Paulo Maluf e Fernando Collor | Fotos: Waldemir Barreto e Leonardo Prado
Paulo Maluf e Fernando Collor | Fotos: Waldemir Barreto e Leonardo Prado

A situação do governo está tão lastimável do ponto de vista ético e moral que até o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (sem partido-AL) e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) se arvoram o direito de falar mal dele. Collor foi “impeachado” (na verdade, renunciou antes) da Presidência em 1992 e Maluf, se sair do Brasil, será preso pela Interpol por corrupção.

Maluf se disse “enojado” com a operação do governo Dilma de trocar votos contra o impeachment por cargos. Em entrevista à BBC Brasil, ele assumiu que vota a favor do afastamento de Dilma num posicionamento político. “Ela é correta e decente, mas voto pelo impeachment”, disse, acusando o presidente de seu partido, o senador Ciro Nogueira, de ter negociado apoio ao governo sem consultar os demais políticos de sua base.

Para Maluf, a negociação de cargos foi “espúria, para não dizer pornográfica” e Nogueira se comportaria de maneira “monocrática”, como um “ditadorzinho do Piauí”.
O deputado disse ainda considerar “uma vergonha nacional” o fato de seu partido ser o recordista de citações na Lava Jato, com mais de 30 investigados.

Ao ser perguntado por que votará pelo impeachment depois de defender o governo, Maluf disse que tem muito respeito pela pessoa física da presidente Dilma. “Entretanto, no processo de votação, o meu partido e seu presidente Ciro Nogueira negociaram de maneira espúria.

Toda negociação de partido tem que ser feita ou pela bancada, ou pelo diretório. Não pelo presidente. O presidente negociou presidência da Caixa Econômica Federal, Ministério da Saúde, Ministério das Relações Institucionais.”

Segundo o deputado, como Ciro decidiu monocraticamente, pode parecer perante a opinião pública que ele, Maluf, fez parte desta negociata. “Só tem uma maneira de provar que não fui: votar pelo impeachment. Portanto ela (Dilma) é correta e decente, mas voto pelo impeachment.”

Sem barganha

Já o senador Fernando Collor de Mello (sem partido-AL) condenou, na quinta-feira, 7, a ação do Palácio do Planalto. Na quinta-feira, 7, reportagem do Globo contou que em palestra na Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele disse que nem no auge da crise que lhe tirou o mandato fez esse tipo de gestão.

“No meu governo, em nenhum instante houve qualquer tipo de negociação subalterna. Em nenhum momento essa barganha foi feita. Em nenhum momento, nenhum dos meus ministros se mobilizaram no sentido de terem conversas menos republicanas com quem quer que seja. Nem com a classe política, nem com a classe empresarial. Hoje, vivemos um instante em que as coisas não caminham bem assim. Preocupa-me profundamente a situação do nosso país”, disse Collor, para um público de empresários do setor da indústria.
Collor também criticou duramente a presidente Dilma Rousseff por permitir que manifestantes defendessem, dentro do Palácio do Planalto, invasão de casas e terras caso o impeachment contra ela avance na Câmara.

“Isso é absolutamente inadmissível, chegar quem quer que seja dentro do palácio do governo para dizer, na frente da chefe do Executivo, que vai invadir gabinetes, propriedades, fazendas.

E a presidente ouvir e cumprimentar quem assim se pronunciou é de extrema gravidade. Ouvir de alguém dentro do palácio dizer ‘vamos pegar e sair às ruas com armas em punho’ pregando a luta armada e conflito social é inadmissível”, enfatizou.

O senador comparou o ambiente econômico em 1992 com o momento atual, em meio às duas crises políticas. Segundo Collor, seu governo era sólido e a economia estava funcionando, diferentemente de agora. Ele criticou a formação do ministério de Dilma, ressalvando “exceções honrosas”.

“Diferentemente daquele período em que, ao deixar o governo, deixei com as contas em ordem, com a economia funcionando, com um plano econômico previsível que permitiu a implementação do Plano Real, hoje não temos essa perspectiva. Hoje, não sabemos para onde estamos indo, não temos um corpo ministerial, salvo honrosas exceções, como Armando Monteiro (Desen­vol­vimento, Indústria e Comércio), que as pessoas vejam como referência e como um esteio para que possamos ultrapassar essa fase difícil”, discursou Fernando Collor.
O senador, em função de sua “condição ímpar”, de ter sido submetido ao impeachment, informou aos empresários que não diria se é contra ou a favor do afastamento de Dilma.