Maior programa de Dilma é a inflação de desemprego em todo o país
22 abril 2016 às 12h03

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O Programa de Aceleração do Desemprego (PED) bate recorde com eliminação de mais de 10 milhões de postos de trabalho

Para quem acha que a crise política é uma fantasia, os efeitos da inoperância de Dilma Rousseff como gestora são perniciosos no mundo real. Em meio à monumental crise política que pode tirar a petista da cadeira de presidente, e como resultado da inação do governo federal nos últimos cinco anos, mais uma péssima notícia para os brasileiros. A população desocupada no País somou 10,4 milhões de pessoas, o maior número desde que a medição começou a ser feita, em 2012.
Dados divulgados na quarta-feira, 20, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o desemprego ficou em 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro. Trata-se do maior índice da série, iniciada em 2012. Pela primeira vez, a taxa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad Contínua) atinge dois dígitos, ficando bem acima do registrado no mesmo período de 2015 (7,4%).
Com 10,4 milhões de brasileiros desocupados — o maior patamar desde o início da Pnad — permite dizer que a ação do governo Dilma Rousseff que é sucesso absoluto é o Programa de Aceleração do Desemprego (PED). O indicador de desemprego mostrou forte alta, principalmente na comparação com o mesmo período de 2015, quando o contingente subiu 40%. Diante do trimestre de setembro a novembro, o avanço foi menor, de 13,8%.
É um cenário terrível para um país emergente das dimensões do Brasil, que precisa criar empregos para um contingente expressivo de jovens que chega ao mercado de trabalho todos os anos. É nesse sentido a declaração do coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, ao G1: “Esse número [10,371 milhões de pessoas desocupadas] é um número recorde, é a maior estimativa já vista na Pnad até hoje. A força de trabalho do Brasil está maior. E está maior porque cresceu o número de desocupados e não porque aumentou o número de ocupados”.
Segundo Azeredo, esse aumento da população desocupada já era esperado, porque há uma questão da sazonalidade [janeiro e fevereiro são meses de dispensa de trabalhadores temporários]. Ele disse que é importante analisar nesse momento o quanto avançou ou quanto caiu em termos de população ocupada. Quantas pessoas perderam emprego em intensidade em relação à série histórica da pesquisa.
Carteira assinada
O coordenador de trabalho e rendimento do IBGE também analisou para o G1 que a população ocupada mostrou queda próximo de 1% nas duas bases de comparação ao chegar a 91,1 milhões. O número de empregos com carteira assinada no setor privado sofreu queda de 1,5% sobre o trimestre de setembro a novembro de 2015 e de 3,8% na comparação com igual trimestre do ano anterior.
Ele lembrou que do final o ano passado para o início deste ano, meio milhão de pessoas deixaram de ter carteira de trabalho, o que é muito negativo, porque perder carteira de trabalho é perder garantia do emprego, contribuição da Previdência, deixar de recolher para fundo de garantia.
O trabalhador perde, lembrou Cimar Azeredo, uma série de benefícios quando o emprego com carteira deixa de existir. “E você vê que o emprego sem carteira também caiu. Então, de certa forma o emprego no país caiu como um todo.”
Os setores que mais cortaram postos de trabalho foram a indústria geral (-5,9%) e o de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-2,5%).
Renda menor
Os números do IBGE mostram que houve queda também no rendimento médio de quem estava trabalhando. Se no período esse valor foi de R$ 1.934, no trimestre de setembro a novembro não variou, mas em relação ao trimestre de dezembro a fevereiro do ano passado, o rendimento caiu 3,9%.
Na comparação com o trimestre de setembro a novembro de 2015, só o rendimento médio do grupo de serviços domésticos teve aumento, de 1,8%. “Esse aumento do rendimento do trabalhador doméstico pode ser em consequência do aumento do salário mínimo”, disse Azeredo.
Na comparação ao mesmo trimestre do ano anterior, o rendimento médio caiu em grupamentos transporte, armazenagem e correio (-6,3%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-5,7%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (7,4%).
A reportagem do G1 mostrou que o número de empregadores também diminuiu. Frente ao trimestre de setembro a novembro, a queda foi de 5,8% e, em relação ao mesmo trimestre de 2015, de 5,4%.
Em tempos de desemprego, a quantidade de trabalhadores por conta própria cresceu 3% na comparação com o período de setembro a novembro de 2015 e 7% diante do mesmo período de 2015.
Arrecadação cai
As notícias da área econômica são cada vez pores, reflexo direto da crise política que passa o País, com a presidente Dilma Rousseff sendo de fato uma ex-presidente. Mais uma dessas péssimas notícias é que a arrecadação de março cai quase 7% e é a pior desde 2010.
Não teria como ser diferente com a economia em recessão. A arrecadação de tributos federais registrou uma nova queda real, desta vez de 6,96% em março ante mesmo mês de 2015, totalizando R$ 95,779 bilhões. No trimestre, o recuo real contra o mesmo período do ano passado foi de 8,19%, somando R$ 313,014 bilhões. Tanto o resultado do mês quanto do trimestre são os piores desde 2010, conforme reportagem do “Valor” no início da semana passada.
Sem correção inflacionária, a receita com impostos e contribuições teve alta de 1,77% no mês e de 1,18% no acumulado do ano. O cenário de crise política com a possibilidade cada vez mais real de impeachment de Dilma piora a perspectiva da arrecadação, associado a dificuldades para cortar gastos, o que pode deteriorar ainda mais as contas públicas.
E se considerar apenas as receitas administradas, o recuo real foi de 6,58% em março e de 7,53% no acumulado do ano. A arrecadação de administradas atingiu R$ 94,536 bilhões no mês passado e R$ 307,343 bilhões no acumulado do ano. Em termos nominais, a alta ficou em 2,19% e 1,89%, respectivamente.
Segundo a publicação, a receita própria de outros órgãos federais foi de R$ 1,242 bilhão no mês passado, queda em termos reais de 29,22% na comparação com o mesmo mês de 2015. Em termos nominais, as receitas próprias de outros órgãos recuaram 22,58% em março, em relação ao mesmo mês de 2015.
Em março, quando o governo encaminhou ao Congresso Nacional um pedido de redução de meta de resultado primário, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já antecipou que a medida era necessária devido à frustração de receitas no primeiro trimestre. A equipe econômica busca na proposta que a atual meta de superávit primário de R$ 24 bilhões seja baixada para R$ 2,8 bilhões. Esse valor poderia ser revertido em um déficit de até R$ 96,65 bilhões, caso sejam utilizados os abatimentos incluídos na mesma proposta.
O jornal lembra que se essa mudança não for aprovada pelo Congresso até 22 de maio, quando o governo terá que editar um novo relatório bimestral de receitas e despesas, um novo contingenciamento precisará ser anunciado, pois na prática o que ainda está em vigor é a meta de primário de R$ 24 bilhões.
Desonerações
O valor de R$ 15,597 bilhões deixou de ser arrecadado pelo governo no primeiro trimestre devido às desonerações promovidas para estimular o crescimento econômico. Esse montante representa queda real de 30,02% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Desse valor que o governo abriu mão no ano, R$ 3,633 bilhões se referem à renúncia de arrecadação gerada pela desoneração da folha de pagamento para vários setores da economia. Apenas no mês passado, o impacto das desonerações na arrecadação foi de R$ 5,199 bilhões, valor 28,93% menor (em termos reais) do que um ano antes.