para a quitação de dívidas do PT. E para complicar ainda mais a situação do partido, o rastreamento do dinheiro traz de volta o fantasma do ex-prefeito petista de Santo André (SP) Celso Daniel, assassinado em 2002.

Os policiais levaram presos o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira e o empresário Ronan Maria Pinto. O goiano de Buriti Alegre Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e o jornalista Breno Altman foram conduzidos coercitivamente.

O esquema de corrupção investigado pela nova fase da Operação Lava Jato envolvendo o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula da Silva, os ex-dirigentes petistas Silvio Pereira e Delúbio Soares e Ronan Maria Pinto, empresário ligado ao setor de transportes e mídia em Santo André, aconteceu ao mesmo tempo que o mensalão, segundo integrantes da força-tarefa.

Pereira e Ronan foram levados para Curitiba, enquanto Delúbio e o jornalista Breno Altman, diretor editorial do site Opera Mundi, foram conduzidos coercitivamente (quando o investigado é levado para depor e liberado).

Silvio Pereira chegou a ser incluído entre os réus do escândalo do mensalão, mas fez um acordo com a Justiça para realizar serviços à comunidade e não responder ao processo. Já Delúbio foi condenado no mesmo esquema a seis anos e oito meses de prisão por corrupção ativa. Ele estava cumprindo prisão domiciliar.

Chantagem

Em 2012, o publicitário e operador do mensalão Marcos Valério revelou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que Ronan Maria Pinto, empresário ligado a Celso Daniel, estava chantageando o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para não envolver seu nome e o do ex-presidente Lula na morte do prefeito. Segundo os investigadores da Operação Lava Jato, pelo menos metade do empréstimo fictício contraído junto ao Banco Schahin acabou indo para Ronan.

As apurações do megaesquema de corrupção na Petrobrás indicam que José Carlos Bumlai, empresário e amigo do ex-presidente Lula, integrou um esquema de corrupção que envolvia a contratação da Schahin pela Petrobrás para operação do navio sonda Vitoria 10.000. A transação só ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes da Petrobrás e ao PT.

Na mesma engenharia fraudulenta usada no mensalão, o pagamento de dinheiro ilícito foi camuflado a partir da simulação de um empréstimo no valor de 12,17 milhões de reais do Banco Schahin, com a contratação indevida da Schahin pela Petrobrás para operar o navio sonda Vitoria 10.000 e na simulação do pagamento do suposto empréstimo com a entrega inexistente de embriões de gado.

Bumlai admitiu que tomou o empréstimo para repassar os valores ao PT e detalhou que o dinheiro foi pedido pelo ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares.

“A fiar-se no depoimento dos colaboradores e do confesso José Carlos Bumlai, os valores foram pagos a Ronan Maria Pinto por solicitação do Partido dos Trabalhadores”, disse o juiz Sergio Moro no despacho da 27ª fase da Lava Jato.

Segundo consta na decisão de Moro, o pecuarista José Carlos Bumlai afirmou, em delação premiada, que Pinto teria chantageado o PT e pedido os 6 milhões de reais para não contar o que sabia sobre esquema de corrupção local e a relação com o assassinato do ex-prefeito.

“É ainda possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então Prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave”, diz o juiz federal no despacho.

“Se confirmado o depoimento de Marcos Valério, de que os valores lhe foram destinados em extorsão de dirigentes do Partido dos Trabalhadores, a conduta é ainda mais grave, pois, além da ousadia na extorsão de na época autoridades da elevada Administração Pública, o fato contribuiu para a obstrução da Justiça e completa apuração dos crimes havidos no âmbito da Prefeitura de Santo André”, completou Moro na decisão.

A Polícia Federal quer entender agora todos os meandros dessa história. A procuradoria afirma que o dinheiro desse empréstimo ao PT gerou prejuízo para a Petrobrás, já que os valores só foram liberados depois que o Grupo Schahin pagou propina para vencer a concorrência e ser operadora do navio-sonda Vitória 10.000. Apenas este contrato chegou a 1,6 bilhão de dólares.

Empréstimo forjado

Foi feita uma espécie de triangulação para viabilizar o esquema de pagamentos do empréstimo forjado ao PT: o dinheiro saiu de José Carlos Bumlai para o Frigorífico Bertin, que, por sua vez, repassou cerca de 6 milhões de reais a um empresário do Rio de Janeiro.

Em seguida, esse empresário fez transferências diretas para a Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada por Ronan. Outras pessoas físicas e jurídicas indicadas pelo empresário para recebimento de valores, como o jornal Diário do Grande ABC, também foram usadas para camuflar a transação.

