Palácio do Catete aproximava o povo do poder; o Palácio do Planalto mantém o povo à distância

24 fevereiro 2023 às 09h16

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Logo após a Proclamação da República, a sede do Poder Executivo era o Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio de Janeiro. Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil, costumava ir até lá de bonde. Em 24 de fevereiro de 1897, a sede do Executivo federal se mudou para o Palácio do Catete, a poucos metros do mar. Naquela época, não tinha o Aterro do Flamengo, então o som das ondas poderia ser ouvido dali.
O Catete é lembrado como o local onde Getúlio Vargas se suicidou, em agosto de 1954, com um tiro no coração (e, com isto, evitou o golpe de Estado, que acabou ocorrendo mais tarde, em 1964).

Com a inauguração de Brasília, em 1960, a sede do Executivo foi transferida para o Palácio do Planalto. Um dia antes de viajar para a inauguração da nova capital federal, o presidente Juscelino Kubitschek fechou os portões do palácio simbolizando o encerramento de uma era na história brasileira. Foram 63 anos de presidentes, ministros, assessores e curiosos entrando, saindo ou só olhando aquele palácio. Eu seria um dos curiosos. Queria ver se o presidente da República sairia do seu gabinete e atravessaria a rua para tomar um café no bar da esquina.
O que fazer com o belo palácio após a inauguração de Brasília? O escritor Josué Montelo sugeriu a Juscelino Kubitschek que o Catete se transformasse em Museu da República. A sugestão foi acatada e, até hoje, perto da entrada principal tem a placa da sua inauguração, em 8 de março de 1960. Lá o visitante encontra a mesa onde Getúlio Vargas fez a última reunião ministerial e, no andar de cima, a cama onde ele se deitou no derradeiro 24 de agosto de 1954, o revólver e a bala da qual ele saiu da vida e entrou para a história.
O povo ficava mais perto do presidente quando o Catete era a sede do Executivo. Não precisava de rampa para subir no dia da posse. O Planalto isola o presidente, o afasta da realidade (mas não de invasões de golpistas). Ao invés da brisa do mar, a secura do Cerrado. Mas é preciso admitir: a arquitetura, de responsabilidade de Oscar Niemeyer, é mesmo linda. A beleza do Céu, que parece próximo de nossas cabeças, também é impressionante.