Os idealizadores do projeto entendem que “a reflexão levará à ressignificação, em que os goianos se apropriem dos valores herdados de seus ancestrais indígenas, afro, mameluco-paulista e portugueses, além de outros povos que se juntaram àqueles para a formação do grande território multicultural que se chama Goiás”

Em reunião online pela plataforma Meet, reuniu-se no último dia 15, terça-feira, cerca de 40 intelectuais que participam do projeto “Goiás +300 – Reflexão e Ressignificação”, promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e Sociedade Goiana de História da Agricultura (SGHA).

“Goiás +300” é um projeto coletivo, sem participação governamental de qualquer instância, que envolverá cerca de 200 intelectuais de diversas áreas (historiadores, geógrafos, cientistas sociais, antropólogos, arqueólogos, jornalistas, agrônomos, veterinários, médicos, advogados, arquitetos, engenheiros, designers, artistas plásticos, gestores culturais, desembargadores, promotores de justiça, escritores, professores, poetas, dentre outros), representando quase 30 instituições culturais. O esforço se estenderá pelos próximos três anos (2022-2024), com meta de publicação de vinte livros sobre a história goiana, abrangendo diversos temas: história político-administrativa; geografia; literatura; música; arte e cultura; artes plásticas; povos originários e territorialidade; povos formadores; agropecuária; memória e patrimônio; meio-ambiente; movimentos sociais e coletivos; transculturalidade; jornalismo e imprensa; ciência e tecnologia; direito e justiça; economia, indústria e comércio; folclore, saberes e cultura popular; saúde e sabores; e medicina, dentre outros, a serem definidos durante a construção do projeto.

O presidente Jales Mendonça, do IHGG, diz que “o objetivo da ‘Coleção GOIÁS +300’ é deixar um marco na historiografia goiana com o olhar atual, sem o viés meramente colonizador, abrindo espaço para outros olhares, mais críticos e inclusivos”. O projeto – que tem como lema “Reflexão e Ressignificação” –, busca a inclusão, ao congregar diferentes olhares e propiciar a cosmovisão de pesquisadores indígenas e quilombolas, além de objetivar a ressignificação da história tradicional, escrita sob perspectiva do colonizador e em outros contextos históricos e sociais.  

A escolha do nome do projeto teve a participação da Associação Nacional de Historiadores – Secção de Goiás (Anpuh-GO), que sugeriu o “mais” (+) antes do 300, proposto pela doutora Thaís Alves Marinho, socióloga, coordenadora do Curso de Mestrado em História da PUC-Goiás e uma das diretoras da Anpuh-GO.

O “+300”, em alusão à chegada dos mamelucos bandeirantes – cuja efeméride é relembrada neste ano –, aponta 300 anos de continuidade de milhares de outros da história dos povos originários que os precederam, construindo o território hoje denominado Goiás. “A ideia é evidenciar que a história deste estado não começou com a chegada dos bandeirantes paulistas, mas com os povos originários que habitavam este território”, completa a líder indígena Tapuia e professora Eunice (“Pirkodi”) da Rocha Moraes Rodrigues, graduada em Licenciatura Intercultural, especialista em Gestão Pedagógica, mestra em Performances Culturais e doutoranda em Direitos Humanos (todos pela Universidade Federal de Goiás), entusiasta do projeto.

Para a professora Tereza Caroline Lôbo, doutora em Geografia pelo IESA-UFG, que participa de vários grupos do projeto, “há que se buscar uma diversidade historiográfica, mais contextualizada, através de metodologias diversas, científicas, sem olvidar os conflitos historicamente existentes durante a ocupação do território pelo colonizador”. Os idealizadores do projeto entendem que “a reflexão levará à ressignificação, em que os goianos se apropriem dos valores herdados de seus ancestrais indígenas, afro, mameluco-paulista e portugueses, além de outros povos que se juntaram àqueles para a formação do grande território multicultural que se chama Goiás”.

