Vilmar Rocha é um político por vocação, adepto da ética da convicção e da responsabilidade
15 março 2023 às 11h05
COMPARTILHAR
Vilmar da Silva Rocha nasceu em Niquelândia, há 72 anos. Formado em Direito, deu aulas na PUC e na Universidade Federal de Goiás (UFG).
Há quem fale que Vilmar é “professoral” e “eloquente”. A verdade é que não há mal algum em ser “professoral” e/ou “eloquente”, sobretudo quando a eloquência advém das ideias e não da pompa. O ex-deputado federal nada tem de pernóstico e aprecia conversar com quaisquer pessoas, de quaisquer classes sociais — o que lhe permite ter uma visão ampliada do que pensa a sociedade, e não apenas as elites.
Como político, Vilmar prima pela ética da convicção, pela ética da responsabilidade. O sociólogo alemão Max Weber o colocaria, num bom lugar — por exemplo, ao lado de Ronaldo Caiado, Iris Rezende, Mauro Borges, Marco Maciel, Jorge Bornhausen, Juscelino Kubitschek —, entre os políticos profissionais.
Na era dos preconceitos, da destruição pela destruição — do julgamento sem valor, talvez dissesse Hannah Arendt —, critica-se duramente os políticos profissionais. Mas todo país precisa de indivíduos que se dedicam em tempo integral à política, como se fosse um apostolado. Portanto, os políticos profissionais são bem-vindos. Muitas vezes, e não poucas vezes, sacrificam suas vidas — seu tempo — para atuar em defesa da coletividade. Já se observou que os cabelos dos indivíduos que se envolvem com política — sobretudo os gestores — ficam brancos mais cedo. Por que isto? Porque suas preocupações são multiplicadas, assim como as cobranças da sociedade.
Já se notou, na sociedade, que quem mais “apanha” são os políticos. Porque são avaliados pelos extremos, e não pela média. Caetano Veloso, o gênio da música brasileira, acertou quando disse que, de perto, ninguém é normal. De fato, um defeitinho de um político — que, visto noutro cidadão, não seria nem defeitinho — o transforma, de um momento para o outro, num monstro. Veja-se o caso do presidente Juscelino Kubitschek. Investigado rigorosamente pelos militares, foi cassado e disseminaram a ideia de que era corrupto. Tempos depois, num livro-depoimento, o presidente Ernesto Geisel, o general que desconstruiu a ditadura, admitiu que o político mineiro não era corrupto. Era tarde, claro, para JK. Mas não para a reparação histórica.
Mesmo numa sociedade que bate demais nos políticos, os bodes expiatórios de todos nós — cujos defeitos são ampliados talvez para reduzir os dos outros —, Vilmar é um político que raramente “apanha”. Há, claro, críticos “dolosos”. Mas, na média, é avaliado como um político de bem e do bem.
Recentemente, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado — outro político de rara decência —, convidou Vilmar para assumir a chefia da Casa Civil de seu governo. O presidente do PSD preferiu, porém, indicar outro aliado: o ex-deputado federal Francisco Júnior. Isto se chama descortino, falta de apego ao poder pelo poder. Vilmar e Ronaldo Caiado já se desentenderam, o que é normal no meio político, mas se respeitam. E se respeitam porque os dois sabem que são vocacionados para a política e, ainda, são decentes. Estão acima da média. Há políticos que, uma vez tendo militado no poder, são “sequestrados” pelos empreiteiros, pelos homens de negócio. Vilmar e Ronaldo Caiado escaparam disso — daí o bom nome na praça.
A história política de Vilmar Rocha
Na quarta-feira, 15, o presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, participará de um almoço com a liderança (Vilmar e outros) e deputados do PSD. Em seguida, no plenário, será feita uma homenagem-registro. Vilmar foi eleito deputado estadual, pela primeira vez, há 40 anos, em 1982, no período da redemocratização do país.
Quarenta anos é quase meio século. Isto quer dizer que Vilmar dedicou — continua dedicando (ele é um dos poucos políticos que sobrevivem, com galhardia, ao fato de não ter mandato) — a maior de sua vida à política. Arrepende-se? Não. O que prova, ainda mais, que se trata de um verdadeiro homem público, altamente vocacionado para a política.
Vilmar foi eleito deputado estadual em 1982 e 1986 e foi cinco vezes deputado federal. Inclusive, em 1993, contribuiu para a revisão da Constituição de 1988.
O ex-deputado também tem experiência com a gestão pública, pois foi presidente da Fundação de Esporte (que, a rigor, era uma secretaria) e secretário da Casa Civil e do Meio Ambiente.
Em Goiás, estruturou dois partidos: o PFL (do que foi presidente) e o PSD (do qual é presidente).
Há um detalhe interessante sobre Vilmar. Vários políticos de Goiás vão para Brasília, mas não se tornam políticos nacionais. Pois, a partir de Brasília, Vilmar se tornou um político nacional, um interlocutor privilegiado de vários políticos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel, Jorge Bornhausen, Gilberto Kassab, Guilherme Afif Domingos, entre vários outros. Ele é convocado para discutir política e ideias em vários Estados e até países (no Chile, é visto como um intelectual respeitado).
A interlocução estadual e nacional sugere que Vilmar é um hábil articulador político, desses que sabem fazer política nos bastidores e em público.
Vilmar é um grande leitor, que sabe tudo (ou quase) sobre a política dos séculos 20 e 21. E é um intelectual refinado, com livros publicados. “O Fascínio do Neopopulismo”, publicado no Brasil e no Chile, é uma análise percuciente de um dos maiores fenômenos da política — o populismo, com suas variações.
Aos 72 anos, Vilmar permanece com uma imagem jovial, uma “rocha”. Pode-se até não gostar dele — e pouquíssimos não o apreciam —, mas é difícil, muito difícil, deixar de respeitá-lo como um político de méritos, uma referência.