Ronan Maria Pinto tem diversos negócios na região do ABC paulista e é apontado pelo Ministério Público como um dos participantes do esquema de corrupção instalado em Santo André durante a administração de Celso Daniel. O nome do empresário voltou à evidência com a delação premiada do ex-diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, que revelou ter Bumlai obtido o empréstimo junto ao Banco Schahin e repassado 6 milhões de reais a Ronan.

O nome da nova fase da Lava Jato, Carbono 14, é uma referência a procedimentos utilizados para a investigação de fatos antigos. As suspeitas envolvem crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

 

Um fila de cadáveres

O texto que segue é do jornalista Reinaldo Azevedo, publicado em seu blog em Veja.com na sexta-feira, 1º. Vale a leitura por ser um apanhado completo dos fatos que cercam a morte de Celso Daniel, que, conforme o juiz federal Ségio Moro, pode ter relação com o esquema de corrupção montado na Prefeitura de Santo André com possível envolvimento de figurões do PT.

A questão de fundo de parte da nova fase da Operação Lava Jato é o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, que foi sequestrado e apareceu morto no dia 18 de janeiro de 2002. Era, então, o coordenador da pré-campanha de Lula à Presidência.

Desde aquele dia, tem-se uma fila imensa de cadáveres e poucas respostas. A tese do Ministério Público é a de que Celso foi vítima de um crime de encomenda, desdobramento de um esquema instalado na própria prefeitura, coordenado por ele, destinado a desviar recursos para o PT. Membro do grupo, Sérgio Sombra, amigo pessoal do prefeito, é acusado de ser o mandante.

Até agora, o único condenado é Marcos Roberto Bispo dos Santos, o Marquinhos. O julgamento aconteceu no Fórum de Itapecerica da Serra. Adriano Marreiro dos Santos, seu advogado, diz que seu cliente confessou sob tortura. O Ministério Público reuniu evidências de que ele dirigiu um dos carros que abalroou a picape em que Celso estava, encomendou o roubo de outro veículo que participou da operação e conduziu a vítima da favela Pantanal, em Diadema, para Juquitiba, onde foi assassinada.

Bruno Daniel, um dos irmãos de Celso, afirma que, no dia da missa de sétimo dia, Gilberto Carvalho confessou que levava dinheiro do esquema montado na prefeitura para a direção do PT. Carvalho lhe teria dito que chegara a entregar R$ 1,2 milhão ao então presidente do partido, José Dirceu. Carvalho e Dirceu negam.

Bruno e sua família chegaram a se exilar na França por causa das ameaças de morte e receberam o estatuto oficial de refugiados. Francisco, o outro irmão, também teve de se mudar de São Paulo e vive recluso. Eles não aceitam a tese de que o irmão foi vítima de crime comum.

O ressentimento de Bruno – ele e a mulher eram militantes do PT – com o partido é grande. Ele acusa os petistas de terem feito pressão para que a morte fosse considerada crime comum. Outro alvo seu é o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, então deputado federal pelo partido.

Greenhalgh acompanhou a necropsia do corpo e assegurou à família que Celso não tinha sido torturado, o que foi desmentido pelo legista Carlos Delmonte Printes em relato feito à família. A tortura é um indício de que os algozes do prefeito queriam algo mais do que sequestrá-lo para obter um resgate, o que nunca foi pedido.

Por que Greenhalgh afirmou uma coisa, e o legista, outra? Difícil saber: no dia 12 de outubro de 2005, Printes foi encontrado morto em seu escritório. A perícia descartou morte natural e não encontrou sinais de violência. A hipótese de envenenamento não se confirmou. Não se sabe até agora o motivo.

Todos os mortos

A lista de mortos ligados ao caso impressiona. Além do próprio Celso, há mais sete. Um é o garçom Antônio Palácio de Oliveira, que serviu o prefeito e Sérgio Sombra no restaurante Rubaiyat em 18 de janeiro de 2002, noite do sequestro. Foi assassinado em fevereiro de 2003. Trazia consigo documentos falsos, com um novo nome. Membros da família disseram que ele havia recebido R$ 60 mil, de fonte desconhecida, em sua conta bancária. O garçom ganhava R$ 400 por mês. De acordo com seus colegas de trabalho, na noite do sequestro do prefeito, ele teria ouvido uma conversa sobre qual teria sido orientado a silenciar.

Quando foi convocado a depor, disse à polícia que tanto Celso como Sombra pareciam tranquilos e que não tinha ouvido nada de estranho. O garçom chegou a ser assunto de um telefonema gravado pela Polícia Federal entre Sombra e o então vereador de Santo André Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT), oito dias depois de o corpo de Celso ter sido encontrado. “Você se lembra se o garçom que te serviu lá no dia do jantar? É o que sempre te servia ou era um cara diferente?”, indagou Klinger. “Era o cara de costume”, respondeu Sombra.

