Últimas palavras de 13 grandes escritores: Joyce, Jane Austen, Kafka, Emily Dickinson, Byron, Thoreau…

18 novembro 2023 às 16h38


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Prestes a morrer, as pessoas quase sempre dizem algumas palavras, às vezes com clareza, outras vezes de maneira desconexa. O jornal “Abc”, de Madri, publicou as últimas palavras de 13 grandes escritores. Autor de “Walden” (muito bem traduzido para o português por Denise Bottmann), Henry Thoreau, o “pai” da desobediência civil, disse “alce” e “índio”, mas sem apresentar um mínimo de contexto. Considerando que era apaixonado pela natureza, suas palavras certamente têm a ver com aquilo que apreciava e/ou admirava. Gênios literários são assim: com duas palavras, com ou sem conexão, costumam costurar uma grande obra.
1
James Joyce
“Ninguém me entende?”

Escritor de uma lucidez e de uma lógica espantosas, consta que, nas proximidades da morte (ocorrida em decorrência de uma cirurgia malfeita), o escritor irlandês James Joyce (1882-1941) estava meio maluco. Parece que achava que o nazista Adolf Hitler havia começado a guerra para atrapalhar a repercussão de “Finnegans Wake” (sua obra mais complexa). Seu livro mais famoso é “Ulysses” (que ganhou três traduções no Brasil. E vai sair outra, em breve). Morreu aos 58 anos.
2
Jane Austen
“Só quero morrer.”


Esta foi a resposta da autora de “Razão e Sensibilidade” quando, pouco antes de morrer, suas irmãs perguntaram-lhe o que queria. Jane Austen (1775-1817), escritora britânica, contava 41 anos.
3
Franz Kafka
“Mata-me! Ou serás um assassino!”

As últimas palavras do autor de “A Metamorfose” e “O Processo” foram para um médico que não queria dar-lhe uma dose letal de morfina. Ele estava morrendo de tuberculose e mal conseguia falar. O tcheco Kafka (1883-1924), que escrevia em alemão, morreu aos 41 anos.
4
Charlotte Brontë
“Não vou morrer. É verdade? Ele não nos separará. Nós somos muito felizes.”


A escritora britânica Charlote Brontë (1883-1924) estava casada havia nove meses quando faleceu, aos 38 anos, de câncer. É autora do romance “Jane Eyre”.
5
Truman Capote
“Sou eu, sou Buddy… Tenho frio.”


Buddy era como chamavam o autor de “A Sangue Frio” quando ele era menino. Truman Capote (1924-1984) morreu aos 59 anos. Em 2024, no próximo ano, os Estados Unidos comemoram seu centenário de nascimento. No mesmo ano fará 40 anos que um dos inventores do romance não-ficção morreu.
6
Emily Dickinson
“Eu devo ir, o nevoeiro está aumentando.”

A poeta norte-americana sofreu severos desmaios e esteve prostrada, em sua cama, nos últimos sete meses de vida. Emily Dickinson (1830-1886) dizia que publicar era leiloar a consciência mas disse também, num poema, que a posterioridade poderia consagrá-la, como aconteceu. Ela escreveu quase 2 mil poemas e publicou menos de dez deles em vida. Sua poesia está traduzida no Brasil, na íntegra, graças ao esforço hercúleo de Adalberto Müller. Viveu 55 anos.
7
Liev Tolstói
“Amo tantas coisas, tanta gente…”.

Em seus últimas dias, o autor de “Guerra e Paz”, “Anna Kariênina” e “A Morte de Ivan Ilitch” (a novel teria provado a separação da cantora Sandy com o músico Lucas Lima) deixou sua casa e viveu entre gente do povo. Liev Tolstói (1828-1910) viveu 82 anos.
8
Anton Tchékhov
“Faz muito tempo que não bebo champanhe…”.

Pouco antes de morrer, em seu leito, o autor da peça teatral “Tio Vânia” e de contos fabulosos (é um dos inventores do conto moderno) pediu morfina e champanhe ao seu médico. Tchékhov (1860-1904) morreu aos 44 anos.
9
Eugene O’Neill
“Eu sabia, eu sabia… Nasci num quarto de hotel e morrerei num quarto de hotel.”


O autor de “Longa Viagem Noite Adentro” morreu de pneumonia, depois de padecer de uma enfermidade semelhante ao Mal de Parkinson, doença que o impediu de escrever durante anos. Eugene O’Neil (1888-1953) viveu 65 anos.
10
Henry David Thoreau
“Alce americano… Índio.”


Não se sabe o que o autor de “Walden” quis realmente dizer com suas últimas palavras. Talvez seja mais uma referência à natureza, que amava. Ou talvez um micro roteiro para uma história pensada mas não escrita, Henry Thoreau (1817-1862) morreu aos 44 anos, ainda jovem. Deixou também outra obra magnífica, “Caminhada” (Antígona, 88 páginas, tradução de Maria Afonso), além do clássico sobre desobediência civil (que influenciou, entre outros, Gandhi).
11
Lewis Carroll
“Afasta essas pastilhas. Não preciso mais delas.”


O autor de “Alice no País das Maravilhas” foi poeta, matemático e fotógrafo. Sua poesia extraordinária ganhou tradução escorreita de, entre outros, Sebastião Uchoa Leite, Álvaro A. Antunes e Augusto de Campos (“Caça ao Turpente”) são tradutores exímios de sua poesia. Lewis Carroll (1832-1898) viveu 65 anos.
12
J. M. Barrie
“Não posso dormir.”


Pouco antes de morrer, J. M. Barrie (1860-1898) cedeu os direitos de “Peter Pan” ao Hospital Great Ormond Street, de Londres, que continua beneficiando-se dos direitos autorais. James Mattew Barrie viveu 77 anos.
13
Lord Byron
“Agora eu irei dormir.”


O autor de “As Peregrinações de Childe Harold” morreu na Grécia — vítima de uma febre —, enquanto lutava contra os otomanos. Trata-se de um poeta que reverberou e ainda reverbera na poesia de todo o mundo. George Gordon Byron (1788-1824) não parecia apenas uma poeta, mas uma multidão de poetas num só indivíduo. Viveu 36 anos, mas parece ter vivido 100 anos. Talvez a intensidade de sua curta vida. Em 2024, os ingleses comemoram o centenário de seu nascimento (ele nasceu em Londres).