Os R$ 2 bilhões reservados no orçamento da União para bancar a campanha desse ano deveriam ser alocados para o combate à Covid-19

Na semana que vem, o governo federal deve inaugurar seu primeiro hospital de campanha para o combate à Covid-19, pandemia causada pelo coronavírus Sars-CoV-2. Com 200 leitos adaptáveis para unidades semi-intensivas e suporte para respiradores, a estrutura custará R$ 10 milhões e está sendo erguida em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Um investimento relativamente pequeno diante do tamanho do desafio que é o enfrentamento dessa moléstia, mas fundamental para salvar vidas.

Nesse momento de esforço de guerra, muita gente tem dado sua colaboração. Empresas fazem grandes doações – de alimentos, insumos e equipamentos –, a população colabora, os governos de todos os níveis investem, em maior ou menor grau.

Nesse contexto, cabe perguntar se é moralmente aceitável torrar R$ 2 bilhões de recursos públicos para bancar a campanha eleitoral de 2020. Com esse dinheiro, seria possível construir 200 hospitais de campanha semelhantes ao de Águas Lindas. Seriam 40 mil leitos para atender os doentes infectados pelo coronavírus que apresentassem sintomas graves. Quantas mortes seriam evitadas?

Tão importante quanto o atendimento emergencial seria o legado que esse investimento deixaria para o sistema público de saúde brasileiro. Equipamentos (como macas, respiradores e outros) seriam absorvidos pela rede, notadamente carente.

“Demagogia”

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), chama a proposta de “demagogia”. Para o democrata, portanto, fazer campanha é mais importante que investir em saúde em um momento de caos.

Manter a democracia custa caro. Todas as grandes democracias têm, de uma forma ou de outra, participação de dinheiro público no sistema eleitoral. No Brasil, porém, quando milhões de pessoas se equilibram entre um vírus e a falta de dinheiro para colocar comida em casa, chega a ser imoral dispender tanto dinheiro público em uma campanha eleitoral.

As eleições podem – e devem – ser muito mais franciscanas. Menos candidatos, menos investimento em marqueteiros, menos dinheiro em redes sociais.

Olhando para nosso parlamento, salvo raras exceções – e felizmente elas existem –, torna-se ainda mais injustificável destinar para campanhas dinheiro que poderia salvar vidas. Não é uma escolha difícil.