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No mês de novembro quando se celebra, no dia 20,  o “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, honramos aqueles que desafiaram a opressão. Recordaremos a incomparável Jessye Norman (1945 – 2019), uma das mais reverenciadas cantoras de ópera contemporâneas, cujo legado ressoa além de sua voz.

Nascida em Augusta, Geórgia, em meio às tensões raciais intensas do sul dos Estados Unidos na década de 1940, Jessye Norman emergiu de uma família preta de classe média, onde a música era parte intrínseca da vida. Na igreja local, desde os quatro anos, seu talento vocal despontou, mais tarde levando-a a descobrir a ópera através de transmissões radiofônicas.

Para Jessye, as narrativas operísticas ecoavam suas próprias experiências:

Foto: Reprodução

“As histórias contadas nas óperas não eram diferentes das que eu conhecia. Um rapaz encontra uma garota, apaixona-se por ela, por alguma razão eles não podem ficar juntos e tudo se encaminha para um final triste”

Sua trajetória, moldada por uma voz imponente e expressões emocionais profundas, foi impulsionada por uma bolsa integral na Universidade Howard, seguida de estudos no Conservatório Peabody e na Universidade de Michigan.

Nada impediu a ascensão dessa artista notável. Dotada de uma presença magnética, Jessye sempre causou admiração ao interpretar papéis de nobreza na ópera, algo incomum para cantoras negras na época. Seu repertório abarcava séculos de música, desde o barroco até composições modernas, atravessando obras de Wagner, Beethoven, Berlioz, Mozart Strauss, Verdi,  dentre outros. 

Sua versatilidade a levou a explorar o jazz, gravando um álbum celebrado ao lado do pianista e compositor Michel Legrand.

As homenagens a Jessye foram inúmeras: venceu quatro prêmios no Grammy Awards, cantou nas posses de dois presidentes dos EUA, na celebração dos 60 anos da Rainha Elizabeth 2ª, nos 70 anos de Nelson Mandela, na abertura dos Jogos Olímpicos de 1996 em Atlanta e em eventos de significância histórica e humanitária.

Foto: Reprodução

Jessye Norman partiu aos 74 anos, deixando um legado imensurável no mundo da ópera e além. Sua família expressou:

“Estamos orgulhosos das conquistas musicais de Jessye e da inspiração que ela foi para plateias por todo o mundo. Estamos igualmente orgulhosos de sua humanidade e seu ativismo em causas como a fome, falta de moradia, o desenvolvimento de jovens e a educação de arte e cultura”.

Falar sobre Jessye Norman é também refletir sobre a luta contra o preconceito e o racismo. É uma lembrança que nos mantém atentos à importância de reconhecer, honrar e celebrar a  plenitude da arte negra e sua diversidade.

Jessye Norman interpreta a Rainha Dido | Foto: Reprodução

Ouviremos Jessye Norman interpretando o “O Lamento de Dido”  “When I am laid in Earth” – “Quando eu descer à terra”, da ópera Dido e Enéas, de Henry Purcell.

Uma das mais importantes obras do período barroco, essa ópera em três atos é considerada a primeira ópera nacional inglesa, tendo sido a única escrita por Purcell (1659-1695).

Observe a expressividade e o timbre inconfundível da voz de Jessye Norman. https://www.youtube.com/watch?v=jOIAi2XwuWo