Vinte dias depois da morte de Oliveira, Paulo Henrique Brito, a única testemunha desse assassinato, foi morto no mesmo lugar com um tiro nas costas. Em dezembro de 2003, o agente funerário Iran Moraes Rédua foi assassinado com dois tiros quando estava trabalhando. Rédua foi a primeira pessoa que reconheceu o corpo de Daniel na estrada e chamou a polícia.

Dionízio Severo, detento apontado pelo Ministério Público como o elo entre Sérgio Sombra, acusado de ser o mandante do crime, e a quadrilha que matou o prefeito, foi assassinado na cadeia, na frente de seu advogado. Abriu a fila. Sua morte se deu três meses depois da de Celso e dois dias depois de ter dito que teria informações sobre o episódio. Ele havia sido resgatado do presídio dois dias antes do sequestro. Foi recapturado.

O homem que o abrigou no período em que a operação teria sido organizada, Sérgio Orelha, também foi assassinado. Outro preso, Airton Feitosa, disse que Severo lhe relatou ter conhecimento do esquema para matar Celso e que um “amigo” (de Celso) seria o responsável por atrair o prefeito para uma armadilha.

O investigador do Denarc Otávio Mercier, que ligou para Severo na véspera do sequestro, morreu em troca de tiros com homens que tinham invadido seu apartamento. O último cadáver foi o do legista Carlos Delmonte Printes. Perderam a conta? Então anote aí:

1) Celso Daniel: prefeito. Assassinado em janeiro de 2002.

2) Antônio Palácio de Oliveira: garçom. Assassinado em fevereiro de 2003.

3) Paulo Henrique Brito: testemunha da morte do garçom. Assassinado em março de 2003.

4) Iran Moraes Rédua: reconheceu o corpo de Daniel. Assassinado – dezembro de 2003.

5) Dionízio Severo: suposto elo entre quadrilha e Sombra. Assassinado – abril de 2002.

6) Sérgio Orelha: amigo de Severo. Assassinado em 2002.

7) Otávio Mercier: investigador que ligou para Severo. Morto em julho de 2003.

8) Carlos Delmonte Printes: legista encontrado morto em 12 de outubro de 2005.

 

Roberto Jefferson: “Dilma cai em 6 meses e Lula será condenado na Lava Jato”

Ex-deputado Roberto Jefferson, de volta à cena política: “Lula não vai escapar” | Foto: Marcello Casal Jr./AB
Ex-deputado Roberto Jefferson, de volta à cena política: “Lula não vai escapar” | Foto: Marcello Casal Jr./AB

Eis que volta à cena política um dos personagens mais emblemáticos destes últimos anos em que o País atola na corrupção: o ex-deputado federal Roberto Jefferson. Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, há menos de 15 dias Jefferson obteve perdão da pena e se prepara para reassumir, no próximo dia 14, a presidência do PTB. Ele quer voltar ao comando partidário ainda durante o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), do qual é favorável.

Na semana passada, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Jefferson afirma, em seu costumeiro estilo bonachão e sincero, que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara, é o “bandido” que ele diz gostar mais, pois “foi o adversário mais à altura do Lula”, que “nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele”.

O ex-deputado manifestou ainda sua “preocupação” com a prisão da mulher e filha de Cunha. “São mulheres bonitas, cheirosas”, que vão ser assediadas por companheiras de cela, “vão apanhar na cara”.

Ao ser perguntado se tinha conhecimento das irregularidades na Petrobrás quando atuava no Congresso, ele respondeu que não sabia dos detalhes. A estatal, segundo ele, “sempre foi a empresa elite dos partidos mais poderosos”.

“A estatal é a semente da corrupção no Brasil. Partidos disputam cargos nas estatais para seu financiamento. O que vão assaltar nos seis meses enquanto durar o processo de impeachment é uma loucura. Vai todo mundo querer fazer caixa, porque ela (Dilma) cai em seis meses”, afirmou.

Roberto Jefferson disse que o PTB, por ser muito pequeno, nunca pleiteou alguma diretoria ou gerência importante na Petrobrás. “O PTB teve a presidência da Eletronorte, a diretoria do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e aquela diretoria dos Correios.”

O ex-deputado disse acreditar que Lula será condenado no âmbito da operação Lava Jato. “Penso que Lula não vai escapar. O mensalão parou na antessala dele, na Casa Civil. Mas o petrolão entrou dentro do Palácio (do Planalto). Ou esse (Marcelo) Odebrecht fala ou vai levar 30 anos na cadeia”, afirmou.

“Marcos Valério levou uma martelada de 40 anos. O processo do petrolão é diferente do mensalão. O mensalão surgiu do embate político, da denúncia que fiz. No petrolão não tem nem voz da oposição. A oposição está em silêncio porque muito dos seus estão comprometidos, tem muita gente da oposição enroscada nas empreiteiras”, afirmou.