Falar sobre livros. Ou melhor, escrever sobre livros.

Qual outro tema me poderia ser mais familiar – e mais caro – que esse?

Mas como dizer, escrever sobre livros sem discorrer sobre livrarias de rua, esses espaços tão necessários para que uma cidade possa realmente ter sua função social de fato? Para que uma cidade tenha senso de pertencimento comunitário, onde um mundo menos desigual pode ser alcançado pelos livros?

Livrarias de rua afetam a vida intelectual da cidade, afetam a maneira como se pensa essa cidade. E, sobretudo, afetam a maneira como as pessoas veem essa cidade.

Livraria de rua, uma espécie de utopia materializada nos bairros de uma cidade, são a celebração de que os livros ainda permanecem, resistem e seguem como uma das formas de ler o mundo.

Em era de tiktokers e afins, os livros podem parecer algo irreal, utópico e até um pouco mítico, objetos defasados pela tecnologia, rapidez das informações e o proporcionamento de satisfação instantâneo. Isso, ao mesmo tempo em que os próprios tiktokers promovem os prazeres do livro físico, em ambientes “instagramáveis”.

Dessa forma, devemos pensar o essencial papel que o livro físico nos proporciona nessa era digital: a desconexão permanente e a conexão em uma boa história.

Assim, para além de todos os clichês necessários sobre, os livros nos dão outra visão de mundo. Os livros que lemos, para além da nossa memória, ficam gravados no nosso corpo, um lembrete de como a empatia pode nos fazer melhor.

Curadoria é tudo em uma livraria de bairro. Isso, por si só, já é uma declaração de amor aos livros. Cada livraria independente reflete a identidade de quem a conduz, mas principalmente, de quem a frequenta.

Dessa forma, as livrarias de rua nos fazem ir além dos mais vendidos. Esses espaços nos mostram todo um mundo de literatura independente, de editoras pequenas e fora dos circuitos tradicionais, de livros fora da nossa bolha. Livrarias independentes precisam que seus espaços sejam ocupados, que sejam transformados para continuarem a existir. Livrarias precisam ser reconhecidas para conseguir sobreviver.

Livrarias de rua estão inseridas na sociedade capitalista, mas também estão nos sonhos de cada um que resolve abri-las.

Quando falamos sobre livrarias de rua, a ideia é sempre “um dia de cada vez”. Um modelo de negócio baseado em sonhos; a maioria das pessoas que tem uma, sonharam em viver cercada de livros, como um modo de vida. Quanto mais livrarias de bairro, mais sonhadores na cidade.

Por tudo isso, continuarei acreditando na resistência das livrarias. As mínimas e sempre necessárias. A arte de ir à uma livraria, ambiente de trocas e afetos, espaço de tempo e aconchego, desejos e cafés.

Falar sobre livros. Ou melhor, passar a escrever sobre livros: sim, gosto de fazer isso. Pois muito além de sugerir frases impressas para as pessoas, quero ser capaz de fazer conexões entre pessoas e livros.

Visite uma livraria de rua. E me diga quais os motivos para lutar juntos em suas resistências.

*Natália é sócia, curadora e livreira na Livraria Palavrear. Jornalista, crítica literária e pós graduanda em escrita criativa e teoria literária.