Redes sociais são ringue para confronto antecipado entre democrata e tucano

Falar em 2022 parece algo ainda longínquo, chega a transparecer um exercício de futurologia. Entretanto, não se deve deixar enganar. Ao menos para a política, 2022 já é agora e a corrida eleitoral já teve dada a largada. O cenário em Goiás se esquenta e se afunila rapidamente, e o eleitor já sente o clima eleitoral.

As eleições de 2022 estão devidamente marcadas para daqui a um ano e cinco meses. E as desincompatibilizações são daqui a 11 meses. Os palanques estão armados e trazem com eles uma verdadeira guerra política que já ganha corpo nas redes sociais. Os goianos já começaram a ver os embates, que se intensificaram na semana que se passou.

As redes sociais servem de ringue para esse duelo que está marcado desde 2018, quando Ronaldo Caiado (DEM) ganhou as eleições e tirou do governo do Estado o grupo liderado por Marconi Perillo (PSDB). As recentes trocas de acusações e ofensas entre os adversários é a demonstração de que a campanha de 2022 já se faz presente e caminha rapidamente para uma possível polarização.

Deixando de lado a troca de acusações nas redes sociais e avaliando a que interessa essa exposição e o embate político que surge de forma antecipada, sou levado a crer que o ex-governador Marconi Perillo sentiu que é hora de iniciar sua campanha. Começar uma ofensiva pode servir a ele como um termômetro que dará alguma sinalização sobre qual o tamanho do espaço político que ainda lhe resta e se seu modo de fazer política ainda tem aderência com o eleitor e com políticos goianos.

Parece-me cedo para dizer se o tucano já pode mensurar essa receptividade do eleitorado, ou mesmo de partidos que possam compor uma chapa oposicionista. Mas Marconi Perillo deu um passo importante — caso ele realmente queira que o PSDB lidere o grupo oposicionista em 2022. Ele deixou de lado o silêncio que tinha adotado desde que se mudou para São Paulo após perder a eleição ao Senado em 2018.

A oposição em Goiás ainda está pulverizada. Não se sabe de onde pode partir um adversário de Ronaldo Caiado. Quem aposta em Daniel Vilela (MDB) nunca deixa de avaliar uma possiblidade de ele compor com o democrata. Não havia nenhum nome que se apresentasse como um líder que aglutine partidos oposicionistas ao governador.

Naturalmente se espera que esse papel fosse desempenhado pelo PSDB, de Marconi Perillo. No entanto, o partido se mostrou aquém do que era aguardado quando, em fevereiro deste ano, os tucanos anunciaram o ex-governador como candidato a deputado federal e iniciou uma briga interna que culminou com a saída do presidente da sigla, Jânio Darrot (que deve ser candidato a governador pelo Patriota).

Ao romper o silêncio e partir para uma ofensiva, Marconi Perillo busca medir sua capacidade de polarizar as eleições com Ronaldo Caiado, e quem sabe então conquistar apoio. Talvez consiga. Mas é notável o seu enfraquecimento e também a rejeição entre o eleitorado e líderes partidários.

Embora estejamos apenas exercitando a capacidade de ler o cenário político atual e projetá-lo para daqui a um ano, ainda é provável que muitos fatos ocorram e o curso da eleição possa ser alterado. Precisa-se levar em conta que as articulações lideradas pelo próprio Ronaldo Caiado foram colocadas em execução logo que ele ganhou as eleições em 2018. O reflexo foi sentido nos resultados das eleições municipais, no qual o DEM trabalhou para se fortalecer e retirar os espaços de partidos que poderiam encabeçar a oposição em Goiás.

O governador operou e costurou alianças que permitiram ao Democratas eleger prefeitos em 62 cidades goianas nas eleições do ano passado. Ainda é preciso levar em consideração as cidades que agora estão sob o comando de partidos aliados — como o caso de Goiânia, onde nota-se uma aproximação cada vez maior com o Republicanos, e de Anápolis, com o prefeito Roberto Naves, do Progressistas. Os resultados da eleição de 2020 permitiram ao grupo caiadista se consolidar na região Sudoeste — região que será importante para a disputa da reeleição de Ronaldo Caiado — e no Entorno de Brasília. O prefeito de Luziânia, maior cidade da região, Diego Sorgatto, é filiado ao Democratas.

Outro fator que Marconi Perillo busca medir o impacto é da sua perda de espaço na região do Entorno de Brasília, onde seu grupo tinha atuação muito forte. A região era reduto tucano, e os marconistas acreditavam que a influência lá seria estratégica para liderar a oposição em Goiás, inclusive podendo somar forças com o governo do Distrito Federal — já que os governadores Ibaneis Rocha e Ronaldo Caiado estão rompidos.

Mesmo depois das eleições, Ronaldo Caiado ainda conseguiu conquistar prefeituras. Ao menos 15 prefeitos migraram para base governista — uma parte destes prefeitos eram do PSDB. O caso mais emblemático é o do prefeito de Iporá, Naçoitan Leite, que era filiado ao PSDB, fez oposição ferrenha a Ronaldo Caiado, mas, se sentindo desprestigiado dentro do partido, deixou a sigla para buscar filiação à base caiadista. O prefeito de Aruanã, Hermano de Carvalho, um tucano histórico, se filiou ao Democratas.

Ronaldo Caiado conseguiu alcançar uma aprovação significativa entre gestores municipais e o eleitorado. Isso foi perceptível nas eleições de 2020 quando seu apoio teve grande peso nas eleições municipais. O governo do Estado impôs um novo ritmo de obras e entregas para este ano, consolidando uma agenda positiva que deve se seguir até o período de campanha de 2020. Sobretudo, em pesquisas qualitativas, o que se diz é que o governador se preocupa com gente.

Essa configuração política é reflexo das articulações comandadas diretamente pelo governador e, diante deste cenário, acredita-se que Ronaldo Caiado torça para que a eleição em 2022 seja polarizada entre ele e Marconi Perillo, já que as suas costuras políticas abalaram os tucanos mais do que qualquer outro partido. O tucano é o candidato ideal para ser derrotado.