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“Vim para promover as mudanças, mudanças políticas, mudanças econômicas, mudanças sociais, mudanças culturais, mudanças reais, efetivas, corajosas, irreversíveis.” Tancredo Neves prometia mudar o país. Ele foi eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985. Por 480 a 180, Tancredo derrotava Paulo Maluf, candidato governista. O político mineiro, prestes a completar 75 anos, colocava um ponto final na ditadura civil-militar iniciada em 1964. Os brasileiros queriam mudanças e Tancredo as prometia em seu discurso após a eleição.

Acenando para os parlamentares da mesa diretora da Câmara dos Deputados, talvez tenha passado um filme na cabeça de Tancredo. É provável que ele tenha recordado a dramática sessão do Congresso, em 1º de abril de 1964, quando o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República. Tancredo foi um dos senadores que protestaram contra tal ato. João Goulart, presidente deposto pelos militares, ainda estava em solo brasileiro e Auro jamais poderia tomar tal medida. Começava ali, no Dia da Mentira, uma longa noite que só se encerraria em 15 de janeiro de 1985, com a eleição do mesmo Tancredo Neves.

Tancredo já articulava a sucessão do general João Figueiredo, último presidente da ditadura, desde o começo dos anos 1980. Sua liderança foi nacionalmente reconhecida durante os comícios pelas Diretas Já. Como a emenda Dante de Oliveira não conseguiu os votos necessários para a sua aprovação, as eleições presidenciais diretas só aconteceriam em 1989. “Não vamos nos dispersar”, disse Tancredo tentando motivar novamente as pessoas para não desistirem da redemocratização. Ele e Ulysses Guimarães foram os dois rostos mais conhecidos dos brasileiros neste período de transição da ditadura para a democracia.