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Meu pai acertava o relógio dele não de acordo com o Horario de Brasília, mas sim na hora exata que começava o Jornal Nacional. Ele olhava para o relógio de pulso e dizia “Tá na hora do Jornal”. Dito e feito! Ao ligar a televisão, lá estavam Cid Moreira e Sérgio Chapelin informando as notícias mais importantes do Brasil e do mundo. Naquela época, o Jornal Nacional começava às 20 horas e tinha trinta minutos de duração. Eu era criança e ficava sentado no chão da sala brincando, mas reparando nas vozes e nos rostos daqueles dois apresentadores do Jornal Nacional.

Desde o dia 1o de setembro de 1969 que o noticiário noturno da Rede Globo reunia a família brasileira para acompanhar as notícias. Em sua primeira edição, o Jornal Nacional começou com a voz de Cid Moreira dizendo: “No ar, Jornal Nacional. A notícia unindo 70 milhões de brasileiros”. A ideia do jornal era justamente ser essa ligação entre as mais variadas regiões do país. Em 1984, a Globo lançou o livro sobre os 15 anos do Jornal Nacional. Vale a pena lê-lo. Durante muito tempo disseram que o nome do jornal era por causa do seu patrocinador, o Banco Nacional. Mas, o livro desmente esse boato e afirmava que o “Nacional” era o alcance do Jornal.

Ao longo do tempo, o JN ampliou sua audiência. Só os noveleiros que não viam a hora dos apresentadores darem o Boa Noite para assistirem mais um capítulo da novela preferida. Cid Moreira contou uma vez que uma senhora o parou na rua e pediu para que ele lesse ad notícias mais rápido para começar logo a novela. Era um desafio para a dramaturgia manter a audiência entregue pelo Jornal Nacional.

Hoje o JN não tem mais o poder de influência como tinha antigamente, mas continua sendo o noticiário mais assistido da Globo e seu horário comercial, o mais valorizado. Eu sinto saudade do meu pai olhando no relógio e indo para a sala ver o Jornal Nacional.

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