Na última semana, três pessoas foram presas por terem encomendado a morte da vereadora Marielle Franco, seis anos atrás. O caso escancarou a contaminação das polícias do Rio de Janeiro pelo crime organizado. Se o caso não tivesse sido federalizado, permanecendo em investigação pela Polícia Civil do RJ, provavelmente as mortes teriam se juntado à estatísticas de crimes sem solução. Segundo levantamento da cientista política Mariana Carvalho, da Universidade Brown, o Rio é o local onde mais se matam políticos no Brasil: 2,6 mortes por grupo de mil políticos. O crime organizado é suspeito de ter executado 43 políticos no Rio nos últimos 20 anos. 

Segundo Ronnie Lessa, em seu depoimento à PF, o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa teria arquitetado o crime e protegido os reais mandantes porque estava “na mão” dos irmãos Brazão, presos no domingo, 24. Em 2018, a PF recomendou ao comando da intervenção federal sobre a segurança do Rio que não nomeasse Rivaldo Barbosa para o cargo. Quem acabou concluindo a investigação foi a PF.

O que faz a Polícia Federal ser mais eficiente?

Marcela Rodrigues Siqueira Vicente, a primeira mulher a ocupar o cargo de superintendente da Polícia Federal (PF) em Goiás desde 1965, cedeu na última quinta-feira, 28, entrevista exclusiva ao Jornal Opção. Na conversa com os jornalistas, Marcela Vicente, que foi delegada da PF por 14 anos e chegou a chefiar o Núcleo de Inteligência e representar a Interpol em Goiás, explica o que faz da Polícia Federal uma corporação mais eficiente do que a média brasileira. 

Desde 2010 em Goiânia, Marcela Vicente transitou por todas as áreas da Polícia Federal: inteligência, corregedoria, combate a crimes previdenciários, distribuição de pornografia infantil, crimes eleitorais, trabalho escravo, e outras. Quando esteve na Corregedoria, se deparou com uma área muito diferente daquela em que estava acostumada a atuar em seus 14 anos como delegada da PF. 

“Na Polícia Federal, é a Corregedoria que recebe todas as notícias crime. Eu, que gosto muito de operações policiais, encontrei um ambiente nada operacional. Nessa situação, desenvolvi minha tese do meu mestrado”, afirmou Marcela Vicente. Natural de Goiânia, Marcela Vicente é mestre em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Sua tese de mestrado trata das seguintes questões: o que faz uma instituição policial ser eficiente? Quais são as métricas ideais para identificar a corporação que funciona bem? 

A primeira resposta, mais intuitiva, poderia ser o números de mandados cumpridos. Entretanto, Marcela Vicente diz que o número de mandados não indica, necessariamente, eficiência. “Apenas na Corregedoria podemos ver a porção dos inquéritos instaurados que tiveram justa causa para apuração. O simples mandado, quando não dá em nada, viola o direito do outro, que é investigado indevidamente, e movimenta toda a máquina policial”.

Acontece que a resolutividade dos inquéritos é um indicador melhor. A Polícia Federal de Goiás é considerada eficiente por conta das rotinas de trabalho — “É um ambiente em que os policiais conseguem se profundar nas investigações”, diz Marcela Vicente. “Como superintendente, busco diminuir o número de investigações inválidas para poder fazer um trabalho mais profundo, nas operações policiais.”

Como, na PF, as promoções são concedidas interna corporis, o uso da conclusão dos casos como métrica para o sucesso, em vez do simples cumprimento dos mandados, é um importante reforçador para uma polícia eficiente. Outro dos principais fatores que explicam a eficácia da Polícia Federal é a independência política.