Iris Rezende terá de se reinventar
07 janeiro 2017 às 11h47

COMPARTILHAR
Goiânia precisa de gestor com visão de modernidade, e por não ter esse perfil, o peemedebista terá de sair de sua zona de conforto obreirista para atender ao anseio dos goianienses

A vontade popular é soberana e ainda bem que é assim. O preceito máximo da democracia é justamente o de que a maioria determina quem comanda o destino da cidade-Estado-País. Por vontade da maioria dos eleitores, de acordo com as regras eleitorais, o peemedebista Iris Rezende foi eleito e já assumiu para exercer seu quarto mandato como prefeito de Goiânia.
Não se pode saber por antecipação como será a gestão de quem está assumindo um cargo executivo. O que se sabe com certeza e que Iris Rezende não era o melhor nome, mas mesmo assim, democraticamente, a maioria dos eleitores goianienses o escolheu. A partir daí, a torcida de todos os moradores, eleitores ou não de Iris, deve ser para que ele acerte. Nosso bem-estar depende disso.
Goiânia é uma metrópole, uma capital jovem, com uma população que beira o 1,5 milhão de moradores, conforme estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — somos o 11º município mais populoso do Brasil. Nesse perfil, o que a cidade precisa é de gestão moderna, em que seus dirigentes sejam antenados com a modernidade, adeptos de conceitos como planejamento estratégico.
E é justamente aí que está o problema. O nosso prefeito — legitimamente eleito, é bom frisar — não tem o perfil do gestor que os goianienses tanto precisam. Iris não é moderno. Iris não é antenado com a modernidade. Iris não gosta de planejamento — aliás, nas poucas vezes em que esse termo aparece em suas falas, é indisfarçável que lhe causa certa irritação.
Depois de eleito e até o momento em que assumiu, não ouvimos nenhuma palavra de Iris sobre temas como modernidade, inovação, tecnologia, informática. E não se está cobrando que o prefeito seja um craque no computador. Mas a verdade é que esses termos são estranhos ao universo mental do nosso alcaide.
Por aí se vê que há um descompasso entre o gestor e a necessidade dos munícipes.
Aliás, desde a campanha, cadê uma nova ideia de Iris para Goiânia? O que ele expressou em relação a isso? A resposta é: nada.
O que se viu, na verdade, foi um empenho ardoroso e total de Iris Rezende em fazer de Andrey Azeredo o presidente da Câmara de Vereadores. Empenho tão forte que chegou ao ponto de vetar, até com certa brutalidade, as pretensões de integrantes de sua base, como Milton Mercez (PRP) e Wellington Peixoto, este do próprio PMDB, que também postulavam o direito de concorrer à presidência da Casa.
Caciquismo
É de perguntar: por que prefeito tem de nomear presidente da Câmara de Vereadores, um poder autônomo que tem entre suas funções justamente a de fiscalizar o Executivo?
O prefeito quis se assegurar que terá na Câmara um presidente que não lhe causará problema?
O episódio indica que Iris Rezende não mudou e vai continuar na velha prática do caciquismo, uma das características mais evidente de atraso político?
Colocado isso, há outra vertente de análise sobre o imediato na administração de Iris Rezende. Trata-se do comparativo que inevitavelmente a população fará em relação à gestão do antecessor, Paulo Garcia. O petista foi nada menos que um desastre para a cidade. Já há algumas semanas antes da virada do ano, a limpeza deixara de ser feita em várias regiões. O grande número de buracos nas ruas também atestou a falência do serviço público municipal em Goiânia.
Em resumo, Paulo Garcia, retomando outros momentos de seu governo, não estava dando conta de fazer o básico, o primário, que são limpeza das ruas e a operação tapa-buracos, isso para não considerar outros itens.
Iris Rezende, um gestor de inequívoca capacidade gerencial, um obreiro, já começou a sanar essas deficiências. É mais do que provável que em três meses esses problemas estejam resolvidos, mudando a cara de Goiânia, devolvendo em muito a satisfação dos goianienses com sua aprazível cidade.
Aliás, mais que desejável, é imprescindível que Iris faça isso mesmo, que retome a normalidade administrativa de Goiânia, e retorne os serviços públicos que a desastrosa gestão petista descurou.
Mas, paradoxalmente, quando Iris “normalizar“ a cidade, o que ele fatalmente fará, até pela reconhecida capacidade de trabalho que tem, haverá um risco político nisso. Ao ver a cidade “normalizada”, muitos goianienses poderão considerar que o peemedebista é um administrador de mão cheia, aquele gestor que nós tanto precisamos.
Mas o fato é que Goiânia quer e precisa de gestão moderna, não só de um gerente capaz de limpar as ruas, fazer tapa-buracos, cuidar da iluminação e coisas assim do dia a dia. Repita-se, isso nada mais é do que o básico. O que precisamos é de administração avançada, que não descuide das tarefas do cotidiano, mas que otimize o atendimento à saúde, que oportunize mais e melhor acesso à educação.
E, ao mesmo tempo, tenha foco no futuro. E foco no futuro é imprimir gestão capaz de dinamizar a economia, de forma a gerar empregos e aumentar a renda dos goianienses. E, novamente, não ouvimos o que Iris pretende fazer nessa área.
Verdade que no programa de governo do peemedebista, havia três tópicos genéricos: criar o Mapa do Emprego; incentivar a qualificação profissional por meio de parcerias com outras entidades; contratar estagiários na prefeitura por meio de um convênio com as universidades.
É pouco, muito pouco para uma cidade do porte de Goiânia.
Tocador de obras
A verdade é que para contemplar o anseio dos goianienses, Iris Rezende terá de se reinventar. Não há mais espaço para um gestor apenas tocador de obras, que faça muito asfalto de baixa qualidade, como o peemedebista fez em seu mandato de 2005 a 2008.
O tradicional Iris Rezende, apegado às velhas práticas políticas, terá de abrir a cabeça e o coração. Ele não poderá, por exemplo, continuar “de mal” do governo estadual, só por ser adversário. Iris terá de aprender com seu correligionário moderno Maguito Vilela, a fazer parcerias adminisatrativas, que são boas para a população.
O decano peemedebista terá de olhar mais longe do que apenas a reeleição ou a influência político-eleitoral mais imediata. Aliás, é justamente isso que diferencia o estadista do populista. O estadista age com foco além do momento, para beneficiar até gerações futuras; o populista, como é o caso de Iris Rezende, toma medidas com visão imediatista, de olho nas vantagens eleitoreiras que pode obter.
Iris Rezende terá de ter imaginação para enxergar as novas gerações, e tomar consciência de que uma de suas missões, certamente a principal delas, será preparar agora as condições para que essas novas gerações assumam o bastão em melhores condições.
E aqui, cabe uma observação final: a equipe que Iris Rezende anunciou até agora, com poucas exceções, não dá aos goianienses motivos para nenhum entusiasmo.
Resta-nos torcer. l