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Metade do Congresso é incapaz, e a outra metade é capaz de tudo. — Jânio Quadros

Durante o debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, em 1982, realizado pela TV Bandeirantes, Franco Montoro perguntou para Jânio Quadros sobre a sua renúncia à Presidência da República, em agosto 1961. Segundo o candidato do PMDB, a renúncia custou mais caro que a construção de Brasília.

Jânio Quadros perguntou de onde veio tal informação e Montoro pegou o livro “Depoimento” de Carlos Lacerda. E o ex-presidente disse: “Ah, sei! Está dispensada a citação. O senhor acaba de querer citar as Escrituras valendo-se de Asmodeus ou de Satanás”. Todos caíram na gargalhada, até o discreto Franco Montoro abriu um sorriso.

A renúncia custou caro para o Brasil. Jogou o país em uma crise político-militar que culminou no golpe de 1964. A vassoura que iria varrer a bandalheira fracassou.

Jânio Quadros desinfeta a poltrona da Prefeitura de São Paulo na qual Fernando Henrique Cardoso havia sentado; ele foi eleito prefeito e o sociólogo foi derrotado | Fotos: Reproduções

Jânio Quadros queria dar um golpe e se tornar um ditador. O plano estava todo armado na cabeça: seu vice João Goulart foi enviado para uma missão diplomática na China. A renúncia se deu em 25 de agosto de 1961, Dia do Soldado. As Forças Armadas não deixariam Jango assumir a Presidência, logo ele ligado aos varguismo e aos sindicatos. O povo que votou em Jânio sairia às ruas e exigiria a sua permanência.

O Congresso veria a força do presidente e aceitaria tudo o que ele pedisse. Mas, como dizia Garrincha, “só falta combinar com os russos”. O povo não apareceu, o Congresso aceitou a renúncia e Jango já estava embarcando de volta para o Brasil. Essa brincadeira custou 21 anos de ditadura. Não a de Jânio, mas a militar, com apoio de vários civis, alguns deles de Goiás.

Os sete meses que esteve na Presidência foram marcados por uma política externa independente e medidas moralistas.

No final da ditadura, Jânio Quadros votou à cena política se candidatando ao governo paulista, em 1982, cargo que já tinha ocupado na década de 1950. Ele arrancou risos do público no debate da Bandeirantes, mas não o voto do eleitor, pois o vitorioso daquele pleito foi Franco Montoro.

Em 1985, Jânio Quadros voltaria a se candidatar à Prefeitura de São Paulo, outro cargo já ocupado por ele. Desta vez, venceu. Superou Fernando Henrique Cardoso, que, depois, se tornou presidente da República.

O mato-grossense Jânio da Silva Quadros morreu em 16 de fevereiro de 1991, aos 75 anos.