Há no Brasil um programa exemplar de vacinação, mesmo assim os índices de imunização seguem em constante queda. Ter um levantamento as razões para este efeito será determinante para o sucesso para campanha de vacina contra Covid

Ano após ano as campanhas de vacinação no Brasil tem apresentado resultados insatisfatórios. A queda gradual no percentual de imunização serve como alerta às autoridades de saúde pública há alguns anos, mas o problema não recebeu a devida atenção. A pandemia do coronavírus chegou e escancarou ainda mais essa situação. O anúncio da descoberta e do cronograma para aplicação da vacina para Covid-19 revelou um cenário ainda mais alarmante – no mês passado o Datafolha apontou que 22% dos brasileiros não querem receber as doses contra a doença.

A parcela da população que desacredita em vacinas só cresceu no período de enfrentamento à pandemia. As razões são teorizadas por inúmeras autoridades. Há os que culpam a influência dos negacionistas (inclusive daqueles que habitam em cargos de liderança no País). Outros culpam a geração que não vivenciou surtos de doenças e o efeito das vacinas na erradicação. Há também a responsabilização das campanhas de desinformação, que ocorrem de forma crescente em todo o mundo. O mais provável é que o motivo para os 22% dos brasileiros optarem por não se vacinar esteja na soma de todos os fatores listados.

Uma declaração da professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), enfermeira e epidemiologista, Ethel Maciel, sintetiza de forma clara o motivo da insistência para que as imunizações sejam efetivas de maneira global. Ela diz: “vacina não é remédio. Vacinação é estratégia coletiva”. É um alívio saber que a  maioria ainda concorda com essa alegação.. Mas é preocupante saber que há uma  minoria crescente que discorda e faz campanhas antivacina. Se estamos em meio a uma pandemia sem precedentes, que nos força a viver uma segunda onda (ou um repique no registro de infectados), tirando quase 200 mil vidas, espera-se que haja uma consciência coletiva em prol da imunização – pesquisas e declarações públicas demonstram que essa não é a realidade.

Vacinar contra Covid no Brasil será um desafio. E não estou falando de logística, corrida pela prioridade na aquisição de doses ou conseguir as seringas e agulhas necessárias. Refiro-me a compreender a população para que ela se engaje na campanha, e assim haja sucesso na imunização. É preciso conhecer os reais motivos que geram incertezas e colocam pessoas na defesa da campanha antivacina.

“O esclarecimento rápido e efetivo é o melhor instrumento para que se retome as vacinas como prevenção

Ao encontro dessa necessidade o Ministério da Saúde fará o censo das vacinas (demorou, mas enfim será colocado em prática). O levantamento começa ainda este mês e será o primeiro no País em 14 anos. Pesquisadores vão bater à porta de famílias das capitais de todo Brasil para traçar um perfil da população quanto à adesão ou não das vacinas. Uma medida necessária e bem vinda em um momento em que a vacinação é o centro das atenções no mundo.

O censo vai buscar responder, porque o Brasil, que possui o Programa Nacional de Imunização sendo executado com louvor há mais de 30 anos, enfrenta a barreira da recusa da vacina? O levantamento precisa apontar onde mora a falha. Se erraram na comunicação ou se é um problema estrutural? As autoridades precisam saber se a  razão da queda na imunização é motivada pela desinformação ou por que nem sempre as doses são levadas o mais próximo possível do público alvo.

Para ilustrar a necessidade que há em entender o motivo do distanciamento das sociedade em relação às vacinas, podemos avaliar os números das campanhas no ano de 2020.  Nenhuma das vacinas do calendário atingiu a cobertura estipulada. Mais de 500 mil crianças deixaram de tomar a vacina de pólio, por exemplo.

O censo vai permitir que autoridades tenham amostras sobre quais os motivos que crianças estão deixando de ser vacinadas, e porque todos os anos o percentual de alcance das campanhas só cai. As informações coletadas pelo censo das vacinas tende a dar munição para que o Ministério da Saúde possa atuar de forma a combater as falhas, transpor as barreiras e obter o resultado de ampla imunização com a vacina da Covid-19. 

Espera-se que os dados coletados pelo censo das vacinas dê elementos para criação de uma comunicação assertiva com a população, e assim, alcançar a vacinação em larga escala criando uma convicção coletiva de que o melhor é sempre receber as doses de imunização, seja contra Covid-19, ou demais doenças que Brasil ainda luta para erradicar, cujo as  vacinas estão no calendário brasileiro.

O censo das vacinas pode também trazer elementos para que sejam colocadas em práticas estratégias, sem necessidade de colocar em pauta o debate sobre obrigatoriedade de se vacinar ou não. Espera-se de fato, que com estatísticas, respostas e informações amplas o governo federal saiba como usar para combater os movimentos antivacina, ao invés de potencializar esse sentimento falho de senso coletivo.