As melhores charges sobre Carlos Lacerda

01 fevereiro 2023 às 12h12

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Políticos performáticos são prato cheio para os cartunistas. Carlos Lacerda foi um político muito caricaturado e contribuiu para a construção de sua imagem até hoje lembrada pelas pessoas. Seu discurso agressivo seja na Câmara dos Deputados, seja no rádio, seja na televisão, causava tumulto na política e a alegria de quem fazia desenhos para jornais e revistas. As charges que o representaram mostram um Lacerda verborrágico, irritado, agressivo, com cara de poucos amigos. Aqui você vai ver duas charges que retrataram um pouco da vida política deste personagem ímpar de nossa história.

Não tem como falar de charges sobre Carlos Lacerda e não começarmos pelo “Corvo”. Criação do desenhista Lan e constantemente publicada no jornal Última Hora (cujo dono era Samuel Wainer, desafeto de Lacerda), a charge mostrava Lacerda na figura do corvo, a ave do mal agouro. A caricatura pegou e seus adversários o chamavam pelo apelido. Dizem que Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas, se referia à Lacerda dessa forma. Para demonstrar que não ligava para a brincadeira, ele próprio tinha um corvo em seu sítio em Petrópolis (RJ).

Tudo começou em maio de 1954. O jornalista Nestor Moreira investigava a violência policial no Rio de Janeiro e foi espancado por policiais. Levado ao hospital, o jornalista morreu dias depois. Os cariocas lamentaram a morte dele e seu enterro foi marcado pela consternação e revolta. Carlos Lacerda compareceu ao Cemitério São João Batista para prestar homenagem ao morto. Vestido de preto, parecia sentir a dor da morte do jornalista como se fosse uma pessoa próxima, mas a sua ligação com o jornalista não era tão próxima assim. Samuel Wainer estava presente ao enterro e se surpreendeu com o luto do seu desafeto. Ao ver Lacerda todo de preto, Wainer não pensou duas vezes em chamar o chargista Lan para que fizesse uma caricatura. Era a resposta para os constantes ataques que Lacerda fazia à Wainer e aos seu “Última Hora”. Surgia assim a imagem do “corvo”.

Desde então, Lacerda foi retratado como a ave do mal agouro da política. Em agosto de 1961, ele era governador da Guanabara e fez um discurso na televisão denunciando o que seria uma tentativa de golpe do ex-presidente Jânio Quadros, que pretendia governar sem a participação do Congresso. No dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros entregava para o Congresso Nacional uma carta anunciando a sua renúncia da Presidência da República. É claro que o “Última Hora” não perderia a oportunidade de retratar Lacerda como o corvo e conectá-lo com a crise que acabara de estourar em nossa República. Como se vê na imagem acima, o então governador da Guanabara é retratado como o corvo novamnete e se fez uma referência ao suicídio de Vargas: “Arre! Desta vez errei por um dia”. A renúncia de Jânio ocorreu um dia depois do aniversário de sete anos da morte de Vargas.

Carlos Lacerda foi um exímio orador. Até mesmo os adversários reconheciam a sua qualidade com as palavras ditas no Parlamento ou na imprensa. Outro que reconhecia a oratória lacerdista foi o cartunista Lan, que o retratou como corvo salivando a cada fala sua. Quando pensamos em Lacerda, a primeira imagem que nos vem à memória não é a do construtor do Estado da Guanabara ou do exímio tribuno, mas a do corvo. É preciso depenar a ave do mal agouro para conhecermos a inteireza de Carlos Lacerda.