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Estes homens de farda que aparecem na foto que ilustra este texto iriam decidir a sucessão presidencial em setembro de 1969. Uma sucessão sem campanha eleitoral, sem santinhos nas ruas, sem candidatos beijando bebês, abraçando senhoras e prometendo um Brasil mil vezes melhor. Trocando em miúdos, mais uma eleição presidencial da ditadura militar sem a participação do povo. A sucessão do Marechal Arthur da Costa e Silva foi feita a portas fechadas, com muitas incertezas. O presidente linha dura fora afastado dos comandos do Brasil após sofrer uma isquemia cerebral. Seu vice, Pedro Aleixo, foi impedido de assumir o cargo porque se opôs à publicação do Ato Institucional número 5. Quem governava o país era a Junta Militar formada pelos três ministros que representavam as Forças Armadas.

O jornalista Murilo Melo Filho escreveu para a Revista Manchete, edição 910, sobre o agitado setembro de 1969. Começou com a doença de Costa e Silva, teve o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick e a escolha de um novo Presidente da República. Não se sabia se Costa e Silva iria recuperar a saúde. Com a esquerda partindo para a luta armada e sequestrando embaixador do maior aliado do Brasil, a Junta Militar não queria perder tempo e decidiu fazer a sucessão.

A foto publicada neste texto saiu na Revista Manchete e tinha como legenda: “Reunidos à mesma hora, mas em locais diferentes, generais, almirantes e brigadeiros, estudam a situação atual do Brasil”. Com o Congresso Nacional em recesso desde 13 de dezembro de 1968, quando o Ato Institucional número 5 foi publicado, “a situação atual do Brasil” estava nas mãos dos homens de farda enquanto os civis, de casa, esperavam alguma notícia. Se é que a notícia viria já que a imprensa estava sob censura.

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