Base aliada e Caiado aplaudem e ainda pedem bis
17 janeiro 2015 às 11h59

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PT e PMDB expõem suas vísceras em praça pública e há quem está gostando muito de ver

Está funcionando a cunha que Ronaldo Caiado enfiou no bloco formado por PMDB e PT em Goiânia, ao lançar a candidatura de Iris Rezende à Prefeitura da capital, pouco depois da eleição de outubro. Mas, é bom que fique claro, não é culpa apenas do democrata que os ânimos entre peemedebistas e petistas tenham começado a ficar acirrados.
Uma aragem malsã começou a soprar mais forte entre as duas siglas na semana passada, quando expoentes dos dois partidos externaram opiniões conflitantes. Primeiro, o vice-prefeito Agenor Mariano, do PMDB, teceu severas críticas à forma como o prefeito Paulo Garcia está conduzindo a propalada reforma administrativa no Executivo municipal. Segundo ele, essa reforma carece de discussão com os parceiros.
Em tom recriminatório, Agenor falou que ele próprio não tem participado do trabalho, tocado pelo próprio prefeito Paulo Garcia e por seus auxiliares mais próximos, que lidam com o dia a dia da administração do município. Afirmou que foi feita uma apresentação dos objetivos da reforma, que é economizar e trazer equilíbrio às contas municipais. Mas, segundo ele, em nenhum momento foi apresentado de uma forma mais específica como será feita a economia pretendida.
As críticas pesam mais porque quando foram feitas, Agenor Mariano estava sentado interinamente na cadeira do prefeito, que estava em viagem de férias. O vice espera que nesta semana o prefeito convoque o partido para um, digamos, detalhamento do projeto da reforma, com exposição mais completa que mostre de fato a real intenção do governo em relação à economia pretendida.
Agenor Mariano não limitou o problema apenas aos dois partidos aliados. Ele tratou de dar uma dimensão mais ampla, considerando que a Prefeitura — no caso, o próprio prefeito — entenda que em 2015 é preciso “entender e compreender” mais para atender a necessidade dos goianienses. O uso de dois termos sinonímicos reforça a crítica velada à falta de diálogo de Paulo Garcia nos dois primeiros anos de gestão, tanto com o parceiro PMDB quanto com a Câmara de Vereadores, o que tem sido uma queixa recorrente.
Tais declarações, claro, são uma admoestação, um “puxão” de orelha, um repto à colocação das cartas na mesa. A reação veio. O deputado Humberto Aidar não se fez de rogado e disse que o PMDB tem de decidir se mantém a aliança com o PT ou se desiste dela. Lembrou que os peemedebistas fazem parte da administração municipal desde sempre.
E mais: Aidar desafiou os aliados a entregarem as centenas de cargos que detêm na prefeitura, se é que estão tão insatisfeitos assim, e saiam da administração. Além disso, repudiou explicitamente a aproximação do PMDB com o partido de Ronaldo Caiado: “Onde o DEM estiver, estaremos do lado oposto”.
Na sequência da troca de rusgas entre os dois, entraram no ringue. Luis Cesar Bueno e José Nelto, por exemplo. Na verdade, críticas mútuas têm sido desferidas por muita gente. E as farpas entre Agenor e Aidar está longe de ser apenas diatribes entre dois políticos de personalidade forte e com autoridade suficiente para verbalizar posições de alas majoritárias de suas respectivas siglas. Esse clima belicoso começou a ser construído na pré-campanha ao governo estadual, quando o empresário Júnior Friboi desembarcou no PMDB com o intuito de ser o candidato do partido.
Iris Araújo
Ali, muitos petistas repudiaram a manutenção da aliança, já com o pensamento de que poderia prescindir da aliança e ter um candidato próprio competitivo. Com o trabalho empreendido pelos iristas para derrubar a pretensão de Friboi, o PT acabou optando por candidatura própria com Antônio Gomide. Eleição terminada, derrota para Iris e para Gomide. Para piorar o quadro, derrota também da deputada federal Iris Araújo, com votação que chega a ser ridícula para uma campeã de votos.
Isso azedou ainda mais o caldo. Nesse sentido, é interessantíssima a nota-reportagem da coluna Bastidores da semana passada. Ei-la: ““Veja, leitor, como são as interpretações políticas. O grupo da deputada federal Iris Araújo (PMDB) avalia que perdeu a eleição porque o prefeito Paulo Garcia, desgastado, contaminou sua popularidade em Goiânia. O próprio Iris Rezende acredita que, se o petista estivesse mais bem avaliado, teria sido eleito governador de Goiás. Pois o PT pensa exatamente o oposto. Alguns de seus líderes avaliam que a aliança com o PMDB está puxando o partido para baixo. Em Goiás, ao menos, o PT está sendo visto como um apêndice do irismo e, como tal, um grupo político atrasado, que não se renova.
Por isso, há quem defenda que o PT rompa, em definitivo, a aliança com o irismo e trilhe um caminho próprio. “O projeto de Iris logicamente não é promover a expansão do PT, mas sim subordinar o partido aos seus interesses. Portanto, temos de dizer adeus ao irismo, antes que a sociedade passe a considerar o PT como uma tendência sua”, afirma um petista.”
Com a aliança entre PMDB e o DEM de Ronaldo Caiado na eleição estadual, o consórcio PT-PMDB em Goiânia começou a tomar definitivamente o caminho do brejo. Caiado, inteligente como é, percebeu a fragilidade desse arranjo partidário, que de certa forma está com a data de validade vencida, e tratou de miná-lo mais ainda. Até que deu a “cacetada” maior, lançando a candidatura de Iris para 2016, mal os votos de 2014 tinham sido contados. Caiado se apresentou ao velho líder peemedebista: “eu estou com você e não abro”.
A jogada do líder ruralista é clara: apoia o PMDB em 2016, e ganha em troca o apoio em 2018, na candidatura ao governo estadual. Que, lembre-se, não terá o “papa-eleição” Marconi Perillo no pleito. Nessa jogada, é imprescindível que o PT esteja fora, mesmo porque o partido de Lula não se mistura com o DEM, são água e óleo, por assim dizer.
Bem, e o que tem a base aliada de Marconi com isso? Simples demais. Os aliados do governador acham que passou da hora de voltar a comandar a principal prefeitura goiana. Líderes do PSDB de Marconi já externaram que é esse o objetivo do partido em 2016.
O presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, já teve sua candidatura lançada uma dúzia de vezes. E quem conversa com Rincón vê de longe o brilho dos olhos dele quando o tema é colocado na mesa. Por isso, para os partidos da base marconista, e principalmente para o PSDB, quanto mais o consórcio petista-peemedebista em Goiânia estiver fraturado, melhor.
Lembrando que PT e PMDB têm deixado a base aliada a pão e água em Goiânia há quatro eleições: 2000, PT puro, com Pedro Wilson; 2004, PMDB puro, com Iris Rezende; 2008 e 2012, com os dois partidos coligados (Iris e Paulo Garcia, Paulo Garcia e Agenor Mariano).
Mas neste momento, PT e PMDB estão num ringue, brigando, enquanto Ronaldo Caiado e marconistas estão na plateia, torcendo para que os dois se firam mutuamente, provocando feridas profundas o bastante a ponto de não cicatrizar nunca. l