TV Globo está em crise? A rede investiu 6,5 bilhões de reais em 2022
23 abril 2023 às 00h00
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Jornalistas, jornais, revistas, sites, emissoras de rádios e televisão se tornaram notícia. Há sites especializados não mais em analisar a qualidade editorial das publicações, e sim em expor bastidores da mídia — demissões, contratações e, até, quem está ficando com quem.
Nos últimos dias, a principal notícia são as demissões na TV Globo de jornalistas experimentados. Eles estão sendo afastados, de acordo com o que se publica, não por deficiência profissional, e sim por causa de seus salários, que estariam acima dos praticados pela concorrência. Informa-se que repórteres dificilmente terão salários 80 mil a 100 mil reais — e nenhum mais será buscado a peso de ouro na concorrência. Os salários iniciais ficarão entre 12 mil e 20 mil reais. É o que se comenta, publicamente ou nos bastidores.
Há informações corretas e, também, muita fofoca, como se os sites quisessem sair na frente dos outros com notícias que, apresentadas como exclusivas, nem mesmo, por vezes, são notícias. Há grosserias sem fim. Recentemente, ao ser contratada pela Jovem Pan, Dora Kramer foi incluída entre os medalhões da imprensa. A nota maliciosa não explicita claramente, mas o subtexto é o de sempre: a profissional estaria “superada”. Estaria mesmo? De maneira alguma. Trata-se de uma analista política de primeira linha, e não é preciso concordar com tudo o que escreve para admitir isto.
Retomando a questão da TV Globo: procede que está em crise? Tu indica que não. Ou pelo menos não o tipo de crise que se comenta tradicionalmente. O mais provável é que está contendo custos, a ferro e fogo, para se manter competitiva num mercado onde a concorrência é cada mais vez mais acirrada.
Antes, na comunicação, era preciso ser grande — até muito grande. Daí as estruturas pesadas da Globo como dos jornais — como “Folha de S. Paulo”, “Estadão” e “O Globo”.
Hoje, estruturas mais enxutas têm mais condições de se manter mais competitivas no mercado — que, deixando de ser meramente local ou nacional, se tornou internacional.
A batalha da Globo não é mais contra Record, Band e SBT — que vencia com as mãos nas costas —, e sim com Netflix, Amazon Prime, e tantos outros.
Ao mesmo tempo, há outro tipo de concorrência, como as redes sociais, como Instagram e Facebook. O YouTube também oferece concorrência sólida. A internet oferece vários tipos de entretenimento, assim como múltiplos jogos interativos. Os celulares “tomaram” milhões de telespectadores da televisão e um dos desafios dos criadores da Globo e outras redes é apresentarem-se bem, com várias opções, nas pequenas telas dos celulares. Será possível? Em parte, sim.
Há um mundo novo batendo à porta e vai sobreviver quem tiver estruturas menores, eficazes e criativas. A Globo está fazendo o seu dever de casa — cortando no osso. Portanto, não deve sucumbir.
Recentemente, o publicitário e roteirista Vitor Peccoli publicou um texto, “Em meio a demissões, Globo tem informação revelada: ‘5 bilhões’”, no portal Terra. O que está ocorrendo é o seguinte: a Globo está cortando custos e mantendo e, até, ampliando seus investimentos.
De acordo com Vitor Peccoli, a Globo, ao falar em “Do plim ao play: vamos juntos fazer acontecer?”, informou que vai investir ainda mais em criações artísticas. O diretor de Produtos e Serviços Digitais, Erick Brêtas, explicou o incentivo da Globo ao mercado de audiovisual do país, por meio de “parcerias com diferentes representantes do setor”.
“No último ano investimentos 5 bilhões de reais em talentos, direitos e produção de conteúdo. Cerca de 1,5 bilhão em tecnologia. Produzimos, junto com vocês, nossos parceiros, mais de 1020 horas de histórias inéditas. E se olharmos só para a Globo, foram 27 mil horas de produções inéditas em nossos canais e plataformas. Temos muito orgulho dessas conquistas. Contar histórias é nossa razão de existir”, disse Erick Brêtas, durante o Rio2C (maior Encontro de Criatividade da América Latina).
O diretor da TV Globo, Amauri Soares, disse que a rede ampliou seu olhar para a diversidade. “No ano passado, nesse palco [o do Rio2C], falei de Brasil. Do nosso olhar para a sociedade brasileira, que alimenta o nosso processo criativo, de onde a gente extrai as nossas histórias”.
“Falamos de diversidade religiosa e agora estamos no ar com uma novela que tem uma protagonista evangélica e que fala sobre essa diversidade; da diversidade regional, da importância dos sotaques, e estamos com uma novela das seis que se passa em Minas Gerais, uma das sete no Rio de Janeiro, uma das nove no Maranhão e uma próxima que se passará no Mato Grosso do Sul”, informou Amauri Soares.
Se a Globo estivesse só cortando, sem manter os investimentos, aí seria preocupante. Noutras palavras, a maior rede do país está informando que pretende seguir no mercado e que vai se tornar mais competitiva na arena global (para além do nacional, que se tornou mundial, dada a oferta de produtos culturais e entretenimento de vários países). É sinal também que não está enxugando, como alguns sugerem, para vender. O que se depreende é que está se tornando “menor” — em termos de estrutura e custos — para permanecer “grande”.