Em geral, o eleitor brasileiro percebe uma disputa eleitoral para presidente em um formato que é chamado de triangular, ou seja, três candidatos em uma disputa razoavelmente próxima –  cada um com dois dígitos nas pesquisas. Exemplo da última eleição, em 2018: Jair Bolsonaro (46,03%), Fernando Haddad (29,28%), Ciro Gomes (12,47%). Neste ano o cenário está diferente. Da mesma forma que foram se consolidando as candidaturas, também foi se evidenciando a polarização entre Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Há bons nomes no páreo, como Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Mas a eleição deste ano segue como um segundo capítulo de 2018, em que petistas se julgaram vítimas de um golpe da Operação Lava Jato, que prendeu Lula e o tirou da disputa – que ele liderava nas pesquisas. Assim, outros nomes tiveram dificuldades se se colocarem na disputa e agora não conseguem decolar na conquista da intenção de votos. 

Com a polarização, as eleições deste ano caminham para um desenho bipolar, com os dois líderes nas pesquisas muito à frente dos candidatos do centro. E um dos efeitos desse cenário é a definição do eleitorado de forma antecipada. O que isso quer dizer é que, a menos de 30 dias das eleições, ainda há poucos indecisos para terem seus votos conquistados pelos candidatos. 

A taxa de indecisos da última pesquisa Globo/Ipec sobre a disputa presidencial, divulgada no dia 29 de agosto, ficou em 6% no primeiro turno das eleições deste ano. No segundo turno é de 4%. Neste levantamento, Lula aparece à frente, com 44% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 32%. Na sequência, está Ciro Gomes (PDT), com 7%, e Simone Tebet (MDB), com 3%. Felipe d’Ávila (Novo) tem 1%.Eymael (DC), Léo Péricles (UP), Pablo Marçal (Pros), Roberto Jefferson (PTB), Sofia Manzano (PCB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Vera Lúcia (PSTU) não pontuaram.

Cristalização dos votos fechou as portas para terceira via

Perceba que, no cenário da pesquisa Ipec, caso todos os eleitores que representam os 6% indecisos se decidissem todos por um único candidato, ainda assim seria insuficiente para alterar a ordem entre primeiro e segundo colocado –  aqueles que tem mais de dos dígitos. 

Esse é um efeito claramente da polarização. Essa campanha, que transparece ao eleitor ser bipolar, faz com que o voto seja decidido muito antes, reduzindo as chances de ele mudar de opinião nos últimos dias que antecede o 2 de outubro.

Qualquer analista ou eleitor que se interessa por pesquisas é capaz de avaliar como as projeções de indecisos para este ano está baixa. As razões de fato estão na polaridade e naquilo que ela traz consigo – junto às características de Bolsonaro e Lula. A popularidade dos dois primeiros colocados nas pesquisas foram colocadas em jogo muito antes destas eleições.

Assim como é inédito o baixo percentual de indecisos, é também a primeira vez no Brasil que um presidente enfrenta um ex-presidente nas urnas. Ou seja, fato deles já terem ocupado o cargo e terem seus modelos e atributos já conhecidos também eleva o percentual de eleitores com motivos para se decidirem de forma antecipada. E também é preciso destacar a cristalização da rejeição de cada um, sem caminho viável para a terceira via – aqui me refiro ao antipetismo e ao antibolsonarismo. 

Lula e Bolsonaro são dois candidatos que se mostram ao eleitor como antagônicos. Cada um possui um estilo diferente e se comunica com seu eleitorado ao seu modo, cristalizando a intenção de votos em suas bases. Eles conseguem então garantir a popularidade em determinados grupos – sociais, econômicos e regionais. Um dos efeitos desse cenário é que enquanto um se reafirma frente a um eleitorado, o outro é barrado. 

É preciso registrar que a eleição não está decidida. As pesquisas que apontam baixo número de indecisos, ao perguntar a preferência do eleitor, se antecipam com a expressão: “se as eleições fossem hoje”. Assim, se confirma os resultados como retrato do momento. A campanha, propriamente dita, começou há pouco, e embora seja de “tiro curto”, de apenas 45 dias, ela pode provocar movimentações entre o eleitorado, isso porque há muitas informações que podem mudar a opinião até mesmo daqueles eleitores que se dizem decididos. Há os debates, sabatinas, propaganda no rádio, TV, Internet e ruas. Contudo, os eleitores indecisos são precisamente aqueles menos propensos a sintonizar nos programas e debates eleitorais, o que ajuda a explicar por que os debates normalmente têm pouco efeito sobre as eleições.

Perfil

Pesquisa inédita da Quaest/Genial, divulgada em agosto mostra que entre os indecisos, a maioria é mulher. Segundo o levantamento, 64% dos entrevistados que se disseram indecisos são mulheres, contra 36% de homens. A rejeição do eleitorado feminino é uma questão que preocupa a campanha de Bolsonaro, que tenta reparar a percepção desse público.

Além do eleitorado feminino, Bolsonaro e Lula têm valorizado o voto dos evangélicos, que são 29% dos indecisos. No entanto, a maioria sem voto definido é católica (50%). 17% disseram não ter religião e 3% falaram ter fé diferente do que as apresentadas pela pesquisa.

A maior parte dos indecisos (34%) votaram em Bolsonaro para presidente em 2018. 25% escolheram o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) no último pleito eleitoral para presidente. 

56% dos indecisos disseram que a economia piorou no último ano e 54% apontaram maior dificuldade em pagar as contas nos últimos três meses .42% consideram que o governo Bolsonaro está pior do que o esperado, com 41% dizendo que não está “nem melhor, nem pior” e 13% avaliando como melhor do que a expectativa.