Fotos: Reprodução
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Ainda sobre as capas de “O Popular”: uma única chamada ocupou a metade superior da capa do jornal na quinta-feira, 10. Na verdade, era o principal tema, de fato, da primeira página — a manchete convencional ficou escondida na chamada “dobra de baixo”, menos valorizada, e tratava da liberação de recursos pelo Estado a prefeitos de municípios goianos no limite do prazo legal admitido pela legislação eleitoral.

O título da nota tinha um viés depressiva: “Mais um dia triste”. O “mais”, todos entendiam, era uma alusão indireta à manchete do dia anterior, a quarta-feira em que todos os jornais estamparam a “tragédia” da eliminação da seleção da Copa organizada pelo Brasil — “tragédia” deveria ter sempre aspas quando se referisse a futebol.

Mas o que poderia seria tão triste nesse dia seguinte a ponto de merecer tal destaque? A despedida de outra personalidade da importância histórica de Plínio Arruda Sampaio, cuja morte ofuscada justamente pela derrota acachapante no Mineirão? Um acidente de grande porte com um ônibus ou um avião? Um terremoto com milhares de vítimas?

Nada disso. A foto da chamada mostra jogadores vestidos de azul e branco arrancando para uma corrida em festa. O primeiro à esquerda é Messi e o grupo é o da seleção argentina comemorando a classificação, nos pênaltis, para a final da Copa do Mundo. O texto completo: “Mais um dia triste — O constrangimento da torcida brasileira ao assistir o fracasso da seleção, humilhada por 7 a 1 pela Alemanha, anteontem, teve uma segunda dose de tristeza e dor ontem: a seleção argentina, rival histórica no futebol, vai fazer a final no Maracanã após eliminar a Holanda. Muitos brasileiros já repetem que são ‘Alemanha desde pequenininhos’.”
Compreende-se que sair de uma competição de tal envergadura cause abatimento e desolação. O que não pegou bem foi qualificar o dia seguinte de “triste” simplesmente pelo fato de os argentinos terem feito sua parte, ainda que chegando à final da Copa praticando um futebol indigno de sua história e primando pelo antijogo — o que, no entanto, é assunto para outra pauta.

Foi uma espécie de humor negro às avessas: em vez de zoar algo sério, fez-se um chiste de seriedade sobre algo que nada mais é que entretenimento. A “gracinha” do jornal talvez caísse bem em uma publicação de linha irreverente, talvez no próprio tabloide “Daqui”, também do Grupo Jaime Câmara, mas ficou desnecessária, forçada e totalmente fora do padrão de sobriedade que “O Popular” evoca. É um risco que corre quem quer descontraído, mas não está acostumado a isso.

Foi com certeza uma manchete infeliz na história do jornal, que alguns dias antes havia acertado na mosca ao dividir a página entre a alegria pela classificação diante da Colômbia e a tristeza pela perda de Neymar: “Do riso fez-se o pranto”, o título, foi destaque nacional e apresentado com elogios em programas matutinos de canais esportivos País afora.

Nem sempre se pode acertar. Mas é possível evitar desgastes desnecessários. Com seu segundo “dia triste”, o Pop errou duas vezes. Primeiro, por ignorar que há um contingente de argentinos em Goiás e outro, bem maior, de simpatizantes da seleção argentina, e que grande parte deles são leitores do jornal, o maior do Estado; e, em segundo lugar, por fazer troça usando manchete séria para um assunto fútil — embora o futebol seja “a mais importante entre as coisas menos importantes”, como disse o técnico Arrigo Sacchi, quando dirigia a vice-campeã Itália na Copa de 1994.