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Ainda celebrando o mês das crianças, essa semana, destacamos uma obra cativante do compositor francês Gabriel Fauré: a Suíte Dolly, composta para piano a quatro mãos.

Escrita entre 1893 e 1896, essa coleção de pequenas peças foi dedicada à jovem Hélène Bardac, carinhosamente chamada de “Dolly” por sua família. Hélène era filha da cantora Emma Bardac, amiga próxima de Fauré. Cada uma das seis peças da suíte celebra aniversários e outros momentos especiais da infância de Dolly.

A primeira peça, Berceuse, é uma suave canção de ninar composta para o primeiro aniversário de Dolly. Com uma melodia lírica e acolhedora, ela reflete o carinho do compositor pela menina. Em seguida, temos a divertida Mi-a-ou, que brinca com as tentativas de Dolly de dizer o nome de seu irmão, Raoul. Fauré transforma essa simplicidade infantil em uma peça cheia de charme e leveza.

Jardim em Giverny, 1895, Monet | Foto: Reprodução

A terceira peça da suíte, Le jardin de Dolly, foi composta como presente de Ano Novo de 1895,  inclui uma citação musical da Primeira Sonata para Violino de Fauré, uma surpresa para quem é atento aos detalhes.

A quarta , Kitty-valse,  é uma valsa rápida e animada que homenageia o cachorro de estimação da família Bardac, chamado Ketty. Fauré retrata o animal de forma vivaz e divertida. A quinta, Tendresse, Composta em 1896, foi originalmente dedicada a Adela Maddison. Sua melodia suave e uso moderno do cromatismo a tornam uma obra que antecipa o estilo mais maduro que Fauré desenvolveria em seus Noturnos.

A suíte encerra-se com a vibrante Le Pas Espagnol, uma dança enérgica inspirada em uma estátua equestre espanhola que Dolly adorava, trazendo um final grandioso e festivo à coleção.

Mais do que uma simples homenagem à infância, a Suíte Dolly é um exemplo da habilidade de Fauré em criar atmosferas ricas e coloridas, mesmo em peças curtas e aparentemente simples. Ela também tem um significado pessoal para o compositor, já que ele frequentemente tocava essas peças com crianças, reforçando a prática do piano a quatro mãos como um momento íntimo e familiar.

Com sua escrita delicada e tocante, essa obra encanta tanto pianistas quanto o público em geral, adultos e crianças. A música de Fauré, aqui, é uma celebração da leveza e alegria da infância, sem nunca perder a profundidade emocional que caracteriza suas composições.

Gabriel Fauré tocando a quatro mãos com a pequena Srta. Lombard, filha de seus anfitriões em Trevano, Lago di Lugano, 1913 | Foto: Domínio Público

A primeira apresentação pública da Suíte Dolly foi realizada pelos pianistas Alfred Cortot e Édouard Risler. O próprio Fauré gostava de tocar a obra, tanto em apresentações públicas quanto em encontros familiares, em uma prática que reforça a tradição do piano a quatro mãos em momentos íntimos de convivência.

Ouviremos a interpretação da Suíte Dolly opus 56 pelos pianistas Miguel Rosseline, de Minas Gerais, e Celina Szrvinsk, talentosa pianista goiana.

Observe o quanto eles, juntos, capturam a inocência e o lirismo da obra de maneira singular, trazendo à tona toda a leveza e expressividade características de Fauré.