Quando o Brasil reencontra Chopin

12 agosto 2025 às 11h50

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Em outubro, o Brasil abre as portas para um reencontro com Frédéric Chopin, um dos nomes mais amados do piano. A terceira edição do Festival Chopin, a ser realizada pela Sociedade Chopin do Brasil em parceria com a Fundação Osesp e a Casa Sangusko de Cultura Polonesa, reunirá jovens pianistas que já brilharam no Concurso Chopin de Varsóvia, um dos mais prestigiosos concursos de piano do mundo.

A programação acontecerá na Sala São Paulo e no Theatro Municipal. Na data de 2 de outubro – Alexander Gadjiev, 2º lugar no Concurso Chopin de 2021 e vencedor do prêmio especial “Krystian Zimerman”, abre o festival com Chopin, Liszt, Scriabin e Beethoven; em 6 de outubro – Tony Yang, um dos maiores jovens talentos do Canadá, apresenta Chopin, Mozart e Liszt; no dia 12 de outubro – Piotr Alexewicz, destaque da nova geração polonesa, interpreta Chopin, Mozart, Schumann e Liszt. Em 19 de outubro – Sophia Liu, canadense-chinesa, traz transcrições de óperas e obras de Chopin e Liszt. E, para encerrar a temporada em 26 de outubro – Jakub Kuszlik, premiado nos concursos Chopin e Paderewski, encerra com recital dedicado inteiramente a Chopin.
A presença de Chopin no Brasil vem de longa data. O afamado Concurso Chopin de Varsóvia, criado em 1927, e, dedicado exclusivamente à obra do compositor, já marcou profundamente a história do pianismo brasileiro. É um palco onde técnica, sensibilidade e coragem se encontram, e onde vários brasileiros atuaram de forma memorável.

Dentre eles destacamos: Arthur Moreira Lima, que conquistou o 2º lugar em 1965, ano que a argentina Martha Argerich levou o primeiro. Moreira Lima veio a se tornar símbolo de nosso pianismo romântico. Oriano de Almeida, apaixonado por Chopin, que dedicou a vida a difundir sua obra em recitais, gravações e programas de rádio e Diana Kacso, que brilhou com sua interpretação refinada e poética.
E há ainda outros nomes que levaram nosso país a Varsóvia: João Carlos Martins, Magda Tagliaferro (jurada em várias edições), Nelson Rubens Kunze, Jorge Coli, João Marcos Coelho, João Luiz Sampaio, Ervino José Rieger Duarte, Ingrid Rodrigues Uemura e Mateus Restani Furtado.

Também ressaltamos a participação especial de Henrique Morozowicz, o Henrique de Curitiba. Filho de poloneses participou da edição de 1960, tocando um programa ousado e refinado. Sua atuação lhe rendeu uma bolsa para estudar um ano inteiro na Polônia, experiência que moldou sua carreira como pianista e compositor, conectando de forma singular a herança polonesa e a alma musical brasileira.
O Festival Chopin que se aproxima é um ponto de encontro entre presente e passado, entre os jovens talentos de hoje e as histórias de coragem e arte que já cruzaram o palco de Varsóvia.
Como disse o pesquisador e fundador do Instituto Piano Brasileiro – Alexandre Dias:
“cada artista que interpreta Chopin no Brasil carrega não apenas o peso da tradição, mas a chance de escrever um novo capítulo para o piano”.
E, quando, em outubro, o Festival tiver início, os concertos trarão consigo, não apenas a beleza de Chopin, mas também a lembrança de tantos brasileiros que, ao longo das décadas, levaram sua música até Varsóvia. Um diálogo que segue vivo, renovando-se a cada intérprete e a cada concerto.
Ouviremos Arthur Moreira Lima interpretando o Scherzo No. 2, Op.31, em 1965, ao vivo no Concurso Chopin. Observe e entenda por que ele foi ovacionado pelo público.
Fique atento, O gênero “scherzo”, tradicionalmente leve, em Chopin assume uma carga emocional densa e quase demoníaca. A interpretação de Moreira Lima transmite essa profundidade com clareza, envolvendo o público emocionalmente. Aplaudi-lo de pé e elegê-lo como melhor interprete não foi apenas por sua técnica — mas pela capacidade de transformar um scherzo intenso e complexo em uma narrativa viva, abrindo o coração do público para sentir as tensões, as pausas e toda a dramaticidade dessa obra.