O múltiplo Gonçalves de Magalhães: conheça a vida do poeta pioneiro do romantismo

10 julho 2023 às 12h00

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Admiro demais esses personagens de nossa história que exerceram múltiplas funções. Hoje parece que tudo se especializa cada vez mais e a gente acaba se esquecendo daqueles sujeitos que foram múltiplos. Um deles foi Gonçalves de Magalhães. Ele foi médico, poeta, diplomata, ensaísta. Na literatura, Gonçalves Magalhães foi um dos pioneiros do movimento romântico.
Ele nasceu em 1811, no Rio de Janeiro. Formou-se em medicina em 1832 e partiu em viagem para a Europa aperfeiçoar seus estudos médicos. Se a poesia o encantava na juventude, essa passagem pelo Velho Mundo o fez conhecer o Romantismo, movimento literário que destacava o nacionalismo e o indivíduo. Voltando para o Brasil, Magalhães trouxe consigo a novidade romântica. Escreveu o poema “Confederação dos Tamoios”, que mostrava sua visão fantasiosa da vida indígena.
Apesar do seu pioneirismo no Romantismo brasileiro, a crítica literária não foi favorável à escrita de Gonçalves Magalhães. Ele também foi alvo das críticas do escritor José de Alencar. Eram tempos bastantes agitados em nossa cultura, com novidades e polêmicas. Porém, o poeta médico não teve só desafetos no meio literário. Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre eram seus amigos de escrita.
Provando sua multiplicidade, Magalhães atuou na diplomacia brasileira. Em 1847, começou sua carreira nas relações internacionais e atuou em missões diplomáticas na Argentina, França, Itália e no Vaticano. O poeta morreu em 10 de julho de 1882, em Roma. Suas obras estão disponibilizadas na internet.
Poema de Gonçalves de Magalhães
A Beleza
Oh Beleza! Oh potência invencível,
Que na terra despótica imperas;
Se vibras teus olhos
Quais duas esferas,
Quem resiste a teu fogo terrível?
Oh Beleza! Oh celeste harmonia,
Doce aroma, que as almas fascina;
Se exalas suave
Tua voz divina,
Tudo, tudo a teus pés se extasia.
A velhice, do mundo cansada,
A teu mando resiste somente;
Porém que te importa
A voz impotente,
Que se perde, sem ser escutada?
Diga embora que o teu juramento
Não merece a menor confiança;
Que a tua firmeza
Está só na mudança;
Que os teus votos são folhas ao vento.
Tudo sei; mas se tu te mostrares
Ante mim como um astro radiante,
De tudo esquecido,
Nesse mesmo instante,
Farei tudo o que tu me ordenares.
Se até hoje remisso não arde
Em teu fogo amoroso meu peito,
De estóica dureza
Não é isto efeito;
Teu vassalo serei cedo ou tarde.
Infeliz tenho sido até agora,
Que a meus olhos te mostras severa;
Nem gozo a ventura,
Que goza uma fera;
Entretanto ninguém mais te adora.
Eu te adoro como o anjo celeste,
Que da vida os tormentos acalma;
Oh vida da vida,
Oh alma desta alma,
Um teu riso sequer me não deste!
Minha lira que triste ressoa,
Minha lira por ti desprezada,
Assim mesmo triste,
Assim malfadada,
Teu poder, teus encantos pregoa.
Oh Beleza, meus dias bafeja,
Em teu fogo minha alma devora;
Verás de que modo
Meu peito te adora,
E que incenso ofertar-te deseja.