Blitz dos partidos para tirar Cunha
11 junho 2016 às 11h38
COMPARTILHAR
Mas o PT vacila, diante da possibilidade de usar o afastado presidente da Câmara dos Deputados para desgastar o governo do interino Michel Temer

O peemedebista Eduardo Cunha (RJ) põe em risco a estabilidade política do Brasil. Atualmente, afastado provisoriamente do cargo de deputado federal e, consequentemente, da presidência da Câmara dos Deputados, Cunha tornou-se um verdadeiro “boneco de Judas”, no qual todo querem bater. Não teria como ser diferente, tantas são as evidências de apropriação indébita de dinheiro público propinado durante anos e anos de mandatos e influência política em altos escalões do poder, isso desde o governo Collor de Mello e que se aprofundou nos governos petistas.
A saída em definitivo de Eduardo Cunha da presidência da Câmara — não custa lembrar, um cargo na linha de sucessão do presidente da República — virou clamor nacional. Há um processo em curso para o afastamento dele na Comissão de Ética da Casa, mas o homem vem procrastinando o quanto pode, usando para isso seu grande conhecimento do regimento da Câmara, além da influência sobre dezenas de colegas, dos quais ele sabe segredos cabeludos. De muito outros ele financiou as campanhas, coisas assim.
Daí porque PSDB, DEM e PPS, partidos da antiga oposição à presidente petista afastada, Dilma Rousseff, começaram a negociar uma união com os antigos adversários PT, PCdoB e Rede por um objetivo comum: afastar, por definitivo, o “Judas” Eduardo Cunha da presidência da Câmara e realizar novas eleições na Casa.
Na articulação, obviamente, está a discussão de um nome para disputar a sucessão do peemedebista contra o candidato apoiado por Eduardo Cunha. O candidato “cunhista” sairia, como não poderia deixar de ser, do grupamento sob fortíssima influência de Cunha, o Centrão, composto por 13 partidos comandado por PP, PR, PSD e PTB.
Plano é vagar o cargo
Na quarta-feira, 8, a “Coluna do Estadão” informou que o diálogo entre os dois grupos tinha sido aberto naquele dia. Os partidos discutiram alternativas para provocar a realização de novas eleições internas. No encontro, os antigos oposicionistas cobraram apoio dos petistas ao projeto para declarar vago o cargo de presidente da Câmara.
O projeto é do deputado Roberto Freire (PPS-SP) e, se aprovado, forçaria a realização de nova eleição, tirando da presidência interina o deputado Waldir Maranhão (PP-MA). O maranhense, que assumiu o comando da Casa no início de maio, após o Supremo Tribunal Federal afastar Cunha, tem dado seguidas mostras de total incapacidade para o cargo, além de se mostrar uma marionete no jogo que interessa ao presidente afastado.
Mas há um probleminha numérico no acordo entre a antiga e a atual oposição. Para aprovar o projeto, precisam de assinaturas de líderes que representem 257 deputados. A conta, até agora, chega a apenas 119 parlamentares, pois apenas PSDB, DEM, PPS e PSB apoiam a proposta. A nova oposição, formada por PT, PCdoB, PDT e o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), soma 90 parlamentares.
Antes do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência o PT era radicalmente contra Eduardo Cunha, tendo patrocinado diversas manifestações contra ele tanto na Câmara como em outros locais onde o deputado aparecia. Mas, agora, o PT se recusa a assinar o pedido. O líder do partido, Afonso Florence (BA), disse ter muita dúvida da real intenção dos antigos opositores.
Florence disse desconfiar de que a antiga oposição quer aprovar o projeto em um acordo para tirar Eduardo Cunha da presidência da Câmara, mas o preservando do processo de cassação que tramita no Conselho de Ética da Casa. Resumindo a desconfiança: o plano é tirar o peemedebista da presidência, mas mantê-lo no cargo de deputado.
Segundo “O Estado de S. Paulo”, o PT os outros partidos adversários de Temer avaliam que, por enquanto, pode ser mais favorável lidar com as trapalhadas do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão. Explica-se: embora seja aliado de Eduardo Cunha e do Centrão, Waldir votou contra o impeachment de Dilma Rousseff, é próximo de deputados do PT, PCdoB e PDT, além de ser aliado do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Dino é um ideólogo do “fica Dilma” — foi ele o mentor intelectual da decisão de Maranhão de anular a sessão que votou a admissibilidade do impeachment.
Mas não se pode descartar que os petistas também avaliam se não é melhor continuar “sangrando” Cunha, que é do PMDB e próximo de Temer. Dessa forma, podem usar Cunha para continuar desgastando o governo do presiente interino, um jogo rasteiro que o PT opositor sempre soube jogar bem.
Já os antigos oposicionistas não querem Waldir Maranhão. O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), disse que o que está em questão é a normalidade da Casa e que não dá para Waldir Maranhão presidir a Câmara.
Sobre a desconfiança dos petistas, de que o acordo tem o objetivo de salvar o mandato de Cunha, apenas destituindo-o da presidência da Casa, Imbassahy afirmou que a cassação do peemedebista é consequência e, caso venha para o plenário, será inevitável.
Os dois grupos têm divergências, que ficaram explícitas na primeira rodada de conversa. Mas eles vão continuar as articulações e nova reunião está marcada para esta semana. A fogueira para assar o “boneco de Judas-Cunha” foi acesa.
Ministro libera para julgamento 2ª denúncia contra o peemedebista
E a situação jurídica de Eduardo Cunha vai piorando a cada dia. Na sexta-feira, 10, o ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), liberou para julgamento a segunda denúncia contra o presidente afastado da Câmara, que é acusado de manter contas secretas na Suíça abastecidas por dinheiro desviado do esquema de corrupção da Petrobrás.
Com a decisão de Zavascki, o mais provável é que o caso seja levado a plenário na semana que vem, no dia 23. Também serão julgados recursos defendendo que a mulher de Cunha, Cláudia Cruz, e a filha Danielle Dytz sejam julgadas pelo STF, e não pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância da Justiça Federal.
A liberação para a pauta ocorreu no dia anterior, quando Moro aceitou a denúncia contra Cláudia e a transformou em ré, por entender haver indícios de que ela se beneficiou de uma das contas na Suíça, “utilizando ainda expedientes para ocultar o seu recebimento e a sua fruição”, segundo Moro.
A denúncia contra Eduardo Cunha foi oferecida ao STF pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em março. O parlamentar é acusado da prática dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Também em março, o peemedebista se tornou réu no processo que apura se ele recebeu propina por contratos de navios-sonda da Petrobrás.
O peemedebista também responde a pelo menos outros quatro processos no STF, um deles sobre a sua participação no esquema de corrupção de Furnas. A defesa do parlamentar tem sustentado que não há provas materiais de que o peemedebista tenha contas no exterior.