Aliança PT, PSB e PSDB vai valorizar votos de Lula em Goiás
03 abril 2022 às 00h00

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Mesmo com pesquisa apontando que Lula possui 40% dos votos do eleitorado goiano, siglas ainda relutavam em compor palanque com PT
O sistema eleitoral majoritário no Brasil tende a criar condições favoráveis a personalização do voto. O eleitor tende muito mais a escolher um candidato pela sua identificação com o candidato do que com a ideologia que ele representa – seja a direita, o centro, a esquerda e todo o espectro que há entre uma ou outra orientação política. Esse modelo cria incentivos e comportamentos que tendem a favorecer as coalizões governistas, e criam barreiras para a frentes oposicionistas. Esse é um cenário natural nas eleições brasileiras.
Candidatos cujos partidos participam simultaneamente de coalizões governistas em níveis nacional e estadual demonstram mairor capacidade de capilaridade de votos e de dominar municípios chave. Em contrapartida candidatos que se alinham no campo da oposição enfretam maiores dificuldades: sem o apoio da máquina dos governos federal e estadual, há menores recursos organizacionais, acesso a cargos e verbas de prefeitura.
Entretanto, os votos da oposição não podem ser desprezados. Em uma eleição cujo a tendência de polarização segue se confirmando. Pesquisas eleitorais e o domínio da mídia demonstram que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dominam as intensões de votos. O presidente, por estar em um cenário de reeleição, tem um forte atrativo para apoios nos estados. Sua conexão eleitoral com pré-candidatos aos governos dos estados é maior que de Lula. E talvez por isso os votos do eleitorado bolsonarista tendem a ser mais disputados nos estados.
Não difere em Goiás. Os votos bolsonaristas estão na mira não só do candidato que representa do projeto do presidente em Goiás (Major Vitor Hugo). O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (Patriota), apesar de não ter recebido a bença eleitoral de Bolsonaro, diz que manterá o apoio a ele. O eleitorado do governador Ronaldo Caiado (UB) sempre manteve semelhanças com do presidente.
Mas não há um político que se importe com o eleitorado de Lula em Goiás? Realmente transparecia que os votos declarados ao petista eram desprezados em Goiás. Mas articulações em andamento podem voltar a atenção, os discursos e propostas para essa parcela de eleitores.
A filiação do ex-governador José Eliton ao PSB, foi encarado por muitos como um movimento sem muito significado no cenário eleitoral goiano. Mas essa pode ser uma mexida simbólica e desperta para a valorização do voto que Lula e o arco da esquerda possuí em Goiás.
A última pesquisa Serpes, feita ainda em janeiro deste ano, apontou que o ex-presidente Lula possuia, em Goiás, 40% das intenções de voto. Naquele momento ele liderava a disputa para presidente entre os eleitores do Estado. Mesmo assim, com o afunilamento das articulações, as lideranças partidárias não demontravam interesse em se tornar representante do projeto de oposicionista de Lula, em Goias.
O PT goiano, claro, sempre apontou que teria um palanque para Lula no estado, mas todos seus membros se mostraram abertos a alianças que pudessem, inclusive, ter a cabeça de chapa. O ex-reitor da PUC Goiás, Wolmir Amado até então era a opção que o eleitorado lulista possuía, mas ainda sem uma possível formatação de chapa.
Agora com a recém-filiação de José Eliton, que até então estava no PSDB – como presidente licenciado do diretório goiano do partido – há uma costura para formação da chapa que represente Lula em Goiás. O ex-governador tem uma boa relação com Geraldo Alckmin, que como ele, deixou o PSDB para se filiar ao PSB e possivelmente ocupará a vice de Lula. Isso já lhe garante um bom trânsito pela aliança que se desenha.
A filiação José Eliton também estabelece uma ponte entre a esquerda e o ex–governador Marconi Perillo (PSDB). O tucano deseja retornar a política, e pode usar do palanque de Lula em Goiás para se eleger.
A aposta é de que José Eliton seja o cabeça da chapa. Wolmir ficaria com a vice. Marconi Perillo se lançaria ao Senado – a pesquisa Serpes aponta que ele tem lidera na preferência do eleitorado (16%) na disputa para senador.
A importância dos votos petistas em Goiás pode fazer com Perillo e Lula superem as profundas divergências políticas que possuem desde o Mensalão do PT, quando o goiano advertiu o então presidente da existência de compra de votos no Congresso Nacional, atitude que irritou o petista. A aproximação dos dois também afastaria os obstáculos que surgiram pela oposição feita pelo PT durante os governos do tucano em Goiás.
A perspectiva da formação de chapa entre PT, PSB e PSDB está na proposta que Lula vislumbra para se eleger presidente. A prioridade é consolidar palanques consistentes para a eleição presidencial – petistas buscam uma vítória ainda no primeiro turno.
Os votos que até então pareciam desprezados, podem ser uma importante estratégia para eleger Marconi para o Senado Essa valorização também é importante para Lula, que ganha voz, palanque e representantes com capilaridade no estado.