Ex-juiz se coloca se lança como terceira via e afina discurso de ataque a Bolsonaro e ao mensalão

O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro voltou dos Estados Unidos já com uma decisão: se filiar ao Podemos e ser o candidato à presidência da República em 2022. A primeira parte ele já fez. Na última semana ele confirmou sua filiação. Agora resta confirmar se chegará ao status de candidato, já que para isso é preciso muitos passos, entre eles apoios e consolidação nas pesquisas.

Boa parte da opinião pública já colocava Sergio Moro na lista de possíveis candidatos  desistentes. Em certa medida ele surpreendeu alguns. Até demonstrou alguma ousadia em seu discurso de filiação, ocorrido no último dia 10. O inegável é que ele  criou incertezas entre as forças políticas que já estão postas na disputa pela presidência.. Quem tem mais medo do juiz candidato: Lula ou Bolsonaro?

De onde vem esse medo que é compartilhado por duas forças antagônicas, como Lula e Bolsonaro? Moro tem desejo de ser o nome da terceira via. Para isso, precisa conseguir o feito de unir em sua órbita forças ainda pulverizadas mais que possam se opor aos extremos. Se atingir essa meta, terá boas chances de chegar ao segundo turno. Se ganhará, já é outra história.

Para colocar seu projeto em campo, Moro conta com o Podemos, que tem dado sinais –  há tempos –  de que compartilha do mesmo ideal. Moro e do Podemos têm como alvo o espectro eleitoral das forças de centro-direita do país. O motivo é a  frustração que tiveram diante do desempenho ínfimo alcançado pelo governo chefiado por Bolsonaro. Moro também coloca em sua mira as alianças do presidente com os partidos do chamado Centrão –  formados pelo PP, PL e Republicanos, principalmente.

Moro já faz cursos de oratória e afina o discurso de presidenciável. A estratégia ficou evidente em seu discurso durante a cerimônia de filiação ao Podemos. O ex-ministro demonstrou ter o intuito de estimular e conquistar os eleitores que se veem decepcionados com o presidente Bolsonaro. Sua fala não pode destoar da Operação Lava-Jato.

Entre aqueles que estão no entorno de Moro, há uma avaliação de que quanto mais Bolsonaro associar sua imagem ao Centrão, mais eleitores de direita que votaram no presidente em 2018 vão abandoná-lo. O caminho natural será a adesão à candidatura do ex-juiz –  apostam.

Assim, abusando do tom lavajatista, Moro seguirá seu caminho como pré-candidato ao Planalto. E para não destoar, ele já deixou claro que não quer nenhuma legenda do Centrão como aliado. Uma das justificativas para deixar o Ministério da Justiça foi justamente a rendição do presidente Jair Bolsonaro ao consórcio de partidos que hoje manda e desmanda no governo.

Mas esse desejo de estar desconectado do Centrão pode pesar muito para o Podemos. Embora o ex-juiz tenha essa posição em relação ao Centrão, as conversas para colocar a candidatura de pé estão transcorrendo –  e os partidos que compõem o Centrão foram chamados para conversar. A presidente nacional do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), procurou presidentes de partidos abominados por Moro. As conversas foram em tom de consulta sobre a possibilidade de aliança para 2022, como forma de dar musculatura à chapa.

Renata Abreu chegou a estabelecer contato com os presidentes do MDB de Baleia Rossi, DEM de ACM Neto, Solidariedade de Paulinho da Força, e do Republicanos de Marcos Pereira. 

Mas assim como Moro não quer o Centrão, os partidos que compõem o grupo também não se animam com a sua candidatura. O ex-ministro é visto como um juiz que promoveu um clima antipolítico na condução da força-tarefa da Lava Jato. E entre esse grupo, a gestão de Moro frente ao Ministério da Justiça avançou em pautas contrárias aos interesses dos parlamentares.

O sentimento de divergência está com Moro e com o Centrão. Tudo certo para ambos. Afinal, o grupo de partidos está com Bolsonaro e segue fazendo o que sempre fez: dominando o orçamento e os rumos da gestão por meio da força no Congresso. Para Moro, é mais um bom argumento de ataque a Bolsonaro. Quem sabe isso lhe valha alguma boa quantidade de votos.

Não se pode negar que a entrada de Moro no Podemos, mexe com o tabuleiro eleitoral porque potencialmente ocupa um espaço à direita que é considerado fundamental para a reeleição de Bolsonaro. Podemos é um partido independente em relação ao governo no Senado, mas nem tanto na Câmara. Assim, Moro teria musculatura para ser um concorrente de peso a Bolsonaro e Lula, sem ter o apoio e ainda atacando o Centrão?