O ano de 2023 começou com o País ainda muito dividido politicamente. Os atos antidemocráticos de 8 de janeiro mostraram que os insatisfeitos com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantinham organizados para uma guerra. Embora hoje ainda se tenha uma constância em discursos dos descontentes, a sensação é de que a polarização se abrandou, e já pode-se dizer que a política está próxima de entrar nos eixos da normalidade com que o brasileiro está acostumado – já há cerca de um mês as manchetes de jornais não falam intenções golpistas. 

Parte desse arrefecimento da polarização política se deve aos sinais do governo Lula aos governadores dos estados, colocando-se próximo dos gestores regionais. Trata-se de uma boa estratégia que contribui para o convencimento do eleitor de que o governo federal está sinergia com as gestões e a par das demandas locais –  aproxima o discurso do cotidiano do cidadão. De fato, é um caminho para a pacificação. 

Desde a campanha eleitoral, Lula deixou claro que resgataria o pacto federativo, ou seja, a boa relação entre União, estados e municípios. Em janeiro, ele iniciou esse processo reunindo-se com os 27 governadores e criando um conselho federal formado por representantes do governo federal, governos estaduais e prefeituras. Ao comparecer ao encontro da FNP, e enviar vários de seus ministros para ouvir as demandas dos prefeitos, Lula consolidou essa estratégia, que já rendeu resultados práticos, como a retomada da parceria com as prefeituras na gestão do Bolsa Família e o lançamento da plataforma Mãos à Obra, de acompanhamento de obras no país.

A retomada de mais de 14 mil obras paralisadas é uma das principais apostas de seu governo para, no curto prazo, reaquecer a economia e gerar emprego. Mas essa é uma ação que traz efeitos políticos também para os governantes que começaram um novo mandato e podem vislumbrar obras importantes entrando em fase de execução em sua região. O eleitor consegue ler esses sinais de que quando governo federal e estadual estão em harmonia, o beneficiado é o cidadão.

Esse cenário se ilustra em Goiás. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador Ronaldo Caiado (UB), disse no mês passado que era importante ter diálogo com o novo governo Lula, afirmando que estados não sobrevivem sem a participação da União. O governador acrescentou que a  “convivência pacífica e respeitosa” entre todos os entes federados, independente se são aliados ou opositores: “é a maneira republicana de se governar”.

A posição do governador é um reflexo do pensamento do eleitor. Goiás ficou marcado como sendo um dos estados mais bolsonaristas durante a campanha eleitoral. Esse posicionamento é em razão da ligação do estado com o Agronegócio e pelo perfil mais conservador do eleitor. Em Goiás, o resultado do segundo turno das eleições deu a Jair Bolsonaro 58% dos votos, contra 41% de Lula.

Mas passada as eleições, principalmente a partir da posse e dos sinais de aproximação entre Lula e os governadores –  incluindo Ronaldo Caiado –  a população percebeu que a pacificação política tende a ter resultados administrativos. Essa é a posição comprovada pela última pesquisa Serpes. Os entrevistadores  indagaram o eleitor sobre uma aproximação do governador Ronaldo Caiado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na busca por projetos para Goiás. 60% dos entrevistados avaliam como positiva a parceria; 35,5% responderam que ‘certamente sim’ e 24,5% aprovaram com ressalvas (sim, mas com cautela). Ao todo, o Serpes entrevistou 1001 eleitores em 31 municípios de todas as regiões do estado. Segundo a empresa, a margem de erro do levantamento chega aos 3,1 pontos porcentuais para mais ou para menos.

O governo federal intensificou os gestos de aproximação com governadores, especialmente os de oposição, na tentativa de reforçar a construção de sua base de apoio no Congresso. O diálogo estabelecido com os chefes dos Executivos estaduais, além de melhorar a relação federativa, também contribui para os interesses do Palácio do Planalto junto aos deputados e senadores.

A investida de Lula na aproximação com governadores passa pelo apoio nas negociações para recompor o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Nos cálculos de lideranças do Palácio do Planalto, os governadores exercem certa influência sobre as bancadas de deputados e senadores em seus estados. Com isso, um alinhamento com o presidente Lula poderia atrair parlamentares para a base do governo em votações estratégicas, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal que será apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda nesse semestre.

A boa relação entre o presidente petista e os governadores é resultado de um cálculo político. Fica evidente que Lula deseja manter boas relações com nomes que estariam na oposição. Caiado é um dos nomes cujo PT não quer ter como opositor – ao menos não nesse começo desse governo.

As atitudes de Caiado e Lula podem ser lidas como uma estratégia de boa vizinhança, que mais a frente pode dar espaço para um embate entre o presidente e os governadores que tentarem ocupar os palanques da oposição em 2026. Mas há um reflexo imediato dessa aproximação: para o governo federal é possível aprovar os seus projetos no Congresso, onde os governadores têm grande influência. Para os governadores, é uma boa oportunidade para seus estados nos projetos de um novo governo federal que promete um pacto federativo. A população aprova.