Membro do centrão ensina Lula a conquistar governabilidade

06 agosto 2023 às 00h01

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Arthur Lira (PP-AL) decidiu não pautar a nova votação do arcabouço fiscal e afirmou que o projeto mais importante para o governo não tem data para andar. Na quinta-feira, 3, o presidente da Câmara garantiu que a indefinição se deve a falta de consenso sobre as mudanças implementadas pelo Senado Federal, e que talvez na semana que vem algo se mova. Talvez.
A incerteza é um ingrediente determinante para que Lira mostre o poder de sua decisão. Anda quando ele quiser. Em coletiva a jornalistas, Lira negou que o calendário para votação da matéria tenha qualquer vinculação com a entrega de cargos na Esplanada dos Ministérios pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na esperada reforma ministerial.
É difícil acreditar na garantia de Lira quando o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confirma quase simultaneamente a chegada de dois integrantes do centrão ao governo. Trata-se do líder do PP na Câmara dos Deputados, André Fufuca (PP-MA), e o deputado federal Sylvio Costa Filho (Republicanos-PE).
“Já tem uma decisão do presidente Lula de trazer esses dois parlamentares, que representam duas bancadas importantes do Congresso. Mas, mais do que elas, podem atrair outros parlamentares, trazê-los para o governo, convidá-los para ocupar postos de ministérios”, declarou Padilha.
Além da conclusão da reforma tributária e do marco fiscal, a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e a conclusão da Lei Orçamentária Anual também está aguardando. A impressão é de que, após a aprovação por maioria na primeira votação da reforma tributária, instaurou-se um clima de otimismo no governo, que acreditou ter boas relações com o Congresso.
É um mau sinal, pois sugere que o governo não compreendeu a nova dinâmica da relação com o Legislativo. Ainda há ilusão com a promessa de se formar uma base, trocada por ministérios? Desde Arthur Lira, as votações têm de ser negociadas caso a caso. Os votos da primeira votação da reforma tributária foram contratados, um parlamentar de cada vez, via emendas. R$ 1,1 bilhão delas apenas no dia da votação.
Quanto tempo durou esse bem estar com o Congresso? Poucos dias. No programa da TV Cultura, Roda Viva, Arthur Lira afirmou que o cargo do ministro Alexandre Padilha tem “prazo de validade”. A cada votação, fufucas terão de avançar para os ministérios e outros bilhões em emendas terão de ser cedidos.
Na entrevista desta semana, o vice-líder da bancada do PP no Congresso, José Nelto, confirmou ao Jornal Opção que o partido quer a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Falou ainda que a legenda não quer uma pasta “só para fazer política no Nordeste” e que não lhe interessam “ministérios sem força política”. A sinceridade é fascinante porque revela o funcionamento da nova dinâmica do Congresso.
José Nelto revelou que os ministérios que o presidente Lula (PT) cede ao centrão importam, sim, mas não por seu número. O PP não tem nenhum mistério, mas entregou 95% de votos favoráveis às reformas defendidas pelo governo. O União Brasil tem três ministérios mas não entrega votos em uma base sólida. Qual a diferença?
O PP não precisa de um ministério se tiver a Funasa, que pode executar emendas parlamentares, da forma como a Codevasf vem fazendo. Compreender isso é fundamental para entender a fome do centrão. Mais importante do que os ministérios são os órgãos que eles comandam. Lula pode liberar bilhões em emendas – o apetite só será saciado se as autarquias que empenham esses recursos estiverem nas mãos certas.