A eleição de 2022 guarda em si tantas singularidades que ficará marcada na história. Além da polarização da disputa presidencial, que se tornou o foco central das eleições, há mudanças na legislação, recordes de financiamento, novas regras para presença feminina e a necessidade de justiça eleitoral se reafirmar confiável.

Entre as características peculiares, está que este ano a campanha eleitoral é a mais curta da história. São apenas 45 dias, ou seja, as propagandas se encerram no dia 1º de outubro. Mas os eleitores, em conversas informais, relatam que já percebem estar há muito tempo sendo bombardeados pela campanha. E faz sentido. As eleições deste ano começaram muito cedo, parece-me que logo que foram apurados os votos em 2018 uma nova campanha começou. 

Mas o que causa essa sensação nos eleitores é que as tratativas politicas, ou seja, as buscas por alianças, discursos estratégicos para atrair aliados ou minar concorrentes, extrapolaram bolha política muito cedo. Dado a importância da eleição de 2022, a mídia tem dedicado uma grande parte de seus noticiários para, coo se fosse um diário, narrar o passo a passo daqueles que estão na disputa eleitoral. 

O eleitor já assimilou que deve ir às urnas no próximo domingo, 2, mas ainda há uma parcela que não definiu todos os votos, ou ainda não estão seguros quanto a eles e podem mudar de opinião. E eles agora estão na mira dos candidatos, de A a Z. E essa briga pode esquentar a última semana de campanha eleitoral. 

O comitê da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) dá sinais de que vai subir ainda mais o tom contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A estratégia central é reativar o gatilho do “antipetismo” nos eleitores e apostar em um tom combativo para elevar ainda mais o clima de polarização em busca do chamado “voto útil” para Bolsonaro. Também deve haver mais comparações entre o atual governo e as gestões do PT.

A estratégia da campanha ao apostar no antipetismo tem o intuito de ampliar a rejeição de Lula e reduzir a de Bolsonaro em busca de eleitores indecisos e daqueles que poderiam votar em alguma candidatura da terceira via, mas que depositariam o voto no presidente por contrariedade com o petista.

Na outra ponta, a campanha lulista acredita que, na reta final da campanha, conseguirá convencer eleitores indecisos ou aqueles que estariam aptos em votar em branco e liquidar a fatura logo no primeiro turno. Outra tática petista é incentivar o voto útil e esvaziar as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

Para ambos os candidatos,  o voto útil é estratégico, e cabe a nós tratá-lo como  um instrumento legítimo da democracia, pois permite que, entre duas opções que não nos satisfazem plenamente, possamos escolher a mais aceitável.

Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 1º de setembro, Ciro tem 9% e Simone Tebet tem 5% das intensões de voto, mais do que suficiente para garantir os 50% dos votos validos para Lula – que aparece com 45%. Ele também luta pelos nulos e brancos (4%) – mas esse não deve se alterar no percentual.

Do outro lado, Bolsonaro, que tem na pesquisa Datafolha 32% das intensões, trabalha para convencer eleitores de Ciro e Tebet de que vale a pena levar a disputa para o segundo turno, e mais: ele quer tirar o máximo de vantagem de Lula para, no dia seguinte a 2 de outubro, o candidato petista tenha imagem de uma candidatura frágil. 

Além de tirar votos dos candidatos que aparecem atrás nas pesquisas, os dois que lideram as pesquisas de intenções de votos e estão de olho no quantitativo de indecisos, apesar de não somarem um percentual tão grande em comparação com eleições anteriores, ganham significativa importância, dado o cenário polarizado da campanha.

As pesquisas dos institutos Datafolha, Ipec e Quaest, divulgadas nos últimos dias, mostram que os indecisos são, em sua maioria, mulheres e eleitores de escolaridade e renda mais baixa, principalmente das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

As pesquisas têm indicado tamanhos diferentes para o grupo que ainda não manifesta uma preferência nestas eleições. A sondagem do Datafolha divulgada em 9 de setembro mostra, no levantamento espontâneo que 17% do eleitorado está nessa situação.

O levantamento do Ipec, divulgado três dias depois, indica que os indecisos são 12% do eleitorado. Já a pesquisa da Quaest, do dia 14, aponta que o grupo pode ser maior: 29%.

Entre as mulheres, o percentual de indecisos no Datafolha chegou a 22%; entre os homens, a 11%. A proporção de pessoas que não sabem em quem votar também é maior no eleitorado feminino em comparação com o masculino nas sondagens do Ipec (14% contra 8%) e da Quaest (34% contra 25%).

Em relação à faixa etária, o maior índice de indecisos aparece, nas três pesquisas, entre os mais jovens. No Datafolha, por exemplo, cerca de 19% dos eleitores de 16 a 24 anos não escolheram um candidato ainda. A menor taxa é registrada entre os brasileiros de 25 a 34 anos: 14%.

Quando o assunto é escolaridade, a maior proporção de indecisos está entre os que cursaram até o ensino fundamental (20% do total, no Datafolha), e a menor parcela está entre os que completaram o superior (11%). No Ipec, todos os níveis estão empatados tecnicamente.

Mas o fato de serem poucos, não torna os eleitores indecisos menos decisivos nesta eleição. Primeiro porque eles são um dos poucos bolsões de votos ainda disponíveis para os candidatos, já que as últimas sondagens eleitorais mostram que mais de 80% dos que declaram voto tanto em Lula quanto em Bolsonaro já não consideram reavaliar suas opções.