Crise nas fronteiras com o Brasil e com a Colômbia não passa de uma derradeira tentativa de protagonismo de um governante que agoniza em praça pública

Foto: TV NBR/Divulgação/Agência Brasil

O Brasil acompanha um dos momentos mais delicados em suas fronteiras em muitos anos. O endurecimento do Governo Maduro, que determinou o fechamento da fronteira da Venezuela com Pacaraima, em Roraima, trouxe mais tensão a uma região já fragilizada desde o início da migração maciça de venezuelanos, em fuga do país vizinho.

Segundo os últimos relatos, ao menos 13 feridos – entre eles, indígenas – foram atendidos em Pacaraima e depois levados para a capital Boa Vista, por causa da gravidade dos ferimentos.  Uma pessoa morreu.

Os militares de Maduro permanecem impedindo a chegada de ajuda humanitária na região de Santa Helena e San Francisco de Yuruaní – onde ocorreram as agressões a pauladas e pedradas.

Adversário de Maduro, o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, tenta furar o bloqueio e chegar ao local com um comboio de caminhões com suprimentos, como remédios e comida. Guaidó foi acolhido pelo presidente da Colômbia, Ivan Duque. O chanceler brasileiro Ernesto Araújo, que está em Pacaraima, também pede que Maduro permita a chegada de ajuda aos venezuelanos.

Por trás da confusão humanitária, está um conflito que também é, acima de tudo, ideológico. Nos anos de governo petista no Brasil, havia um certo alinhamento com os governos de Hugo Chávez e, posteriormente, de Nicolás Maduro. Os ventos da mudança sopraram com a ascensão de Jair Bolsonaro e, na Colômbia, de Ivan Duque.

A chegada de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos representou outro ponto negativo ao regime venezuelano. Atualmente, mais de 50 países reconhecem Guaidó como o presidente de fato da Venezuela.

Nesse contexto, Maduro aproveita o clima nas fronteiras venezuelanas com o Brasil e a Colômbia para fazer seu jogo. Culpa dos EUA (bode expiatório do mundo) pela crise econômica por que passa seu país e porta-se como um caudilho. Como os americanos estão no grupo que contribuiu para a ajuda humanitária na região, Maduro encontrou a muleta que precisava.

Como convém a líderes que constroem reputação lutando contra moinhos de vento, assim como Maduro, Trump aproveita a situação para suas costumeiras bravatas. Em declarações recentes, ameaçou os militares venezuelanos. Por outro lado, tradicionais apoiadores do chavismo, como a China e a Rússia, ensaiam um tímido rosnado, mas não demonstram qualquer intenção de mostrar os dentes.

Com perdão do péssimo trocadilho, Maduro está caindo de podre. Tal qual um Lula que fala espanhol, busca, com seus últimos suspiros, preservar pelo menos a aura que um dia teve – sem, contudo, ter algum dia alcançado os calcanhares do petista em termos de reconhecimento popular e internacional.