Advogado de Mauro Cid usa a imprensa para negociar em favor de seu cliente, e a imprensa se deixa utilizar. Na noite da quinta-feira, 17, o criminalista Cezar Bitencourt conseguiu emplacar uma manchete na Revista Veja ao afirmar que seu cliente, o tenente-coronel que era ajudante de ordens do presidente, iria delatar Jair Bolsonaro (PL). A informação foi checada por Folha e Globo, e repercutida por todos os demais jornais do país. 

Menos de 12 horas depois, entretanto, Bitencourt encaminhou a jornalistas uma mensagem em que afirma que Cid “tem várias alternativas”, sinalizando que pode dar outro rumo ao caso. De toda forma, o saldo ficou para a defesa do tenente-coronel, e a perda de credibilidade ficou com a imprensa. 

Cezar Bitencourt usou os jornais para dar o recado de que Mauro Cid não deve ser abandonado. A provocação causou calafrios nas Forças Armadas, que têm um general envolvido no caso, e no próprio ex-presidente, que se pronunciou sobre a possibilidade de delação. Bolsonaro classificou a atitude como “kamikaze”. 

Em termos concretos, na quinta-feira, a Veja noticiou que teria uma notícia em breve. A Revista não tinha a confissão de Cid, apenas a promessa de que a confissão viria a existir. Por meio deste mero recado, Cezar Bitencourt realizou seu desejo de impedir que os demais investigados culpem seu cliente por todo o caso das jóias, e ainda economizou a munição. 

Quando Pedro Collor denunciou o irmão, então presidente da República, há mais de 20 anos, o jornalista Luís Costa Pinto, da mesma Veja, precisou de uma declaração completa gravada. Hoje, pega pelo ritmo acelerado da internet e da torrente de notícias negativas para Jair Bolsonaro, a Veja queimou a largada.