Pode-se sugerir Brasília é filha de Goiânia. Sem a capital goiana, será que Juscelino Kubitschek teria edificado uma nova cidade no Centro-Oeste? Talvez não. A capital goiana é, certamente, inspiradora da capital nacional

Se fosse convidado para cantar no aniversário de Pedro Ludovico, Raul Seixas poderia cantar: “Pedro onde cê vai eu também vou, Pedro onde cê vai eu também vou/É que tudo acaba onde começou”. O fundador de Goiânia nasceu em 23 de outubro de 1891. Médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a política logo o chamou para lutar contra a oligarquia que governava Goiás. Pedro Ludovico chegou ao poder goiano após a vitória da Revolução de 1930. Ele conquistou a confiança de Getúlio Vargas e foi nomeado interventor federal.

Mauro Borges, Juscelino Kubitschek (que foi senador por Goiás) e Pedro Ludovico Teixeira

Pedro Ludovico colocou em prática a ideia de construir uma nova capital para Goiás. Se teve uma revolução no Brasil, esses novos ares vindos do Rio de Janeiro precisavam arejar Goiás. Encravada na Serra Dourada, Vila Boa já não tinha condições para continuar sendo a capital goiana. Começava a disputa entre quem defendia a transferência da capital e os favoráveis à permanência. Com a caneta na mão, Pedro assinou a transferência e estamos conversados. Começava a construção da nova capital nas cercanias de Campininha das Flores. Surgia Goiânia, capital planejada, plana, com suas avenidas partindo da Praça Cívica para várias direções. No dia 24 de outubro de 1933, a pedra fundamental foi lançada. Getúlio Vargas foi o primeiro Presidente da República a visitar a nova capital goiana.

Assim como Vargas deixou o Catete em 1945 entregando um Brasil totalmente diferente do que recebeu, Pedro Ludovico também saiu do governo goiano com a nova capital inaugurada. Ele voltou ao governo anos depois e, na década de 1960, elegeu -se senador por Goiás tendo o mandato cassado em 1969. No final dos anos 1970, o jornalista Jackson Abrão convidou Pedro Ludovico para dar uma volta por Goiânia. A TV Anhanguera registrou o momento que o criador reencontrava sua criatura. Imagino a emoção dele ao ver a cidade tão viva, tão próspera.

Pedro Ludovico morreu em 16 de agosto de 1979. Não ao som de “Meu amigo Pedro”, de Raul Seixas, mas de “La Cumparsita”, seu tango predileto.