Na primeira fase do projeto, já em execução, serão produzidos sete livros com os respectivos organizadores: Literatura (Bento Fleury, do ICEBE, e Átila Teixeira, da PUC-Goiás); História (Eliézer Oliveira e Thales Vaz Costa, ambos da UEG); Geografia (Eguimar Felício Chaveiro, do IESA/UFG e Ricardo Assis, da UEG); Agricultura (Sandro Dutra e Silva, da UEG e UniEvangélica e Nilson Jaime, da SGHA), em julho de 2022. Em dezembro deste ano serão publicados Música (Organizado por Aline Santana Lôbo e Tereza Caroline Lôbo), Memória e Patrimônio (Lenora Barbo e João Guilherme da Trindade Curado) e Bandeirismo e colonização (Luciana Helena Alves da Silva, da UFG). A cada nova fase será acrescido cinco novos títulos à coleção. Os livros comportarão dezenas de autores, com artigos de opinião. A curadoria da coleção é do presidente do IHGG, Jales Guedes Coelho Mendonça e deste autor.

A reunião virtual contou com representantes das seguintes instituições culturais: Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG); Associação Nacional de Historiadores (Anpuh-GO), Academia Goiana de Letras (AGL); Instituto Bernardo Élis para os Povos do Cerrado (ICEBE); Academia Feminina de Letras e Artes (Aflag); Academia Goianiense de Letras (AGnL); União Brasileira de Escritores (UBE-GO); Academia Pirenopolina de Letras e Artes (Aplam); Academia Palmeirense de Letras, Artes, Música e Ciência (Aplamc), Eco-Academia de Terezópolis; Academia de Letras e Artes de Anicuns (ALAA); Instituto Altair Sales; Academia Caçuense de Letras; Associação Goiana de Imprensa (AGI); Associação Goiana de Artes Visuais (AGAV) e das seguintes universidades: UFG, UEG, PUC-Goiás, Instituto Federal Goiano (IFG) e UniEvangélica. O Movimento Negro Unificado (MNU) foi representado pelo advogado e escritor Martiniano José da Silva – um dos fundadores da instituição –, que vai escrever sobre “Os Quilombos em Goiás”. Participou também o professor Sinvaldo Wahucá Iny, indígena Karajá, docente da Secretaria de Estado de Educação (Seduc-Goiás). O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) foi convidado a participar, além de outras instituições de historiadores ligadas a estudos indígenas e afros, dentre outros.

Colóquios Virtuais

De março a dezembro de 2022 acontecerá mensalmente os “Colóquios Virtuais Bernardo Élis / Goiás +300”, com o objetivo de discutir questões pontuais de cada tema, sem contudo abranger todo o conteúdo dos livros. Os links de acesso pelo Meet e YouTube serão divulgados mensalmente nas redes sociais.

Confira a programação:

Colóquio 1 – “Panorama histórico da Literatura feita em Goiás”

Dia: 05/03/2022 (sábado) das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Prof. Dr. Bento Jayme Fleury Curado (Presidente do Instituto Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado – ICEBE)

Palestrantes:

  • Prof. Álvaro Catelan (ICEBE)–“A Semana de Arte Moderna”
  • Prof. Dr. Átila Teixeira (PUC-Goiás) – “Bernardo Élis, primeiro modernista das Letras Goianas”
  • Profª Drª Maria Helena Chein (AGL/UFG-aposentada) – “Grupo de Escritores Novos (GEN)”

Colóquio 2 – “Povos originários e Territorialidade”

Dia: 09/04/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Prof. Dr. Altair Sales Barbosa (Presidente do Instituto Altair Sales)

Palestrantes:

  • Profª Drª Marlene Castro Ossami de Moura (IGPA/PUC-Goiás) – “Diversidade Cultural dos povos indígenas no Brasil”
  • Prof. M.Sc. Sinvaldo Wahuká Iny (Seduc-Goiás) – “O povo Iny (Karajá) de Aruanã”
  • Profª M.Sc. Eunice Pirkodi Tapuia (Doutoranda em Direitos Humanos / UFG) – “O povo Tapuaia do Carretão”

Colóquio 3 – “Aspectos da História de Goiás”

Dia: 14/05/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Prof. Dr. Eliézer Oliveira (UEG)

Palestrantes:

  • Prof. Dr. Thales Vaz Costa (UEG/ICEBE) – “A Independência do Brasil no contexto de Goiás”
  • Prof. Dr. Itami Campos (UniEvangélica/IHGG/AGL, UFG-aposentado) – “Coronelismo em Goiás”
  • Prof. Dr. Jales Mendonça (Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás – IHGG) – “Goiânia e o mudancismo condicionado”

Colóquio 4 – “Fragmentação territorial e impactos antrópicos em Goiás”

