Eleições de 2020 consolidarão os novos grupos de poder em Goiás
29 setembro 2019 às 07h55

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Disputa nos municípios começará a determinar como será a divisão do espólio deixado pelo PSDB depois do ciclo de vinte anos como mandatário no Estado
A partir da próxima sexta-feira, dia 4, começa a contagem regressiva para as eleições municipais de 2020. Restará exatamente um ano para que o eleitor renove seu encontro bianual com as urnas, dessa vez para escolher vereadores e prefeitos dos mais de 5 mil municípios brasileiros – 246 deles em território goiano.
Mais que uma rotina eleitoral, que se repete em intervalo curto demais, em Goiás as eleições serão um marco na formatação dos novos grupos de poder, após o fim de um ciclo de 20 anos em que o PSDB e aliados estiveram comando do Estado. É do resultado municipal que se começa a desenhar o cenário para 2022, quando ocorre a eleição para governador, deputados (estadual e federal), senadores e presidente da República.
Parece assunto distante, mas, da forma como o sistema político funciona no Brasil, não é. Com eleições a cada dois anos, o calendário político-partidário não para, prejudicando, inclusive, a administração pública, pois prefeitos, governadores e presidentes dificilmente deixam de ser contaminados pelas necessidades eleitorais quando têm de decidir administrativamente.
Em Goiás, as peças se movem para ocupar o espólio deixado pelo PSDB. Com o poder gravitacional da caneta, o governador Ronaldo Caiado (DEM) começa a atrair antigos aliados do grupo que orbitava o ex-governador tucano Marconi Perillo. O PTB, por exemplo, está indo para a base do democrata – o que contribuiu para a saída de Jovair Arantes, um marconista histórico, que ironicamente está indo para o MDB, a rigor um dos poucos partidos que se mantiveram na oposição nas últimas duas décadas.
Deputados como Virmondes Cruvinel (Cidadania) e Diego Sorgatto (PSDB) estão votando com o governo na Assembleia Legislativa. Tião Caroço, outro marconista histórico, está em litígio com o partido e declarou que, apesar de não estar na base, mas que não tem motivos para alinhar-se contra o governador. Esses são apenas alguns exemplos.
Caiado disputou a eleição de 2018 com quase nenhum apoio de prefeitos. Como os municípios são altamente dependentes do governo estadual para sobreviver, certamente boa parte daqueles que saírem vitoriosos do pleito de 2020 buscarão alinhamento com o Palácio das Esmeraldas. A reviravolta foi tremenda. Há alguns anos, o DEM, partido do governador, passou por um forte processo de desidratação, a ponto de se cogitar o fim da legenda.
Paralelamente, o MDB ganha musculatura com a chegada de Jovair Arantes, seu filho Henrique Arantes (a confirmar), que é deputado, e seu grupo político. O partido aposta na reeleição de Iris Rezende em Goiânia. O pacote de obras na capital, apesar dos problemas iniciais (com as interrupções no trânsito), tente a influir na decisão do voto, afinal, quem o escolheu, o fez exatamente por essa característica, a de tocador de obras. Na mais remota hipótese – a do prefeito não tentar novo mandato –, Iris seria um fortíssimo cabo eleitoral.
Apesar de não ter sido vitorioso em 2018, Daniel Vilela saiu fortalecido da eleição. O segundo lugar, brigando contra um candidato que desde o início surgiu como favorito e um que tinha a máquina estadual nas mãos, o colocou como uma das peças importantes no jogo. Daniel tem se dedicado a articular o partido no interior, para que seja eleito um número de prefeitos e vereadores que lhe dê sustentação para 2020.
Fora das legendas que polarizaram a disputa política nos últimos anos em Goiás, lideranças que independem dos partidos têm potencial para ocupar esse protagonismo a partir de 2020. Eleito senador, Jorge Kajuru (Cidadania) é uma força da natureza – goste-se ou não dele. Apesar do temperamento explosivo e imprevisível, o protagonismo que adquiriu logo nos primeiros meses no Senado e o apoio popular o tornam, naturalmente, um ator importante tanto para o ano que vem quanto para 2022 – seja como candidato, seja como cabo eleitoral.
Vanderlan Cardoso (PP) também se encaixa no perfil “estrela com luz própria”. Traz um grande recall da administração de Senador Canedo e das eleições que disputou para prefeito de Goiânia (perdendo para o próprio Iris) e para governador do Estado. Com a eleição para o Senado, por muitos considerada improvável até poucos dias antes da votação, reforçou seu cacife.
Bem recebido pelo eleitorado evangélico, Vanderlan ensaia uma dobradinha com Francisco Júnior (PSD) – este, como candidato a prefeito de Goiânia. Francisco Júnior é outro cuja derrota, em 2016, mais o fortaleceu que enfraqueceu, pois deixou a imagem de uma campanha limpa e criativa. Mesmo sendo católico, tem um bom trânsito nas igrejas protestantes.
Essa parceria, contudo, passa pela definição no PP. O partido tem nomes expressivos, como o ex-ministro Alexandre Baldy, que hoje é um dos auxiliares mais destacados do governador de São Paulo, João Dória, e é um potencial candidato ao Palácio das Esmeraldas, além de dois deputados federais, Adriano do Baldy e Alcides Rodrigues. A legenda pode atrair, ainda, o vice-governador Lincoln Tejota, que provavelmente deixará o Pros.
Não se descarta, evidentemente, a força do PSDB. Mesmo ferido gravemente em 2018, com a perda do poder central e desidratação da sua bancada parlamentar, o partido junta os cacos para chegar forte em 2020. O presidente da legenda, Janio Darrot (prefeito de Trindade), tem provado a vocação diplomática, mas tem pela frente um enorme desafio: reaglutinar os tucanos sem a força heliocêntrica de Marconi Perillo que, certamente, não estará distante das articulações, mas que precisará de tempo para recuperar a força gravitacional que um dia foi sua – e que hoje está com Caiado.