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O cenário da música camerística é enriquecido pela prática do piano a quatro mãos.  Mais do que uma expressão artística, tocar a quatro mãos representa uma motivação ímpar para pianistas e desempenha um papel fundamental no ensino do instrumento.

No final do século XVIII, início do século XIX, na Europa, testemunhou-se  as primeiras transcrições para piano a quatro mãos, tornando-se,  o principal veículo de divulgação da música sinfônica e de câmara. O sucesso dessa modalidade não apenas atingiu amadores, promovendo a prática doméstica, mas também inspirou compositores a criar obras originais para essa formação,  tradição que perdura até os dias de hoje.

Entre os expoentes contemporâneos desse cenário, destacam-se os irmãos holandeses Lucas (1993) e Arthur Jussen (1996). Provenientes de uma família onde a música é uma herança preciosa. A mãe, Christianne van Gelder, é professora de flauta, enquanto o pai, Paul Jussen, é timpanista da Orquestra Filarmônica da Rádio Holandesa.

Lucas e Arthur Jussen ainda crianças | Foto: Reprodução

Desde tenra idade, ambos os irmãos foram reconhecidos como prodígios musicais. A jornada musical dos irmãos Jussen teve início em sua cidade natal, Hilversum, onde tiveram suas primeiras aulas de piano. Essa  trajetória incluiu uma apresentação para a Rainha Beatrix da Holanda quando ainda eram crianças, e desde então, acumularam distinções e prêmios em concursos.

Em 2005 conheceram a pianista portuguesa Maria João Pires, tornando-se seus alunos nos anos seguintes, incluindo uma temporada no Brasil. Posteriormente, Lucas concluiu seus estudos com Menahem Pressler nos EUA, enquanto Arthur se formou no Conservatório de Amsterdã, sob a orientação de Jan Wijn.

A sintonia entre Lucas e Arthur é tão profunda que, nas palavras de Lucas Jussen, o mais velho dos dois:

“Não consigo me imaginar tocando com mais ninguém. É como se fôssemos uma pessoa.”

Essa conexão única transparece na sonoridade singular do duo. A abordagem enérgica e quase simbiótica ao tocar, aliada ao refinamento sonoro excepcional e interpretações envolventes, tem granjeado elogios tanto da crítica especializada quanto do público. O maestro dinamarquês, Michael Schønwandt, os comparou a dirigir um par de BMWs após regê-los.

Lucas Jussen e Arthur Jussen, vencedores na categoria Música Clássica, 2018, em Berlim | Foto: Reprodução

Lucas e Arthur Jussen têm realizado concertos com algumas das orquestras mais renomadas do mundo. Em 2023 tiveram agenda lotada e para 2024 após se apresentarem com a Orquestra Sinfônica de Boston, regida por Kazuki Yamada, no Tanglewood Festival, já confirmaram participações em prestigiosos festivais, incluindo Rheingau Musik Festival, Gstaad e Amsterdã, bem como a abertura da temporada de concertos 2023/24 em Basileia com a Sinfonieorchester.

Desde 2010, os irmãos Jussen têm gravado exclusivamente com a Deutsche Grammophon abordando grande parte do repertório tradicional para piano a quatro mãos e dois pianos. Essas gravações renderam disco de Ouro, disco de platina, bem como o prêmio do público em setembro de 2022.

Ouviremos os irmãos Jussen interpretando o Concerto para Dois Pianos de W. A. Mozart K 365 com a Orquestra Sinfônica WDR de Colónia, Alemanha sob a regência de Christian Macelaru em gravação realizada no dia 05 de novembro de 2021.

Observe a conexão e a sonoridade singular do duo nessa obra. O concerto para Dois Pianos e Orquestra K 365, foi composto em 1779 quando Mozart estava com 23 anos para interpretar com sua irmã Nannerl.   Os solistas, nessa peça, são tratados com igual importância.  Uma obra brilhante, repleta de alegria na qual os interpretes demonstram conexão e sonoridade singular.