Aliança com a base exigiria do PL renúncia ao governo mas daria a Bolsonaro o Senado que deseja

12 abril 2025 às 21h00

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Jair Bolsonaro, em entrevista a Paulo Cappelli do Metrópoles nesta quinta-feira, 10, afirmou que há dois políticos de seu Partido Liberal cotados para disputar o Senado Federal por Goiás: Gustavo Gayer e Vitor Hugo. Ao destacar seus dois principais generais políticos para o Legislativo (Gayer o mais popular e Vitor Hugo o mais leal), o ex-presidente confirma o que já estava subentendido: para 2026, lhe interessa emplacar senadores e o presidente.
A prioridade se explica principalmente por um interesse particular, que recentemente tem movido todos os seus gestos, incluindo os atos pró-anistia. Bolsonaro quer enterrar seus conflitos com a lei e restaurar seus direitos políticos. Se o plano faz sentido (um presidente eleito com apoio de Bolsonaro compraria a briga com o STF para anistiá-lo?) é outra questão, mas a movimentação existe e tem implicações.
Nos estados, a principal implicação é a de que Bolsonaro está disposto a abrir mão do candidato a governador em troca de vagas ao Senado Federal. O ex-presidente não vai “brincar de fazer política” em campanhas ao governo para agradar líderes regionais. Senadores, afinal, podem aprovar sua anistia, governadores não. Esses políticos locais podem tentar agregar prefeitos dizendo que são candidatos a governador de Bolsonaro, mas, cada vez mais, o conto só convence a quem quer ser enganado.
Bolsonaro, que sabe que não será candidato em 2026, continua operando politicamente ao manter o eleitorado mobilizado, concentrando em si as articulações para a sucessão ao posto de legítimo representante da direita. A meta, além de escolher um “cavalo” eleitoral que o carregue pela linha de chegada na corrida à presidência da República, é ter 54 senadores — se não do PL, pelo menos simpáticos à sua causa.
A maioria seria o bastante para mudar a Constituição, aprovando a PEC para impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, entre outros. O ex-presidente, repetidas vezes, afirmou que não abre mão da prerrogativa de escolher os candidatos a senador por esse motivo.
Em entrevista ao Jornal Opção, o vereador Coronel Urzêda (PL) descreveu uma reunião que teve com líderes do PL: “Bolsonaro deixou bem claro que com sua orientação, Valdemar Costa Neto (presidente do PL nacional) vai interferir diretamente nos nomes que concorrerão ao Senado em todos os estados do Brasil, incluindo Goiás.”
Em Goiás, a disposição de abrir mão de candidatos a governador implica a possibilidade de aliança com a base do Executivo para participar da chapa governista com um candidato a senador. Novamente, o plano pode ou não funcionar para Bolsonaro, mas caso se concretize, uma implicação é óbvia: a concessão de uma grande vantagem ao pré-candidato a governador da base, Daniel Vilela (MDB).
Daniel Vilela seria um candidato fortíssimo com a reaproximação do PL de seu MDB e do UB de Ronaldo Caiado. O termo “reaproximação” é importante, porque a base é rigorosamente a mesma — antes de romperem em 2020, se apoiaram em 2018. Carlinhos do Mangão (PL), prefeito de Novo Gama, afirmou ao Jornal Opção que em 2019, quando se preparava para a disputa das eleições municipais, estava na base UB-MDB. Ainda não havia ligações com Bolsonaro, que apenas se filiou ao PL em 2021.
Como Mangão, diversos outros prefeitos revelam que PL e base compartilham o DNA. Em 18 de março deste ano, ante a possibilidade de divergência eleitoral, seis prefeitos do PL anunciaram a intenção de migrar para a base. Hoje, já são 22 prefeitos dentro do total de 26 representantes do PL que falam abertamente na possibilidade de ir ao MDB ou UB.
Outros não falaram em mudar de partido, mas suas biografias revelam o parentesco histórico: Márcio Corrêa (prefeito de Anápolis do PL) foi presidente do MDB no município e contou com o apoio de Daniel Vilela em sua candidatura a deputado federal em 2022 e na disputa pela Prefeitura de Anápolis em 2024, por exemplo. As bases nunca estiveram totalmente dissociadas.
Zé Délio (MDB), presidente da Associação Goiana de Municípios (AGM), explicou o motivo em entrevista ao Jornal Opção: “É praticamente impossível governar sem o apoio do Estado, ainda mais com uma gestão realizadora como a atual”. A verdade é que muitos prefeitos que se elegeram pelo PL em 2024 imaginavam que a reaproximação com o governo aconteceria, e administrar sem Caiado e Vilela nunca esteve em seus projetos.
Por isso, não se pode falar em adesão ao UB-MDB, já que a identificação com a base de Caiado é anterior; o que houve foi o embarque dos prefeitos na legenda de Bolsonaro pela onda conservadora (e porque em 2023 Bolsonaro prometeu gravar vídeos em apoio aos candidatos a prefeito). Essas motivações ainda existem: os eleitorados ainda são conservadores e Bolsonaro ainda é um líder popular.
Por isso, os prefeitos querem continuar no PL, e apenas vão deixá-lo caso o Partido Liberal os obrigue a romper com o governo estadual em 2026. Por ainda acreditar na possibilidade de aliança, os 26 prefeitos permanecem no partido… por enquanto.
Do ponto de vista do PL, esta identificação com a base do governo em Goiás é mais uma razão para agilizar uma aliança regional: o partido só evita a debandada de seus prefeitos caso celebre o acordo. É uma situação de necessidade que se justifica das duas pontas — por um lado, se suspende o risco de perda de lideranças, do outro, há a motivação de emplacar um senador a mais.
Uma chapa de Daniel Vilela como candidato a governador, um vice ainda indefinido do União Brasil, Gracinha Caiado (UB) como candidata a senadora, reforçada por um candidato do PL a senador — essa chapa seria uma aposta certa para os três partidos envolvidos. Gustavo Gayer (se não tiver problemas com a justiça em 2026) ou Vitor Hugo podem selar o pacto e Bolsonaro e Valdemar sabem disso.