Como Rogério Cruz criou problemas para si próprio
10 setembro 2023 às 00h01
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Já há uma semana que o prefeito de Goiânia Rogério Cruz (Republicanos) se prepara para anunciar até 15 alterações no secretariado. O movimento faz parte dos esforços do marqueteiro Jorcelino Braga de viabilizar a candidatura do atual prefeito para o ano que vem. Há, entretanto, muitas pedras no caminho. Braga pressiona pela mudança ao afirmar que, se a reforma administrativa não ocorrer em um mês, ele não tem motivos para continuar na equipe. Vereadores interpretam a afirmação como descrença na capacidade de Rogério Cruz transformar a gestão na reta final de seu mandato.
São especuladas as saídas de Durval Pedroso e Tatiana Lemos, titulares da pasta da Saúde e Políticas para Mulheres respectivamente. Outros nomes que podem deixar a gestão são Diogo Franco (Sedec), Danilo Viana (Esportes), Carlin Café (Regularização Fundiária), Ricardo Fortunato (Relações Institucionais) e Luciano Fernandes (Semad, interino). Fora alterações no Instituto Municipal de Assistência à Saúde do Servidor (Imas) e na Agência Municipal de Turismo (Agetul).
As dificuldades políticas se iniciam pela inabilidade de Rogério Cruz em liderar sua própria equipe. Alguns secretários ameaçados, como Tatiana Lemos, foram colocados em seus cargos há menos de três meses. O Republicanos e o PMB, partidos da base, manifestaram descontentamento com a reforma e pressionam por cargos. Jovair Arantes (Republicanos) da Secretária de Governo (Segov) deve ser substituído pelo ex-vereador (PRTB), que teve a chapa cassada por fraude de gênero. Entretanto, José Firmino, chefe de gabinete do prefeito, continuaria controlando a pasta. Por isso, se sugere na Câmara Municipal que Firmino deveria ser o titular da Segov de fato.
São complicações e detalhes demais para se resolver correndo. Na última semana, Rogério Cruz foi à São Paulo para a 9ª edição do Connected Smart Cities & Mobility, mas, nos bastidores, se diz que a viagem foi também uma justificativa para que o prefeito pudesse articular as mudanças longe da pressão dos vereadores. Na quinta-feira, 7, Rogério Cruz foi questionado sobre a ansiedade dos parlamentares diante da demora para a realização reforma, e respondeu que esta é uma decisão exclusiva do Executivo e que vai sair no momento oportuno. A declaração, que não indica nada, teve o efeito oposto ao pretendido, aumentando a ansiedade.
Complica ainda o fato que, além de manter uma base, Rogério Cruz precisa de uma bandeira. Nomear um indicado político para conquistar apoio é quase mutuamente excludentes com nomear um técnico para realizar um projeto, mas o prefeito precisa de ambos. Rogério Cruz ainda não tem uma obra concreta que possa exibir na campanha de 2024; a população não associa à sua figura uma melhoria sensível em sua vida cotidiana. Jorcelino Braga sugeriu que os mutirões à moda Iris Rezende fossem retomados, por exemplo.
Entretanto, ao trocar secretários, Rogério Cruz age contra a realização dos planos anunciados em campanha. Em 2020, a campanha do falecido Maguito Vilela exaltou o modelo de cidade inteligente, que funcionou bem na vizinha Aparecida de Goiânia, e prometeu algo semelhante na Capital. Para realizar a promessa, seria necessário uma forte Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia. Como está a pasta? Caótica. Já estiveram no comando André Rodrigues Martins, Hemmanoel Feitosa e Silva e Paulo César da Silva (pai do vereador Paulo da Farmácia) – este último pode ser retirado com menos de três meses no cargo.
Ao colocar indicados políticos no comando das pastas, Rogério Cruz criará um novo problema para si mesmo. Bruno Diniz, futuro Segov, e Maria Yvelônia, secretária de Desenvolvimento Humano e Social, pretendem disputar as eleições de 2024 e precisarão se licenciar dos cargos. Quando a ocasião chegar, o prefeito terá de trocar novamente o comando das pastas. Esses secretários provisórios não terão tempo hábil para realizar os projetos de que o prefeito tanto precisa (com o agravante de que Yvelônia é pré-candidata em Valparaíso e, sendo secretária em Goiânia, nem mora na Capital).