Explorando os tons melancólicos de Bedrïch Smetana: um legado imortal na Música.
28 novembro 2023 às 18h01

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Em um século XIX repleto de inovações, emerge uma figura cuja luz própria iluminou não apenas a música, mas também a essência de uma nação. Bedřich Smetana (1824 – 1884), o maestro e compositor tcheco que deixou um legado musical que ressoa através dos tempos.
Nascido em 2 de março de 1824 em Litomyšl, Boêmia, Smetana não apenas dominou o piano e o violino desde a infância, mas desafiou as convenções familiares ao escolher a música como profissão. Um virtuose precoce, aos seis anos já encantava plateias com seus concertos públicos, prenunciando uma carreira musical extraordinária.
A carreira de Smetana teve seus altos e baixos, desde os primeiros estudos em Praga até os anos como músico na corte de uma família nobre, culminando com o revés da Revolução de 1848, que abalou o nacionalismo tcheco. Contudo, com o apoio do ilustre compositor húngaro Franz Liszt, sempre pronto a apoiar novos talentos, Smetana encontrou em 1856 o papel de regente da orquestra de Göteborg, na Suécia.

Ao retornar a sua terra natal em 1859, Smetana enfrentou desafios familiares, financeiros e políticos, mas não deixou de contribuir significativamente para a história da música. A tragédia pessoal também desempenhou um papel crucial em sua trajetória. A perda de seu filho Bedřiska, aos quatro anos, seguida pela de outro filho nove meses depois, mergulhou Smetana em uma profunda depressão, levando-o a dedicar-se intensamente à composição. Desse período, surge uma de suas obras mais pungentes, o Trio para violino, violoncelo e piano em sol menor, op.15.
A vida de Smetana tomou um rumo desafiador quando, aos 50 anos, em 1874, começou a perder a audição. Surpreendentemente, mesmo enfrentando surdez total a partir de outubro daquele ano, Smetana persistiu, dando à luz obras-primas como “Minha Pátria”, com o movimento mundialmente conhecido “O Moldava”, e as óperas “O Beijo”, “O Segredo” e “A Parede do Diabo”. Seu impacto é evidente na obra de sucessores como Antonín Dvořák, que trilhou os passos do “pai” da escola musical tcheca.

Smetana faleceu em 12 de maio de 1884, em um manicômio em Praga, onde seu transtorno com a surdez evoluiu para uma doença mental. Apesar desse obstáculo, Smetana, ao lado de Beethoven e Fauré, é lembrado como um dos poucos que ousaram criar em meio à total ausência de audição.
Em sua essência, Bedřich Smetana não foi apenas um músico talentoso, mas um visionário que capturou a alma de sua pátria, consolidando-se como o pioneiro incontestável da escola nacionalista musical checa.
Para mergulharmos nesse legado, ouviremos seu emocionante Trio para violino, violoncelo e piano em sol menor, op. 15, gravado ao vivo em outubro de 2021 interpretado por Christensen Chair, violino; Ani Aznavoorian, violoncelo e Gilles Vonsattel ao piano.
Uma obra que representa não apenas a maestria técnica de Smetana, mas também a profunda expressão de sua dor e resiliência. Em seu diário, Smetana reflete sobre a origem do trio, escrevendo:
“Nada pode substituir Fritzi, o anjo que a morte nos roubou”
Este é o ponto de partida para uma composição que ressoa com seriedade, os três movimentos mergulhados na tonalidade sombria de sol menor, refletindo a melancolia que envolveu o compositor após a perda de seu filho.
Observe! Ao ouvirmos essa peça magistral, somos transportados não apenas para a mente genial de Smetana, mas também para as profundezas emocionais que alimentaram sua arte.
