Ao tecer loas ao ex-ditador Alfredo Stroessner, Jair Bolsonaro demonstrou, na melhor das hipóteses, que desconhece a história

Jair Bolsonaro tem um gosto, no mínimo, peculiar em relação àqueles que admira. Já era conhecida sua idolatria por uma figura de proa do regime militar pós-64, o coronel Alberto Brilhante Ustra. Chefe do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operação de Defesa Interna, o famigerado DOI-CODI, o falecido Ustra chegou a ser condenado por tortura – justiça seja feita, também teve sentença pelo mesmo motivo derrubada.

Segundo o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles, ocorreram 50 mortes no DOI-CODI no período em que Ustra o chefiava. A denúncia foi feita por Fonteles na Comissão da Verdade. Tudo documentado. É de Ustra o livro de cabeceira de Bolsonaro, “A verdade sufocada”.

Não é novidade nenhuma que Bolsonaro tem uma visão amena do que foi a ditadura no Brasil. Já chegou a afirmar, inclusive, que os militares mataram pouco. Para o presidente, a “luta contra o comunismo” justificava os efeitos colaterais em vidas ceifadas ou mutiladas.

O presidente sempre fez questão de demonstrar apreço a líderes que comandam com mão de ferro. Em 1999, chegou a elogiar Hugo Chávez, então presidente da Venezuela. Para Bolsonaro, na época, o venezuelano representava uma “esperança para a América Latina”. O mito esperava, inclusive, que a “filosofia” chavista chegasse ao Brasil. “Acho que ele [Chávez] vai fazer o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força. Só espero que a oposição não descambe para a guerrilha, como fez aqui”, afirmou, em entrevista ao Estado de S. Paulo.

Agora conhecemos outro modelo de gestor que desperta admiração em Bolsonaro: Alfredo Stroessner. Ex-presidente do Paraguai, Stroessner chegou ao poder por meio de um golpe que derrubou o então presidente Frederico Chaves, em 1954. Ficou no poder por 38 anos.

Nesse período, Stroessner comandou uma ditatura sangrenta. A Comissão da Verdade do Paraguai estima que seu regime foi responsável pela tortura de 18 mil pessoas e o desaparecimento de outras 400. Seu governo abriu as portas para nazistas fugitivos, como Josef Mengele, médico de Auschwitz afeito a experiências eugenistas. Em um documentário, Calle de silencio, Stroessner é pintado como pedófilo.

Esse é o personagem chamado por Bolsonaro de “estadista” e “homem de visão”, durante evento de nomeação de diretores da Usina Itaipu, construída na fronteira entre Brasil e Paraguai justamente no governo de Stroessner.

As declarações repercutiram muito mal na imprensa paraguaia. Não poderia ser diferente.

Fica a dúvida: o presidente ignora a história ou a conhece bem? A segunda hipótese é a pior.