Dia: 04/06/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Prof. Dr. Eguimar Felício Chaveiro (IESA-UFG/IHGG)

Palestrantes:

  • Profª Drª Celene Cunha Monteiro Antunes Barreira (IESA-UFG, aposentada) – “A fragmentação territorial de Goiás”
  • Prof. Dr. Ricardo Assis (UEG/Icebe) – “A mineração na formação socioespacial de Goiás”
  • Prof. Dr. Valdir Specian (UEG/Icebe) – “A questão ambiental na formação de Goiás”

Colóquio 5 – “O bandeirismo e o neo-povoamento de Goiás”

Dia: 09/07/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Escritor Ubirajara Galli (Presidente da Academia Goiana de Letras)

Palestrantes:

  • Prof. Dr. Nilson Jaime (SGHA/IHGG/ICEBE) – “Mamelucos paulistas rumo ao Oeste no Brasil colonial”
  • Prof. Dr. Luiz Estevam (PUC-Goiás) – “A Estrada dos Goyazes”
  • Profª Drª Luciana Helena Alves da Silva (UFG) – “A formação dos primeiros arraiais goianos”

Colóquio 6 – “Memória e Patrimônio”

Dia: 06/08/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Profª Drª Tereza Caroline Lôbo (APLAM)

Palestrantes:

  • Dra. Lenora Barbo (ICEBE) – “Patrimônio Material em Goiás”
  • Prof. Dr. João Guilherme Curado (Seduc-GO/APLAM/ICEBE) – “Festas Populares e herança afro em Goiás”.
  • Profª Dra. Sibeli Viana (PUC-Goiás) – “Patrimônio Arqueológico do Estado de Goiás”

Colóquio 7 – “Aspectos da Música em Goiás”

Dia: 10/09/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Profª, M.Sc. Aline Santana Lôbo (Presidente da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música – APLAM)

Palestrantes:

  1. Prof. Dr. Fernando Cupertino (Instituto Sicoob/UFG/ICEBE) – “Modinhas, canções e o cancioneiro popular goiano”
  2. Prof. Dr. Maestro Marshall Gayoso (IFG) – Música Colonial em Goiás
  3. Prof. Dr. Othaniel Alcântara (EMAC-UFG) – “Música Orquestral em Goiânia (1937-2017)

Colóquio 8 – “Agricultura e Pecuária na formação econômica de Goiás”

Dia: 08/10/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Prof. Dr. Nilson Jaime (presidente da Sociedade Goiana de História da Agricultura -SGHA)

Palestrantes:

  • Prof. Dr. Sandro Dutra e Silva (UniEvangélica/UEG/IHGG/SGHA) – “História Ambiental do Cerrado”
  • Profª Drª Maria Clorinda Fioravanti (EVZ-UFG/SGHA) – “A pecuária como fator de desenvolvimento de Goiás”.
  • Jornalista Wandell Seixas (AGI/SGHA) – “Agricultura quilombola, familiar e agronegócio na economia goiana”.

Colóquio 9 – “Participação afrodescendente na formação de Goiás”

Dia: 19/11/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Profª Dra. Thais Marinho (PUC-Goiás)

Palestrantes:

  • Prof. Ms. Martiniano José da Silva (MNU/AGL/IHGG/ICEBE) – “Resistência dos povos afros em uma nação escravocrata”.
  • Profª M.Sc. Adélia de Freitas Silva (ICEBE) –“Chica Machado e a resiliência da mulher negra na sociedade goiana”
  • Prof. M.Sc. Wanderson Alves Barbosa (ICEBE/ALAA) – “Cotas para afrodescendentes no Século XXI: préstimo ou reparação?”

Colóquio 10 – “Alguns aspectos das artes plásticas em Goiás”

Dia: 03/12/2022 (sábado), das 9 às 11 horas.

Coordenação:

  1. Valdir Ferreira (Presidente da Associação Goiana de Artes Visuais –AGAV)

Palestrantes:

  • Prof. M.Sc. Emílio Vieira das Neves (AGL / EAV-UFG) – “As artes plásticas na antiga e na nova capital”
  • Profa. Dra. Edna de Jesus Goya (EAV-UFG) – “A arte da gravura em Goiás: 1950-2000)
  • Rosy Cardoso, M.Sc. (Agavi/Aflag/ICEBE) – “Naif, Arte Popular e Arte de Rua em Goiás”